O  EFEITO ESPELHO

 

Olhando o nosso reflexo no espelho vemos a imagem de nós mesmos que achamos agradável. Tendemos a não olhar muito de perto a fim de ignoramos rugas e espinhas. Às vezes sentimos que estamos nos vendo como os outros nos veem, como uma pessoa entre outras pessoas, um objeto e não um sujeito.  Ao usar o Efeito Espelho recriamos simbolicamente este poder perturbador. Espelhando as ações dos outros, imitando seus movimentos  forçamos  o outro a tomar do seu próprio remédio , a se sentirem  ridicularizados, clonados, como um objeto, uma imagem sem alma.

 

O EFEITO  MORAL

 

O Poder do argumento verbal é extremamente limitado, e quase sempre resulta no oposto do que se pretendia.

 

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A verdade em geral é vista, raramente ouvida

 

Baltasar Gracian

 

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O efeito moral é a maneira de demonstrar suas ideias por meio de ações. Você faz os outros tomarem do próprio remédio. Você espelha o que as outras pessoas fizeram para você de tal forma que percebam que você está fazendo com elas o mesmo que elas fizeram com você.  Ao sentirem o resultado de suas ações refletidas de volta, elas percebem mais profundamente como ofenderam os outros com seu comportamento anti-social. Você objetiva as qualidades das quais deseja que elas se envergonhem e cria um espelho onde poderão ver suas tolices e aprender uma lição sobre si mesmas.

 

O MERCADOR E SEU AMIGO

 

Um certo mercador desejava muito fazer uma longa viagem. Mas como não era muito rico, pensou: “Antes de partir, é necessário que eu deixe parte de meus bens na cidade, para que me acontecendo alguma desgraça durante a viagem, eu ainda tenha com que viver ao voltar para casa.” Com este propósito, ele entregou uma boa quantidade de barras de ferro, quase toda a sua fortuna, nas mãos dos seus amigos, pedindo para guardá-las durante a sua ausência. E, despedindo-se, partiu.

 

Tempos depois, não tendo tido sucesso nas suas viagens, ele voltou para casa. E a primeira coisa que fez foi procurar o amigo e pedir de volta o seu ferro. Mas o amigo, que devia muito dinheiro e tinha vendido o ferro para pagar as suas dívidas, respondeu: Na verdade, meu amigo, tranquei bem seu ferro num quarto junto com o meu ouro, imaginando que ali ficaria seguro. Mas aconteceu um acidente que ninguém esperava. Um rato comeu tudo.  O mercador, fingindo-se de ignorante, retrucou: Que azar, mas há muito sei que os ratos adoram ferro. Já me fizeram sofrer muitas vezes por causa disso, portanto posso suportar melhor a minha atual aflição.

 

Esta resposta agradou muito ao amigo, que ficou feliz em ver o outro tão disposto a acreditar que um rato  tinha comido o seu ferro. Mas, a fim de eliminar qualquer suspeita, convidou-o para jantar no dia seguinte. O mercador prometeu que iria, mas, nesse meio tempo, encontrando na cidade um dos filhos do amigo, levou-o para a sua casa e o trancou num quarto. No dia seguinte, ele foi ver o amigo que estava aflitíssimo e perguntou qual era a causa de tanta angústia, como  se não soubesse de nada. “Oh, meu caro amigo, respondeu o outro, peço-lhe que me desculpe se não estou tão animado quanto deveria estar. Perdi um dos meus filhos. Mandei tocar as trombetas para chamá-lo, mas não sei o que foi feito dele.” Eis que respondeu o mercador: “Oh, isso muito me entristece; pois ontem à noite, quando saí daqui, vi uma coruja voando com uma criança nas garras; mas não posso dizer se era o seu filho.” Replicou o amigo, “Ora que sujeito tolo e ridículo!, não se envergonha de tão deslavada mentira? Uma coruja que não pesa mais de um quilo ou um quilo e duzentos, como pode carregar um menino com mais de vinte e dois? Por que tanto espanto?, atalhou o mercador. Como se num pais onde um rato pode comer cem toneladas de ferro, seria de surpreender que uma coruja conseguisse carregar uma criança com pouco mais de vinte e dois quilos!

 

O amigo, ouvindo isso, percebeu que o mercador não era assim tão tolo, implorou o seu perdão pela mentira pregada, devolveu-lhe o valor do seu ferro e teve o filho de volta.

 

HISTÓRIAS, PILPAY, ÍNDIA, SÉCULO IV

 

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Texto extraído de livro dos autores Robert Greene e Joost Elffers