DA OUSADIA, DA HESITAÇÃO E DA PRUDÊNCIA 

 

OS  DOIS  AVENTUREIROS

( da ousadia e da hesitação )

 

O caminho do prazer não leva à glória!   Os prodigiosos feitos hercúleos foram resultados de muita aventura e embora quase nada exista, na fábula ou na história, que mostre que ele tivesse rivais, ainda assim está registrado que um cavaleiro errante, na companhia de um amigo aventureiro, buscou fortuna num país romântico.

 

Não tinha ido muito longe quando seu companheiro observou um poste no qual estava escrito o seguinte: “Bravo aventureiro, se desejar descobrir  o que um cavaleiro errante jamais viu tem apenas que atravessar  esta  torrente e levar nos braços um elefante de pedra e transportá-lo de um só fôlego até o alto da montanha, cujo nobre topo parece se confundir com o céu.”  “Mas”, disse o companheiro do cavaleiro, “as águas podem ser tão profundas quanto rápidas, e embora tenhamos que atravessá-las, por que devemos nos sobrecarregar com o peso de um elefante?  Que trabalho absurdo!”

 

E filosoficamente calculando bem, observou que o elefante poderia ser carregado quatro passos; mas levá-lo até o topo da montanha de um só fôlego não estava no poder de um mortal, a não ser que fosse um elefante anão, para ser colocado na ponta de um palito e aí que mérito haveria nessa aventura?  O argumentador, então, partiu. Mas o aventureiro apressou-se a atravessar as águas de olhos fechados, nem a profundidade, nem a violência o impediram, e segundo a inscrição ele viu o elefante deitado na outra margem.  Ele o pegou e carregou até o topo da montanha, onde viu uma cidade. Um guincho do elefante assustou a cidade, que se armou enfurecida, mas o aventureiro, nem um pouco intimidado, estava resolvido a morrer como herói.  O povo, entretanto, ficou pasmo com a sua presença e ele ficou atônito ao ouvir que o proclamavam sucessor do seu rei, morto recentemente.

 

Alguns grandes feitos são alcançados somente pelos espíritos aventureiros.  Aqueles que calculam com demasiada precisão todas as dificuldades e obstáculos que poderão surgir no seu caminho, perdem na hesitação um tempo que os mais ousados usam para propósitos mais elevados.

 

Jean  de La Fontaine, 1621 – 1695

 

INTERPRETAÇÃO

 

Fazendo as coisas pela metade e de modo desanimado você cava mais fundo a sua sepultura. Se você começa a agir sem estar totalmente confiante, estará colocando obstáculos no seu próprio caminho. Se surgir um problema, você ficará confuso vendo opções onde elas não existem e criando, sem perceber, mais problemas ainda.

 

A hesitação cria lacunas, a coragem as desfaz. Quando você para para pensar com muita hesitação, cria uma lacuna que dá aos outros tempo para pensar também. Sua timidez contagia as pessoas com uma estranha energia criando constrangimento. A dúvida  surge de todos os lados.  A coragem desfaz essas lacunas. A energia da ação não dá espaço para dúvidas e preocupações.

 

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Ponha-se a trabalhar sempre com prudência mas sem receio de erros. O medo do fracasso na mente de quem age já é, para o observador, evidência de fracasso... Ações são perigosas quando há dúvida quanto a sua sensatez; seria mais seguro não fazer nada.

 

Baltasar Gracián, 1601 – 1658

 

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ALERTA:

 

HAJA COM CORAGEM E OUSADIA MAS NUNCA SE ESQUEÇA DA PRUDÊNCIA

 

Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

 

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Muitas vezes haveis de ver alguns que não têm medo da morte nem de nada, e nem assim podem se chamar de ousados, porque não conhecem o perigo, vão como insensatos onde vêem o caminho e não pensam mais; isso provém de uma certa grosseria de espíritos obtusos; por isso não se pode dizer que um louco seja corajoso; mas a verdadeira magnanimidade advém de uma deliberação própria; de uma vontade determinada de agir assim e de estimar mais a honra e o dever do que todos os perigos do mundo; e, embora saiba que a morte é inevitável, ser tão firme de coração e espírito, que os sentimentos não fiquem impedidos nem se assustem, mas façam seu trabalho quanto a discorrer e pensar, como se estivessem em repouso absoluto.

 

Deste gênero vimos e ouvimos que foram muitos os grandes homens e mulheres, os quais nos séculos passados e no presente, demonstraram grandeza de espírito e deram ao mundo exemplos dignos de infinitos louvores.

 

Segmento de texto extraído do livro “O Cortesão” do autor Baldessare Castiglione, 1478 – 1529

 

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OS  DOIS SAPOS

( da prudência )

 

Dois sapos viviam na mesma lagoa. Quando ela secou com o calor do verão, eles saíram em busca de outro lar. No caminho, passaram por um poço profundo e cheio de água. Ao vê-lo, um dos sapos disse para o outro: “Vamos descer e fazer a nossa casa neste poço, ele nos dará abrigo e alimento. “O outro, mais prudente respondeu: “mas, e se faltar água, como sairemos de um lugar tão fundo?” Não faça nada sem pensar nas consequências.

 

ESOPO, SÉCULO 6 a.C

 

INTERPRETAÇÃO

 

O imprudente  segue o coração, não a cabeça. Seus planos são vagos e, diante de obstáculos, eles improvisam.  Mas a improvisação só levará você até a próxima crise e não substitui, jamais, a previsão das próximas etapas e o planejamento até o final, sobretudo a prudência de ver o perigo à distância.

 

O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

 

DA IMPRUDÊNCIA

 

Balboa tinha um sonho, conquistar a glória e a riqueza, e um vago plano para realizá-lo. No entanto, seus feitos corajosos e a sua descoberta do Pacífico foram em grande parte esquecidos, pois ele cometeu o que no mundo do poder é um grave pecado: ficou no meio do caminho, deixando a porta da imprudência aberta para os inimigos entrarem.  Um verdadeiro homem de poder teria tido a prudência de ver o perigo à distância - os rivais que desejariam dividir as conquistas, os abutres que apareceriam rondando assim que ouvissem a palavra "ouro".

 

Balboa deveria ter guardado segredo do que sabia sobre os Incas até conquistar o Peru. Só então a sua riqueza e a sua cabeça estariam a salvo. Assim que Pedrarias entrou em cena, um homem de poder e prudência teria tramado matá-lo ou prendê-lo, e se apoderar do exército que ele tinha trazido para conquistar o Peru. Mas Balboa era prisioneiro do momento, sempre reagindo emocionalmente, jamais pensando com antecedência.

 

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Existem poucos homens – e são a exceção – capazes de pensar e sentir além do presente momento.

 

CARL VON CLAUSEWITZ, 1780 – 1831

 

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Veja o desfecho, não importa o que esteja considerando. Com frequência, Deus permite a um homem um vislumbre de felicidade para, em seguida, arruiná-lo totalmente.

 

HERÓDOTO, SÉCULO 5 a.C

 

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A experiência mostra que, prevendo com bastante antecedência os passos a serem dados, é possível agir rapidamente na hora de executá-los.

 

CARDEAL RICHELIEU, 1585 - 1642

 

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Os Deuses no Olimpo olhando as ações humanas lá de cima das nuvens antevêem o desfecho de todos os grandes sonhos que levam à ruína e à tragédia e riem da nossa incapacidade de ver além do momento presente e de como nos iludimos.

 

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Não entrar é tão mais fácil do que ter de sair ! devemos agir ao contrário do junco que, ao primeiro despontar, lança uma haste longa e reta mas depois, como que exausto... faz vários nós densos, indicando que não possui mais o vigor e o impulso original. É melhor começar gentil e tranquilamente, poupando o fôlego para o embate e os golpes vigorosos para concluir o nosso trabalho. No início, nós é que orientamos os negócios e os mantemos em nosso poder; mas, frequentemente, uma vez colocados em ação, são eles que nos guiam e nos arrastam

 

MONTAIGNE, 1533 - 1592

 

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Texto compilado extraído  de livro dos autores Robert Greene  e  Joost Elffers