A   ARTE  DO TEMPO CERTO

 

“A  LIÇÃO DE SERTÓRIO”

 

 

A força de Sertório estava agora aumentando rapidamente, pois todas as tribos entre o Ebro e os Pireneus estavam do seu lado, e as tropas vinham em bandos todos os dias juntar-se a ele de todas as regiões. Ao mesmo tempo, ele estava preocupado com a falta de disciplina e com o excesso de segurança desses bárbaros recém-chegados, que gritavam para que ele atacasse o inimigo e não tinham paciência com suas táticas proteladoras, e ele, portanto,  tentou convencê-los com argumentos.  Mas, ao  ver que estavam descontentes e continuavam pressionando com suas exigências apesar das circunstâncias, ele deixou que fizessem como queriam  e travassem combate com o inimigo; ele esperava que sofressem uma grave derrota sem serem totalmente esmagados, e que isto os deixaria mais dispostos a obedecer às suas ordens no futuro.

 

Tudo ocorreu como ele esperava e Sertório foi salvá-los, providenciou um ponto de reunião para os fugitivos e os levou sãos e salvos de volta para o acampamento.

 

O seu próximo passo foi reanimar seus espíritos abatidos e, assim, passados alguns dias, ele convocou uma reunião geral. Antes arranjou dois cavalos, um velho e fraco, o outro grande, saudável e com uma cauda graciosa, notável pela espessura e beleza da crina.

 

Ao lado do cavalo fraco colocou um homem forte e alto, e ao lado do cavalo enérgico, um homem baixo e de físico mediano. A um sinal, o homem forte  agarrou a cauda do seu cavalo e tentou puxá-la em sua direção com toda força, como se fosse arrancá-la, enquanto que o homem fraco começou a puxar um por um os  pelos da cauda do cavalo forte.

 

O homem forte, depois de puxar inutilmente com toda a sua força, e com isso divertir muito os espectadores, acabou desistindo; enquanto o homem fraco rapidamente, e sem muito esforço, desnudou toda a cauda do seu cavalo.

 

Em  seguida  Sertório  se ergueu e disse:

 

“Agora vocês podem ver, meus amigos e aliados, que a perseverança é mais eficaz do que a força bruta, e que há muitas dificuldades que são insuperáveis se vocês tentarem fazer tudo de uma só vez, mas que cederão se vocês as dominarem pouco a pouco. 

 
 

A verdade é que um esforço firme e constante é irresistível, pois é assim que o Tempo domina e vence  as maiores forças da terra. Ora, o Tempo, vocês devem se lembrar, é um bom amigo e aliado para quem usa a inteligência para  escolher o momento certo, e um inimigo perigosíssimo para quem se precipita na hora errada.”

 

 

A VIDA DE SERTÓRIO. PLUTARCO, 46-120 d.C

 

 

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Os atalhos não levam a nenhum lugar que valha a pena”

 

Beverly Sills

 

 

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O sucesso tem pouco a ver com rapidez, no entanto, tem muito a ver com ritmo e direção.

 

 

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"Há um tempo para deixar que as coisas aconteçam, e  um tempo para fazer com que aconteçam"

 

Hugh Prather

 

 

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"Não existe nada pior no mundo do que a precipitação de um tolo"

 
 

Thomas Shadwell

 
 
 

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A diligência executa com presteza aquilo que a inteligência planejou.

 

É paixão dos tolos a pressa: como não descobrem o fundamental, agem afobadamente.

 

Os sábios, ao contrário, costumam pecar por hesitação, pois é da previsão que nasce o preparo.

 

Os tolos não param ante nada, os sábios, ante tudo.

 

Ás vezes, as coisas são julgadas corretamente, mas acabam em erro por ineficiência e negligência.

 

A presteza é a mãe da sorte.

 

Muito faz que não deixa nada para o dia seguinte.

 

Um lema grandioso: apressar- se devagar.

 
 

Baltazar  Gracian - A Arte da Prudência

 

 

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"Jamais deixe o seu campo na primavera ou a sua casa no inverno"

 
 

Provérbio Chinês

 

 

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É mais importante saber para onde se vai do que quando se poderá chegar lá. Os impacientes sempre chegam atrasados

 

Jean Dutourd

 

 

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“Arrume tempo e espaço para tudo e faça tudo em seu devido tempo e espaço. 

 

E você não paenas produzirá mais, como também terá mais tempo para lazer do que aqueles que estão sempre com pressa”

 

 

Tryon Edwards

 

 

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“Quando se está fora do ritmo, semeia-se pressa e colhe-se frustração”

 
 

Lord Chesterfield

 

 

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“O fracasso na realização de uma tarefa pode ser o resultado de se ter incumbido dela na hora errada”

 

Brendon Francis

 

 
 

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“A maioria dos homens busca o prazer com uma tamanha pressa, que passam direto por ele.”

 
 

Soren Kierkegaard

 

 

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“Não existe estrada longa demais para quem avança por escolha própria e sem pressa indevida. 

 

O prêmio está muito próximo daquele que se prepara para uma estrada com paciência”

 

Bruyère

 

 

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Determine-se a escolher o passo certo:

 
 

se for rápido demais, poderá acabar emparelhando com o infortúnio;

 

se for lento demais, o infortúnio irá emparelhar com você.

 

 

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Não te alfijas sobre a destinação do mundo.

 

A Eterna Sabedoria conhece o que deve ocorrer à vida planetária.

 

Agora é o nosso tempo.

 

Hoje é o dia em que nos compete fazer o que deva ser feito.

 

Entesoura a cultura que desejas. Antes de tudo, porém, atende aos deveres que se te fazem essenciais.

 

Emmanuel

 

 

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A CORTE DE CH’IN E A CORTE DE CH’U

 

O Sr. Shih tinha dois filhos: um gostava  de estudar e o outro, de guerrear.

 
 

O primeiro expôs seus ensinamentos morais diante da corte admirada de Ch’in e foi nomeado tutor, enquanto o segundo falou de estratégia na corte belicosa de Ch’u e foi nomeado general.

 

O paupérrimo Sr.Meng, ouvindo falar de tais proezas, mandou seus dois filhos seguirem o exemplo dos filhos de Shih. O primeiro expôs seus ensinamentos morais na corte  de Ch’in, mas o rei de Ch’in disse: “No momento, os estados estão discutindo violentamente e todos os príncipes  estão ocupados armando suas tropas até os dentes. Se eu der ouvidos ao  palavrório deste moralista, em breve estaremos arrasados.” E mandou castrar o sujeito.

 

Enquanto isso, o segundo irmão exibia o seu gênio  militar na corte de Wei. Mas o rei de Wei disse: “O meu estado é fraco. Se eu confiar na força em vez da diplomacia, em breve estaremos arrasados. Se, por outro lado, eu deixar este provocador solto, ele irá oferecer seus serviços a outro estado e aí é que estaremos em dificuldades.” E mandou cortar fora os pés do  sujeito.

 

Ambas as famílias fizeram exatamente a mesma coisa, uma no momento certo, mas a outra na hora errada. Portanto, o sucesso não depende  de lógica, mas de ritmo.

 

LIEH TZU, CITADO  EM  THE CHINESE LOOKING GLASS.

DENNIS BLOODWORTH, 1967

 

 

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O sultão da Pérsia havia condenado à morte  dois homens. Um deles, sabendo o quanto o sultão apreciava o seu garanhão, ofereceu-se para ensiná-lo a voar em um ano, em troca de sua vida.  O sultão imaginado-se como o único cavaleiro de um cavalo voador do mundo, concordou.

 

O outro prisioneiro olhou para o amigo  sem acreditar. 

 

“Você sabe que cavalos não voam. Que ideia louca foi essa? 

 

Você só está  adiando o inevitável. 

 

“Não tanto, disse o primeiro prisioneiro. 

 

“Na verdade, eu  me dei quatro chances de liberdade. 

 

Primeiro, o sultão talvez morra neste ano. 

 

Segundo, talvez eu morra. 

 

Terceiro, o cavalo talvez morra. 

 

E quarto, quem sabe eu ensino o cavalo a voar!!!

 

A ARTE DO PODER, R.G.H.SIU, 1979

 

 

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A TRUTA E O GOIBÃO

 

 

Um pescador, no mês de maio, lançava o seu anzol à margens do Tâmisa usando uma mosca artificial como isca. Ele jogava a sua isca com tamanha arte, que uma jovem truta estava para abocanhá-la quando a mãe a impediu.

 

“Jamais”, falou ela, “se precipite se houver possibilidade  de risco, minha filha. Pense um pouco, antes de fazer algo que pode ser fatal. Como sabe  de longe se é mesmo uma mosca, ou a cilada de um inimigo? Deixe que outro experimente antes de você. Se for uma mosca, ele provavelmente errará o primeiro ataque e o segundo poderá acontecer, se não com sucesso, pelo menos com segurança.”

 

Mal ela havia acabado de falar e um gobião abocanhou a mosca falsa, e serviu de exemplo para a filha  que entendeu a importância do conselho da sua mãe.

 

FÁBULAS, ROBERT DODSLEY, 1703 – 1764

 

 

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O espaço se recupera, o tempo não.

 

Napoleão Bonaparte, 1769 – 1821

 

 
 

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O FALCÃO

 

 

Paciente e em silêncio, ele dá voltas no céu, lá  em cima, tudo acompanhado com sua poderosa visão. Quem está embaixo não percebe que está sendo seguido. De repente, no momento certo, o falcão ataca violentamente, com uma rapidez contra a qual não há defesa. Antes que a presa perceba, as garras da ave já a transportaram para o céu.

 

 

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Existe uma maré nos assuntos humanos, que aproveitando-se o fluxo leva à fortuna; omitida, toda a viagem de suas vidas está destinada a dar em bancos de areia e misérias.

 

Júlio César, William Shakespeare, 1564 – 1616

 

 

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INTERPRETAÇÃO

 

 

Tempo é um  conceito artificial que nós mesmos criamos para tornar a infinitude da eternidade e do universo mais suportável, mais humana. 

 
 

Visto que inventamos o conceito de tempo, somos também capazes de moldá-lo de certa forma, de fazer  truques com ele. 

 
 

O tempo de uma criança é longo e lento, e muito vasto; o tempo de um adulto  passa zunindo,  assustadoramente rápido. 

 
 

O tempo, portanto, depende da percepção, que, nós  sabemos, pode ser alterada intencionalmente. 

 
 

Esta é a primeira coisa que temos de compreender para dominar a arte de escolher o momento certo.

 

Se um tumulto interno causado por nossas emoções tende a acelerar o tempo,  controlando nossas reações emocionais o tempo vai andar bem mais devagar. 

 
 

Esta maneira alterada de lidar com as coisas tende a estender a nossa percepção do tempo futuro, abre possibilidades que o medo e a raiva fecham,  e nos dá a paciência, que é o principal requisito na arte de escolher o momento certo.

 

SÃO TRÊS  OS TIPOS DE TEMPO COM OS QUAIS TEMOS QUE LIDAR: 

 
 

Cada um deles  traz problemas que podem ser solucionados com habilidade e prática. 

 
 

Primeiro, existe o tempo longo: 

 
 

o tempo que se arrasta, por anos, e que deve ser administrado com calma e paciência. Devemos lidar com o tempo longo de preferência na defensiva – esta é a arte de não agir impulsivamente, de esperar a oportunidade certa. 

 

Em seguida, tem o tempo forçado: 

 
 

o tempo curto que podemos manipular como uma arma ofensiva, perturbando a noção  de tempo dos adversários. 

 

Finalmente, o tempo final, quando um plano tem que ser executado com força e rapidez. Nós esperamos, o momento e, quando este chega, não devemos hesitar.

 

 

 

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O vendedor controla o momento oportuno para a venda, mas os indícios são fornecidos pelo comprador. Obviamente, isto favorece quem ouve e não quem fala, quem realmente escuta o que o comprador diz em vez de o tomar para ouvinte.

 

O momento oportuno para realizar uma venda pode ser tão decisivo quanto tudo que de fato possa ser dito ou feito nesse sentido. Se todas as variantes de vendas que determinam o momento tivessem de ser pesadas separadamente e analiticamente examinadas, as <> para <>, mesmo tratando-se das mais simples transações, exigiriam o concurso de vários computadores.

 

Felizmente, o seu cérebro faz-lhe isso.Ele computa através das percepções sensoriais o que jamais poderia ser alcançado através do raciocínio analítico. O momento, por conseguinte, é uma questão de se converterem essas percepções sensoriais em ações conscientes ou em inações conscientes, ou seja, quando não dizer ou não fazer certas coisas.

 
 
 

O momento oportuno – o de converter percepções sensoriais em ações conscientes e apropriadas – é uma questão de experiência e sabedoria quase que únicas.

 
 

Fazendo uma analogia com uma peça de teatro, muitas pessoas, uma vez com o script na cabeça, sentem uma necessidade enorme de se desviar dele. No seu afã de fazer um negócio, anseiam por abreviar o tempo ou partem diretamente para o próximo ato.

 
 

Desejam reescrever o diálogo ou eliminar as falas do comprador. Percebem os sinais indicadores do momento certo, mas ignoram-nos e falham na abordagem da situação. Ao reescreverem o script, acabam por lhe dar um final infeliz.

 

Mesmo que consigamos que as pessoas façam o que queremos, raramente conseguimos que isto ocorra no tempo desejado. As pessoas e os acontecimentos têm o seu próprio ritmo e quase nunca se conformam com o esquema temporal de outro.

 

Um dos sinais mais evidentes de maturidade nos negócios é a capacidade de esperar, de ajustar o próprio cronograma ao compasso dos outros.

 

Sem a paciência para esperar e a persistência para voltar, quaisquer outras percepções sobre o momento não valem muita coisa. Tudo o que se ganha ao desconsiderar isso é irritar as pessoas.

 

Pat Ryan, editora chefe da revista people, falou de um conselho de vendas que seu pai, o falecido cavaleiro irlandês Jim Ryan, deixou para muitos dos criadores de hoje em dia:

 
 

<>. Sociabilidade não era bem o caso. A questão relevante era a que não existe melhor momento para se mostrar um cavalo do que ao pôr do sol.

 
 

O seu pelo brilha, ele mostra-se cheio de energia, invencível. É por esta mesma razão que certas revistas especializadas mostram fotos de banho sempre fotografados ao nascer ou ao pôr do sol.

 
 

Muito poucas pessoas farão uso de um pôr do Sol como cenário de  negociação, mas é certo que os podem tirar proveito de eventos futuros que são tão determinantes quanto um <>.

 

 

Leia o texto sobre a virtude da prudência