A  PRUDÊNCIA

 

Prudência + Maldade = Astúcia

 

Prudência + Bondade = Prudência

 
 

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CONHECIMENTO  E  INTENÇÕES  NOBRES

 

Garantem a fecundidade do seu sucesso. 

 

Quando o bom entendimento se une com a má intenção, não se tem um matrimônio, mas uma violação monstruosa

 

A intenção maligna envenena as melhores qualidades. 

 

Auxiliada pelo conhecimento, corrompe com maior sutileza. Infeliz a excelência que se entrega à maldade! 

 

Conhecimento sem com senso significa loucura em dobro.

 

Baltazar Gracian – A  Arte da Prudência

 

 

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"Não existe nada pior no mundo do que a precipitação de um tolo"

 
 

Thomas Shadwell

 
 
 
 

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VEJAMOS UMA PASSAGEM DO LIVRO  “O PADRINHO”

 

 

O Padrinho acaba de rejeitar completamente uma proposição do chefe da Máfia no sentido de que se envolva no negócio de drogas, quando Sonny, seu exaltado primogênito, se precipita em afirmar que os termos que haviam sido propostos eram insultantes para a família.

 

 Os outros chefes, acertadamente, perceberam a falha, pois, com o simples ato de objetar com veemência às condições, Sonny revelou uma disposição maior do que o seu pai  na rejeição da proposta.

 

Isto, naturalmente, levou à tentativa de eliminar Padrinho.

 

Embora “O Padrinho” seja uma ficção, a sua psicologia é deveras real.

 

 

Da mesma forma como é possível desenvolver uma percepção acerca das pessoas através das pequenas coisas que elas dizem e fazem, é com base nas pequenas coisas que você diz e faz que se forma a maioria das impressões duradouras a seu respeito. 

 

O modo como as pessoas se relacionam baseia-se em declarações conscientes e inconscientes que são emitidas e sentidas a cada segundo por cada um dos interlocutores.

 

 

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NÃO SE INTROMETER

 

 

Principalmente quanto mais agitadas estiverem as ondas do social ou familiar. 

O convívio humano tem seus tumultos, suas tempestades de vontade; 

em tais ocasiões é sensato retirar-se para um porto seguro e deixar as ondas se acalmarem

Os remédios muitas vezes pioram os males

Deixe agir a natureza ali, e a moralidade aqui. 

O médico experiente sabe quando prescrever ou não o medicamento, e às vezes a sabedoria consiste em não aplicar remédios algum. 

De vez em quando, dar de ombros é uma boa maneira de debelar tormentas vulgares. 

Dando agora tempo ao tempo, será vencedor depois. 

Basta um pouco para turvar as águas de um regato, que não voltará a ficar limpo com tentativas, mas deixando-o em paz. 

Não há remédio melhor para a confusão do que deixá-la seguir seu curso, terminando assim por si mesma.

 
 

BALTAZAR   GRACIÁN,    A ARTE DA PRUDÊNCIA

 
 

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A polidez é a origem das virtudes; a fidelidade, seu princípio; a prudência, sua condição. Será ela mesma uma virtude? A tradição responde que sim, e é o que cumpre explicar em primeiro lugar.

 

A prudência é uma das quatro virtudes cardeais da Antiguidade e da Idade Média.

 

Kant não via nela uma virtude: é apenas amor a si esclarecido ou hábil, explicava, não condenável, decerto, mas sem valor moral e sem outras prescrições que não sejam hipotéticas. É prudente cuidar da saúde, mas quem veria nisso um mérito?

 

Ele concluía que a veracidade é um dever absoluto, em todas as circunstâncias (inclusive – é o exemplo que dava – quando assassinos perguntam a você se seu amigo, que eles perseguem, está refugiado em sua casa ) e quaisquer que sejam suas consequências.  Dizia ser  melhor faltar com a prudência do que faltar com seu dever, nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmo!

 

 

É o que não podemos mais aceitar. A prudência é vantajosa demais para ser moral; o dever, absoluto demais para ser prudente. Parece-me, por não acreditarmos muito nesse absoluto para sacrificar a ele nossa vida, nossos amigos ou nossos semelhantes. O que vale o caráter absoluto dos princípios, se é em detrimento da simples humanidade, do bom senso, da compaixão?

 

Aprendemos a desconfiar também da moral, tanto mais quanto ela se crê mais absoluta. À ética da convicção, preferiremos o que Max Weber chama de ética da responsabilidade, a qual, sem renunciar aos princípios (como poderia?) também se preocupa com as conseqüências previsíveis da ação.

 

Uma boa intenção pode levar a catástrofes, e a pureza dos móbeis, ainda que confirmada, nunca bastou para impedir o pior; portanto seria

condenável contentar-se com ela. A ética da responsabilidade quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou nossos princípios, mas também pelas conseqüências de nossos atos, tanto quanto possamos prevê-las. É uma ética da prudência, e a única ética válida. Melhor é mentir à Gestapo do que lhe entregar um judeu ou um resistente inocentes. Em nome de quê? Em nome da prudência, que é a justa determinação (para o homem, pelo homem) desse melhor. É a moral aplicada, e o que seria uma moral que não se aplicasse?

 

As outras virtudes, sem a prudência, não poderiam mais que revestir o Inferno com suas boas intenções. Sabemos que os latinos traduziram por prudentia a phronésis dos gregos e, especialmente, de Aristóteles ou dos estóicos. De que se trata? De uma virtude intelectual, explicava Aristóteles, pelo fato de haver-se com o verdadeiro, com o conhecimento, com a razão: a prudência é a disposição que permite deliberar corretamente sobre o que é bom ou mau para o homem não em si, mas no mundo tal como é, não em geral, mas em determinada situação e agir em conseqüência, como convier. É o que poderíamos chamar de bom senso, mas que estaria a serviço de uma boa vontade. Ou de inteligência, mas que seria virtuosa. É nisso que a prudência condiciona todas as outras virtudes; nenhuma, sem ela, saberia o que se deve fazer, nem como chegar ao fim (o bem) que ela visa.

 

 

Santo Tomás bem mostrou que, das quatro virtudes cardeais, a prudência é a que deve reger as outras três: a temperança, a coragem e a justiça, sem ela, não saber-se-ia o que se deve fazer, nem como; seriam virtudes cegas ou indeterminadas. O justo amaria a justiça sem saber como, na prática, realizá-la, o corajoso não saberia o que fazer de sua coragem, etc., assim como a prudência, sem elas, seria vazia ou não seria mais que habilidade.

 

A prudência tem algo de modesto ou de instrumental; ela se põe a serviço de fins que não são os seus e só se ocupa com a escolha dos meios. Mas é isso que a torna insubstituível: nenhuma ação, nenhuma virtude – em todo caso, nenhuma virtude em ato – poderia prescindir dela.

 

A prudência não reina (mais vale a justiça, mais vale o amor), mas governa. Ora, que seria um reino sem governo? Não basta amar a justiça para ser justo, nem amar a paz para ser pacífico; é preciso, além disso, a boa deliberação, a boa decisão, a boa ação. A prudência decide e a coragem provê.

 

A prudência supõe a incerteza, o risco, o acaso, o desconhecido. Um deus não a necessitaria; mas como um homem poderia prescindir dela? A prudência não é uma ciência; ela é o que faz as suas vezes quando a ciência falta. Só se delibera quando se tem escolha, em outras palavras, quando nenhuma demonstração é possível ou suficiente. É então que é necessário querer não apenas o bom fim, mas os bons meios que conduzem a ele! Não basta amar os filhos para ser bom pai, nem querer o bem deles para fazê-lo. 

 

A prudência é como  uma sabedoria prática, sabedoria da ação, para a ação, na ação. No entanto, ela não faz  às vezes de sabedoria (de verdadeira sabedoria: Sophia), porque tampouco basta agir bem para viver bem, ou ser virtuoso para ser feliz.  Aristóteles tem razão, aqui, contra quase todos os antigos: a virtude não basta mais à felicidade do que a felicidade à virtude. A prudência é, porém, necessária a uma e à outra, e a própria sabedoria não poderia prescindir dela. Sabedoria sem prudência seria sabedoria louca, e não seria sabedoria.

 

Epicuro talvez diga o essencial: a prudência, que escolhe pela “comparação e pelo exame das vantagens e desvantagens”  os desejos que convém satisfazer e os meios para satisfazê-los, é “mais preciosa até que a filosofia” e é dela que “provêm todas as outras virtudes”.

 

Que importa o verdadeiro, se não sabemos viver? Que importa a justiça, se somos incapazes de agir justamente? E por que iríamos querê-la, se ela não nos trouxesse nada? A prudência é como um saber-viver real (e não simplesmente aparente, como a polidez), que também seria uma arte de desfrutar. Ocorre-nos recusar numerosos prazeres, explica Epicuro, quando devem acarretar maior desprazer, ou buscar determinada dor, se ela permitir evitar dores piores ou obter um prazer mais vivo ou mais duradouro. É por isso  que vamos, por exemplo, ao dentista ou ao trabalho, por um prazer no mais das vezes posterior ou indireto (pela evitação ou pela supressão de uma dor), que a prudência prevê ou calcula.

 

Virtude temporal, sempre, e temporizadora, às vezes. É que a prudência leva em conta o futuro, na medida em que depende de nós encará-lo (nisso ela pertence não à esperança, mas à vontade). Virtude presente, pois, como toda virtude, mas previsora ou antecipadora. O homem prudente é atento, não apenas ao que acontece, mas ao que pode acontecer; é atento, e presta atenção.

 

Prudentia, observava Cícero, vem de providere, que significa tanto prever como prover. Virtude da duração, do futuro incerto, do momento favorável , virtude de paciência e de antecipação. Não se pode viver no instante. Não se pode chegar sempre ao prazer pelo caminho mais curto. O real impõe sua lei, seus obstáculos, seus desvios. A prudência é a arte de levar isso tudo em conta, é o desejo lúcido e razoável. Os românticos, por preferirem os sonhos, torcerão o nariz. Os homens de ação sabem, ao contrário, que não há outro caminho, mesmo para realizar o improvável ou o excepcional. A prudência é o que separa a ação do impulso, o herói do desmiolado. É o que Freud chamará de princípio da realidade, ou pelo menos a virtude que lhe corresponde: trata-se de desfrutar o mais possível, de sofrer o menos possível, mas levando em conta as imposições e incertezas do real, em outras palavras, inteligentemente.  Assim, no homem, a prudência faz as vezes do que é, nos animais, o instinto – e, dizia Cícero, do que é, nos deuses, a providência.

 

A prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar. Ora, o perigo pertence, na maioria dos casos, a esta última categoria; daí a prudência, no sentido moderno do termo: a prudência como precaução. Todavia, há riscos que é necessário correr, perigos que é preciso enfrentar; daí a prudência, no sentido antigo: a prudência como “virtude do risco e da decisão”. A primeira, longe de abolir a segunda, depende dela. A prudência não é nem o medo nem a covardia. Sem a coragem, ela seria apenas pusilânime, assim como a coragem, sem ela, seria apenas temeridade ou loucura.

 

A prudência condiciona a virtude. Somente os vivos são virtuosos ou podem sê-lo, os mortos, no máximo, podem ter sido; somente os prudentes são vivos, ou o permanecem. Uma imprudência absoluta seria mortal, sempre, em prazos brevíssimos. Que restaria da virtude? E

como ela poderia advir?

 

A criança a princípio não diferencia o que é mau (o erro) do que faz mal (a dor, o perigo). Por isso ela não distingue a moral da prudência, ambas aliás submetidas, no essencial e por muito tempo, à palavra ou ao poder dos pais. Mas já crescemos (graças à prudência de nossos pais, depois à nossa); agora, essa distinção se impõe a nós, de modo que moral e prudência se constituem diferenciando-se. Confundi-las de maneira absoluta seria um erro; mas sempre as opor seria outro. A prudência aconselha a moral comanda. Portanto, precisamos de uma e de outra, solidariamente. A prudência só é uma virtude quando a serviço de um fim estimável de outro modo, não seria mais que habilidade , assim como esse fim só é completamente virtuoso quando servido por meios adequados de outro modo, não seria mais que bons sentimentos.

 

Por isso, dizia Aristóteles, “não é possível ser homem de bem sem prudência, nem prudente sem virtude moral”. A prudência não basta à virtude pois ela só delibera sobre os meios, quando a virtude também se prende à consideração dos fins, mas nenhuma virtude poderia prescindir da prudência. O motorista imprudente não é apenas perigoso, também é moralmente condenável pelo pouco caso que faz da vida alheia.

 

 

O pai imprudente, diante de seus filhos, pode muito bem amá-los e querer sua felicidade. No entanto, falta alguma coisa à sua virtude de pai e, sem dúvida, a seu amor. Se ocorrer um drama, que ele poderia ter evitado, ele saberá que, sem ser absolutamente responsável pelo ocorrido, também não é de todo inocente. Primeiro, não prejudicar. Depois, proteger. É a própria prudência, sem a qual qualquer virtude seria impotente ou nefasta.

 

Eu já disse que a prudência não impede o risco e nem sempre evita o perigo. Veja o alpinista ou o navegador: a prudência faz parte de seu ofício. Que risco? Que perigo? Em que limites? Com que fim? Como? Por que meios? Com que precauções? O princípio de realidade o decide e – quando decide da melhor maneira possível – é o que chamamos prudência.

 

“A prudência”, dizia santo Agostinho, “é um amor que escolhe com sagacidade.” Mas o que ela escolhe? Não, decerto, seu objeto (o desejo se encarrega disso), mas os meios de alcança-lo ou protegê-lo.

 

Sagacidade das mães e das amantes, sabedoria do amor louco. Elas fazem o que se deve, como se deve, pelo menos o que elas julgam como tal (quem diz virtude intelectual diz risco de erro), e dessa preocupação nasceu a humanidade – a delas, a nossa.  O amor as guia; a prudência as ilumina.

 

Que ela possa iluminar também a própria humanidade! Vimos que a prudência levava em conta o futuro: é que seria perigoso e imoral esquecê-lo. A prudência é essa paradoxal memória do futuro ou, para dizer melhor (pois que a memória, enquanto tal, não é uma virtude), essa paradoxal e necessária fidelidade ao futuro. Os pais sabem disso e querem preservar o futuro de seus filhos – não para escrevê-lo no lugar deles, mas para deixar-lhes o direito e, se possível, dar-lhes os meios de eles próprios o escreverem.

 

A humanidade também deverá compreendê-lo, se quiser preservar os direitos e as oportunidades de uma humanidade futura. Mais poder, maiores responsabilidades. A nossa nunca foi tão pesada; ela põe em jogo não apenas nossa existência ou a de nossos filhos, mas (devido aos progressos técnicos e seu temível alcance) a da humanidade inteira, e pelos séculos dos séculos… A ecologia, por exemplo, está ligada à prudência, e é por isso que tem pontos de contato com a moral.

 

Ela é a virtude que a modernidade torna mais necessária. Moral aplicada, dizia eu, e nos dois sentidos do termo: é o contrário de uma moral abstrata ou teórica, mas o contrário também de uma moral negligente. O fato de esta última noção ser contraditória deixa claro quanto a prudência é necessária, inclusive para proteger a moral do fanatismo (sempre imprudente, de tanto entusiasmo) e de si mesma.

 

Quantos horrores consumados em nome do Bem? Quantos crimes, em nome da virtude? Era pecar contra a tolerância, quase sempre, mas também contra a prudência, na maioria das vezes.

 

Desconfiemos dessas afetações que o Bem cega. Demasiado apegados aos princípios para considerar os indivíduos, demasiado seguros de suas intenções para se preocuparem com as conseqüências…

 

Moral sem prudência é moral vã ou perigosa. Dizia Spinoza: “Cuidado.” É a máxima da prudência, e é preciso ter cuidado também com a moral, quando ela despreza seus limites ou suas incertezas. A boa vontade não é uma garantia, nem a boa consciência uma desculpa.

 

Em suma, a moral não basta à virtude. É o que o humor recorda e a prudência prescreve. É imprudente ouvir apenas a moral, e é imoral ser imprudente.

 

Texto extraído ( com adaptações ) do livro “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” do autor André Comte-Sponville

 

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Ponha-se a trabalhar sempre com prudência, mas sem receio de erros. O medo do fracasso na mente de quem age já é, para o observador, evidência de fracasso... Ações são perigosas quando há dúvida quanto a sua sensatez; seria mais seguro não fazer nada.

 

Baltasar Gracián, 1601 – 1658

 
 
 

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DUPLICAR  A SUA PROVISÃO DE REQUISITOS DA VIDA

 

É duplicar a vida. Não dependa de uma única coisa, nem limite qualquer recurso, mesmo que seja raro e excelente. Tenha tudo em dobro, em especial as fontes de beneficio, privilégio e bom gosto. É transcendente a mutabilidade da lua, pondo fim á permanência, e mais mutáveis ainda são as coisas que dependem da frágil vontade humana. Acumule suprimentos para se precaver contra esta fragilidade, para seu conforto. Assim como a natureza duplicou os membros do corpo mais importantes e mais expostos, a arte deve suprir-nos em dobro das coisas de que dependemos.

 

BALTAZAR GRACIÁN  -  A ARTE DA PRUDÊNCIA

 

 

 

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"Há um tempo para deixar que as coisas aconteçam, e um tempo para fazer com que aconteçam"

 

Hugh Prather

 

 

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RECONSIDERAR

 
 

A segurança está em reexaminar as coisas, principalmente quando não se está totalmente seguro. 

Ganhe tempo, seja para conceder algo, seja para melhorar sua situação, e você encontrará novas razões para confirmar e corroborar seu parecer. 

Tratando-se de doar, valoriza-se mais um presente quando concedido com prudência do que quando dado apressadamente. 

O que se deseja há muito é sempre mais apreciado. 

Ao recusar, ganhe tempo, prestando mais atenção aos modos e deixe o não amadurecer um pouco, de modo que seja mais fácil de aceitar. 

Na maioria das vezes, dissipado o primeiro calor do desejo, será mais fácil aceitar a recusa. 

Se alguém pede com pressa, demore para conceder. 

É uma forma de sustentar-lhe o interesse.

 
 

BALTAZAR   GRACIÁN,    A ARTE DA PRUDÊNCIA

 
 

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Confie, mas imediatamente após verifique !

 

RONALD  REAGAN

 

 

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Começa-se a desconfiar das pessoas muito prudentes quando elas se mostram embaraçadas

 

 

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"Jamais deixe o seu campo na primavera ou a sua casa no inverno"

 

Provérbio Chinês

 

 

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ALERTA:

 

HAJA COM CORAGEM E OUSADIA MAS NUNCA SE ESQUEÇA DA PRUDÊNCIA

 

Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

 
 

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 OUSADIA  COM PRUDÊNCIA

 
 

A má execução prejudica menos que a indecisão. 

 

A estagnação estraga mais as coisas que o movimento. 

 

Alguns homens são incapazes de decidir e precisam do impulso alheio. 

 

Às vezes, a causa está não na perplexidade, uma vez que eles vêem com clareza suficiente, mas na falta de iniciativa. 

 

Perceber dificuldades pode ser uma habilidade, mas descobrir uma maneira de evitá-las revela uma habilidade ainda maior.

 

 Já outros homens não se embaraçam nada e têm grande capacidade de juízo e decisão. 

 

Nascidos para posições elevadas, sua compreensão clara lhes conquista o sucesso com facilidade. 

 

Descobrem tudo na hora, e ainda lhes sobram tempo. 

 

Quando convictos de estarem com sorte, aventuram-se com firmeza ainda maior.

 
 

BALTAZAR GRACIAN  - A ARTE DA PRUDÊNCIA

 

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SABER  ESPERAR

 

É prova de um grande coração quando se têm grandes reservas de paciência. 

 

Nunca se afobe ou nunca dê vazão às emoções. 

 

Domine-se e dominará aos outros. 

 

Vagueie pelas vastas dimensões do tempo rumo ao centro da oportunidade. 

 

A hesitação sábia tempera os acertos e amadurece os segredos. 

 

A muleta do tempo é mais poderosa que a clava de aço de Hércules. 

 

O próprio Deus não castiga com as mãos de ferro, mas com os pés de chumbo. 

 

Um maravilhoso ditado: 

 

O tempo e eu enfrentamos quaisquer outros dois”. 

 

A sorte dá recompensas maiores àqueles que esperam.

 
 

BALTAZAR   GRACIAN - A  ARTE DA PRUDÊNCIA 

 

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DILIGÊNCIA  COM INTELIGÊNCIA

 

A diligência executa com presteza aquilo que a inteligência planejou.

 

É paixão dos tolos a pressa: como não descobrem o fundamental, agem afobadamente.

 

Os sábios, ao contrário, costumam pecar por hesitação, pois é da previsão que nasce o preparo.

 

Os tolos não param ante nada, os sábios, ante tudo.

 

Ás vezes, as coisas são julgadas corretamente, mas não acabam em erro por ineficiência e negligência.

 

A presteza é a mãe da sorte.

 

Muito faz que não deixar nada para o dia seguinte.

 

Um lema grandioso: apressar- se devagar.

 

BALTAZAR   GRACIAN  -  A ARTE DA  PRUDÊNCIA

 
 

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HABILIDADE  NO TESTAR

 

A insensatez sempre se precipita à ação, pois todos os tolos são audazes. 

 

Sua própria inépcia, que não os deixa prever o perigo, os impede de se incomodar com o fracasso. 

 

Mas a prudência entra com todo o cuidado. 

 

A cautela e a perspicácia são seus batedores, abrindo caminho para que possa avançar sem perigo. 

 

A discrição condena a ação precipitada ao malogro, embora a sorte às vezes a salve. 

 

Vá devagar quando há risco de afundar. 

 

Que a argúcia estude o caminho e a prudência o conduza a terreno firme. 

 

Hoje em dia há baixios no trato com os outros, e o melhor é ir lançando a sonda.

 

BALTAZAR   GRACIAN - A ARTE DA PRUDÊNCIA

 

 

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OS  DOIS SAPOS

( da prudência )

 

Dois sapos viviam na mesma lagoa. Quando ela secou com o calor do verão, eles saíram em busca de outro lar. No caminho, passaram por um poço profundo e cheio de água. Ao vê-lo, um dos sapos disse para o outro: “Vamos descer e fazer a nossa casa neste poço, ele nos dará abrigo e alimento. “O outro, mais prudente respondeu: “mas, e se faltar água, como sairemos de um lugar tão fundo?” Não faça nada sem pensar nas consequências.

 

ESOPO, SÉCULO 6 a.C

 

INTERPRETAÇÃO

 

O imprudente  segue o coração, não a cabeça. Seus planos são vagos e, diante de obstáculos, eles improvisam.  Mas a improvisação só levará você até a próxima crise e não substitui, jamais, a previsão das próximas etapas e o planejamento até o final, sobretudo a prudência de ver o perigo à distância.

 

O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

 

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[...] do mesmo modo que nem todos os que constroem são bons arquitetos, também aqueles que doam não são todos generosos; porque a virtude nunca prejudica ninguém e existem muitos que roubam para dar e são generosos com o que é dos outros; alguns dão a quem não devem e deixam ao abandono e miséria aqueles aos quais devem obrigações; outros dão de má vontade e quase com despeito, podendo-se ver que o fazem forçados; outros, além de não serem discretos, chamam testemunhas e quase apregoam sua generosidade; outros esvaziam loucamente num instante aquela fonte da generosidade a tal ponto que não mais podem recorrer a ela. Portanto, nisso como em outras coisas, é preciso saber se conduzir com prudência, necessária companheira de todas as virtudes, as quais por serem medianas acham-se próximas dos extremos, que sãos os vícios; daí, quem não sabe, facilmente se deixa levar por eles, porque, assim como no círculo é difícil encontrar o ponto central, que é o meio, assim também é difícil encontrar o ponto da virtude colocada no meio dos dois extremos, defeituosos um pelo excesso, o outro por falta, e somos inclinados ora para um, ora para outro; e isso se identifica pelo prazer e desprazer que em nós sentimos, pois por um deles fazemos aquilo que não devemos e pelo outro deixamos de fazer aquilo que deveríamos; embora o prazer seja muito mais perigoso porque facilmente o nosso pensamento se deixa corromper por ele. Mas, como é difícil saber  quanto se está distante do centro da virtude, devemos retirar-nos pouco a pouco de nós próprios até a parte oposta daquele extremo para o qual sabemos estar inclinados, como fazem aqueles que endireitam as madeiras tortas; pois de tal modo nos aproximaremos da virtude, a qual, conforme disse, consiste naquele ponto médio; daí resulta que erramos de várias maneiras e de uma só cumprimos nosso ofício e dever, como fazem os arqueiros, que numa só direção acertam na mosca e em muitas erram o alvo. [...]

 

Texto   extraído  do Livro “ O Cortesão”,  publicado pela primeira vez em 1528, de autoria de Baldassare Castiglione.

 

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DA IMPRUDÊNCIA

 

Balboa tinha um sonho, conquistar a glória e a riqueza, e um vago plano para realizá-lo. No entanto, seus feitos corajosos e a sua descoberta do Pacífico foram em grande parte esquecidos, pois ele cometeu o que no mundo do poder é um grave pecado: ficou no meio do caminho, deixando a porta da imprudência aberta para os inimigos entrarem.  Um verdadeiro homem de poder teria tido a prudência de ver o perigo à distância - os rivais que desejariam dividir as conquistas, os abutres que apareceriam rondando assim que ouvissem a palavra "ouro".

 

Balboa deveria ter guardado segredo do que sabia sobre os Incas até conquistar o Peru. Só então a sua riqueza e a sua cabeça estariam a salvo. Assim que Pedrarias entrou em cena, um homem de poder e prudência teria tramado matá-lo ou prendê-lo, e se apoderar do exército que ele tinha trazido para conquistar o Peru. Mas Balboa era prisioneiro do momento, sempre reagindo emocionalmente, jamais pensando com antecedência.

 

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Existem poucos homens – e são a exceção – capazes de pensar e sentir além do presente momento.

 

CARL VON CLAUSEWITZ, 1780 – 1831

 

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Veja o desfecho, não importa o que esteja considerando. Com frequência, Deus permite a um homem um vislumbre de felicidade para, em seguida, arruiná-lo totalmente.

 

HERÓDOTO, SÉCULO 5 a.C

 

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A experiência mostra que, prevendo com bastante antecedência os passos a serem dados, é possível agir rapidamente na hora de executá-los.

 

CARDEAL RICHELIEU, 1585 - 1642

 

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Os Deuses no Olimpo olhando as ações humanas lá de cima das nuvens  antevêem o desfecho de todos os grandes sonhos que levam à ruína e à tragédia e riem da nossa incapacidade de ver além do momento presente e de como nos iludimos.

 

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Não entrar é tão mais fácil do que ter de sair ! devemos agir ao contrário do junco que, ao primeiro despontar, lança uma haste longa e reta mas depois, como que exausto... faz vários nós densos, indicando que não possui mais o vigor e o impulso original. É melhor começar gentil e tranquilamente, poupando o fôlego para o embate e os golpes vigorosos para concluir o nosso trabalho. No início, nós é que orientamos os negócios e os mantemos em nosso poder; mas, frequentemente, uma vez colocados em ação, são eles que nos guiam e nos arrastam

 

MONTAIGNE, 1533 - 1592

 

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Não há situação em que se gaste dinheiro com mais proveito do que quando se é lesado; pois de um só golpe compra-se a prudência.

 

ARTHUR SCHOPENHAUER, 1788 – 1860

 

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XXIX. [...] – Escutai então. Depois da queda de Tróia, muitos troianos que escaparam da ruína fugiram de um ou de outro modo; e uma parte deles, batidos por muitas procelas, aportaram na Itália, na região onde o Tibre desemboca no mar. Destarte, tendo descido a terra para juntar o que necessitavam, começaram a percorrer o país; as mulheres, que haviam permanecido nos navios, combinaram entre si uma boa estratégia, que pusesse fim à perigosa e longa errância marítima e no lugar da pátria perdida uma nova conseguissem; e, depois de confabularem, ausentes os homens, deitaram fogo às embarcações; e a que iniciou a operação se chamava Roma. Mesmo temendo a ira dos homens que retornavam, foram ao encontro deles; algumas puseram-se a abraçar e beijar os maridos e outras, os parentes, em sinal de benevolência, mitigando aquele primeiro ímpeto; depois, explicaram-lhes calmamente a causa de seu prudente pensamento. Daí os troianos, seja pela necessidade, seja para serem bem aceitos pelos habitantes da terra, ficaram contentíssimos com o que as mulheres haviam feito e aqui passaram a viver com os latinos, no local que veio a ser Roma. Daí provém o antigo costume dos romanos, segundo o qual as mulheres beijam os parentes ao encontra-los. Podeis ver agora quanto essas mulheres influíram na fundação de Roma.

 

Texto extraído do Livro “O Cortesão”,

do autor Baldassare Castiglione, 1478 -1529

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