O MESTRE DA LUTA ROMANA
Era uma vez um mestre de luta romana versado em 360 golpes.
Ele passou um certo tempo ensinando 359 a um aluno por quem tinha preferência. Nunca chegou a lhe ensinar o último golpe.
Passaram-se alguns meses e o jovem já estava tão perito nessa arte que vencia todos que ousassem enfrentá-lo. Ela estava tão vaidoso da sua capacidade que um dia se vangloriou na frente do sultão dizendo que derrotaria facilmente o seu mestre, não fosse o respeito por sua idade e a gratidão por sua tutela.
O sultão ficou enraivecido com esta irreverência e ordenou que fosse realizada uma competição imediatamente, a que toda a corte real assistiria.
Ao soar do gongo, o jovem avançou gritando, e foi recebido com o golpe número 360. O mestre agarrou o seu ex-aluno, ergueu-o sobre a cabeça e o atirou ao chão. O sultão e a assembleia aplaudiram entusiasticamente. Quando o sultão perguntou ao mestre como ele tinha conseguido vencer um adversário tão forte, o mestre confessou que tinha reservado uma técnica secreta para ele mesmo usar em tal situação.
Em seguida, contou o lamento de um mestre arqueiro que ensinou tudo que sabia. “Todos os que aprenderam comigo a arte do arco e flecha, queixou-se o pobre sujeito, acabaram tentando me usar como alvo”.
UMA HISTÓRIA DE SAADI, CONFORME CONTADA EM A ARTE DO PODER.
R.G.H. SIU, 1979
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CUIDADO COM AS CONTRADIÇÕES DOS OUTROS
Trata-se de um bom ardil para sondar os outros:
eles se comprometem e nós não nos envolvemos em nada.
A contradição é um estimulo que faz as paixões se abrirem.
Mostrar descrenças faz as pessoas vomitar seus segredos; eis a chave para os peitos mais cerrados.
Com extrema sutileza, pode-se sondar a vontade e o discernimento dos outros.
O pouco caso sagaz a uma palavra que o outro envolveu em mistério dará caça aos segredos mais profundos, fazendo-os pouco a pouco chegar-lhes à língua, de onde podem ser capturados pelas redes do engano ardiloso.
A hesitação do cauteloso faz os outros perderem a cautela e descobrir seus sentimentos; de outra forma o coração permaneceria inescrutável.
Fingir dúvida constitui a melhor gazua que sua curiosidade pode ter; descobrirá tudo o que quiser.
Mesmo no aprender, é um estratagema o aluno contradizer o mestre, que se empenhará para explicar e fundamentar a verdade.
Desafie alguém moderadamente e seu ensinamento será mais completo.
BALTAZAR GRACIÁN
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NUNCA REVELE OS ESTRATAGEMAS FINAIS DE SUA ARTE
Os grandes mestres são sutis na forma de revelar suas sutilezas.
Conservam assim sua superioridade e mestria.
Use a arte ao comunicar sua arte.
Não esgote as fontes de ensinamentos ou revelação.
Assim se preservam a reputação e a dependência.
No ensinar, assim como no agradar, deve-se utilizar aquela grande lição:
ir alimentando a admiração e elevando a perfeição pouco a pouco.
A discrição é grande regra para viver e vencer, principalmente nos cargos mais elevados.
BALTAZAR GRACIÁN
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"A gratidão é um fruto de uma grande cultura que não se encontra entre homens vulgares"
Samuel Johnson
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Muita gente pensa que um principe sábio deveria incentivar astuciosamente uma inimizade, de forma que, ao eliminá-lo, ele possa aumentar a sua grandeza. Os príncipes, especialmente os novos, encontraram mais fé e utilidade naqueles homens a quem no início do seu poder viam com suspeita do que naqueles em quem começaram confiando. Pandolfo Petrucci, príncipe de Siena, governou seu Estado mais com aqueles de quem desconfiava do que com os outros.
Nicolau Maquiavel, 1469 - 1527
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Um brâmane, grande especialista nos Vedas e que também foi um ótimo arqueiro, oferece os seus serviços ao seu bom amigo que agora é o Rei. O brâmane grita ao ver o rei: " Reconheces-me , meu amigo!" O Rei lhe responde com desprezo e depois explica: "Sim, já fomos amigos, mas nossa amizade se baseava na situação que tínhamos ....eu era seu amigo, bom brâmane, porque era do meu interesse. Nenhum pobre é amigo do rico; nenhum tolo, do sábio; nenhum covarde, do corajoso. Um velho amigo - quem precisa dele? Só dois homens de igual riqueza e berço ficam amigos.
MAHARABARATA - Século III a.C
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Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer.
Tácito - 55 - 120 d.C
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DO PERIGO DA INGRATIDÃO
Sabendo o que pode acontecer se você colocar o dedo na boca de um leão, é melhor não fazê-lo. Com amigos você não terá tanta cautela e, se os contratar, eles o comerão vivo com a sua ingratidão. O sábio lucra mais com seus inimigos do que o tolo com seus amigos.
Baltasar Gracián, 1601 - 1658
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Não deixe que ninguém saiba exatamente do que você é capaz. O homem sábio não permite a ninguém sondar a fundo os seus conhecimentos e as suas habilidades, se quiser ser respeitado por todos.
Ele permite que sejam conhecidos, mas não que sejam compreendidos. Ninguém deve conhecer a extensão das suas habilidades, para não se desapontar.
A ninguém ele dá oportunidade de compreendê-las totalmente. Pois suposições e dúvidas quanto a extensão dos seus talentos evocam mais respeito do que saber precisamente até onde eles vão, para que sejam sempre excelentes.
BALTASAR GRACIÁN, 1601 – 1658
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Existem poucos homens – e são a exceção – capazes de pensar e sentir além do presente momento.
CARL VON CLAUSEWITZ, 1780 – 1831
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Veja o desfecho, não importa o que esteja considerando. Com frequência, Deus permite a um homem um vislumbre de felicidade para, em seguida, arruiná-lo totalmente.
HERÓDOTO, SÉCULO 5 a.C
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A experiência mostra que, prevendo com bastante antecedência os passos a serem dados, é possível agir rapidamente na hora de executá-los.
CARDEAL RICHELIEU, 1585 - 1642
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Os Deuses no Olimpo olhando as ações humanas lá de cima das nuvens antevêem o desfecho de todos os grandes sonhos que levam à ruína e à tragédia e riem da nossa incapacidade de ver além do momento presente e de como nos iludimos.
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O Pastor e o Lobo
Certa vez um Pastor encontrou um filhote de Lobo e o apanhou para criar. Depois de um tempo ensinando-o a roubar os cordeiros dos rebanhos vizinhos, O Lobo mostrou-se um hábil aluno. Um dia o Lobo falou ao Pastor: "Considerando que você me ensinou a roubar, mantenha olho vivo e aguçado ou perderá alguns cordeiros do seu próprio rebanho”.
Moral:
A fábula conta-nos da imprevidência. Uma destas é o de ensinar ou repassar defeitos, imperfeições graves, tendências ou deformação moral. A disposição natural para praticar o mal e cometer ações contra a moral, o agir depravado, deve ser curado e não ensinado.
A simplicidade da fábula nos ensina que:
"Tudo que ensinamos podem ser praticados contra nós mesmos."
INTERPRETAÇÃO
Cuide do seu talento e cuidado a quem você ensina os seus truques ou eles poderão ser usados contra você.
Fazendo um analogia com o mundo dos negócios, se você deixa vazar informações sigilosas, estará dando aos outros idéias que poderão usar contra você, aí é perdido o benefício do silêncio.
Tendemos a querer que o mundo saiba o que fizemos - queremos recompensar a nossa vaidade conquistando aplausos por nosso esforço e brilhantismo, e até mesmo queremos simpatia pelas horas que levamos para fazer a nossa obra-prima. Aprenda a controlar esta tendência a dar com a língua nos dentes, pois o seu efeito será quase sempre o oposto do esperado.
Quanto mais você revelar o esforço da sua criação, mais tornar-se-á um mortal entre tantos outros.
Lembre-se de que: quanto mais misteriosas as suas ações, maior será o seu poder. Você fica parecendo a única pessoa capaz de fazer o que você faz - e a aparência de ser possuidor de um talento exclusivo tem um poder imenso.
Finalmente, como você consegue as coisas com graça e facilidade, as pessoas ainda acharão sempre que, esforçando-se, você poderia fazer mais. isto desperta não só admiração, como um certo temor. Seus poderes tornam-se ilimitados - ninguém sabe até onde eles chegarão.
Ao aplicar este conceito na vida diária, Talleyrand ampliou muito a sua aura de poder. Nunca lhe agradou trabalhar demais, portanto fazia os outros trabalharem por ele - espionando, pesquisando, fazendo minuciosas análises, que mantinha em segredo. Com tanta força disponível, ele mesmo nunca parecia se cansar. Quando seus espiões revelavam que uma determinada coisa estava para acontecer, ele a comentava socialmente como se estivesse sentindo essa iminência. Consequentemente as pessoas achavam que ele era clarividente.
Suas declarações medulares e sua espirituosidade pareciam sempre resumir uma situação perfeitamente, mas os outros não sabiam que estavam baseadas em muita pesquisa e raciocínio.
Para quem estava no governo, inclusive o próprio Napoleão, Talleyrand dava a impressão de um poder imenso - efeito que dependia totalmente da aparente facilidade com que ele realizava suas proezas.
Mas atenção:
O sigilo com que você envolve suas ações deve aparentar despreocupação. O zelo em esconder o seu trabalho não pode criar uma impressão desagradável, quase paranóica. A revelação de seus truques e técnicas deve ser cuidadosamente planejada e não resultar de uma necessidade incontrolável de dar com a língua nos dentes. Isto pode dar a platéia a ilusão de ser superior e de participar, mesmo que grande parte do que você faz ninguém veja. O que seria do mágico ilusionista se não agisse assim!!!
Texto compilado extraído de livro dos autores Robert Greene e Joost Elffers