NA VITÓRIA, APRENDA  A  PARAR

 

 

O momento da vitória é quase sempre o mais perigoso. No calor da vitória, a arrogância e o excesso de confiança podem fazer você avançar além da meta e , ao ir longe demais, você conquista mais inimigos do que derrota. Não deixe o sucesso subir a cabeça. Nada substitui a estratégia e o planejamento cuidadoso. Fixe a meta e, ao alcança-la, pare.

 

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O FRANGOTE VAIDOSO

 

 

Dois frangotes brigavam num monte de esterco. Um era mais forte, venceu o outro e o arrastou para fora dali. As galinhas se reuniram todas em volta do frangote e começaram a aplaudir.

 

O frangote então quis que no quintal vizinho soubessem da sua força e da sua glória. Voou até o topo do celeiro, bateu as asas e cacarejou bem alto: “ Olhem para mim, todos vocês. Sou um frangote vitorioso. Não há no mundo frangote mais forte do que eu”. 

 

O frangote ainda não havia terminado quando uma águia o matou com suas garras e o levou para o ninho.

 

LEON TOLSTÓI. 1828-1910

 

 

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O valor de uma coisa às vezes não está no que se consegue com ela, mas no que se paga por ela - o que ela nos custa.

 

Nietzsche

 

 

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O sucesso prega peças estranhas na mente. Faz o vitorioso sentir-se invulnerável, deixando-o ao mesmo tempo mais hostil e sensível às pessoas que lhe desafiam. A sua capacidade de se adaptar às circunstâncias diminui. Ele começa a achar que o seu caráter é o responsável pelo seu sucesso, mais do que as suas técnicas de estratégia e planejamento. 

 

Contudo, o momento de triunfo é também aquele em que deve confiar ainda mais na astúcia e na estratégia, consolidando o conseguido, reconhecendo o papel do acaso e das circunstâncias no seu sucesso e permanecendo aos reveses da sorte

 

É na vitória que você precisa ficar mais atento do que nunca ! 

 

Napoleão e Hitler tiveram  que ser derrotados para aprenderem  isso.

 

 

Seja implacável com o seu inimigo, mas não crie outros indo além do necessário. 

 

A prudência depois da vitória não é para fazê-lo exitar, ou perder o impulso, mas protegê-lo de atitudes precipitadas

 

Por outro lado, exagera-se o valor do ímpeto. Acreditar em ímpetos  só o fará mais emotivo, menos disposto a agir estrategicamente, e mais apto a repetir os mesmos métodos. 

 

Deixe o ímpeto para quem não pode confiar em coisa melhor.

 

 

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O momento mais perigoso é o da vitória.

 

Napoleão Bonaparte, 1769 - 1821

 

 

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Depois de conquistar uma vitória, aperte os cordões do capacete.

 

Provérbio japonês

 

 

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A  SEQUÊNCIA  DO INTERROGATÓRIO

 

 

Em todos os seus interrogatórios.... o mais importante de tudo, deixe-me repetir a ordem para estar sempre alerta para o melhor momento de parar. Nada pode ser mais importante do que encerrar o seu interrogatório com um triunfo.

 

São tantos os advogados que conseguem pegar uma testemunha em grave contradição,  mas, não satisfeitos com isso, continuam fazendo perguntas, e seguem interrogando até anular o efeito da sua vantagem anterior sobre o júri.

 

THE ART OF CROSS-EXAMINATION, FRANCIS L. WELLMAN, 1913

 

 

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Deve-se guiar pela razão e não pela emoção. Não há nada mais inebriante do que a vitória, e nada mais perigoso também. Deixar que uma emoção momentânea, ou uma vitória emocional, influencie ou oriente os seus movimentos pode ser fatal. Quando alcançar o sucesso, deve-se recuar para reflexão e atenção à cautela. Saindo-se vitorioso, deve-se compreender o que as circunstâncias particulares de uma situação representam, e não se deve repetir simplesmente as mesmas ações. Ao longo da história veem-se espalhadas as ruínas de impérios vitoriosos e corpos de líderes que não aprenderam a parar e consolidar seus ganhos, tais como: Napoleão, Hitler, Ciro, e tantos outros.

 

 

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Como se diz nas escolas de equitação: 

 
 

para poder dominar um cavalo, é preciso antes ter domínio sobre si próprio.

 

 

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IMAGEM: ÍCARO DESPENCANDO DO CÉU

 

Seu pai, Dédalo, confecciona asas de cera que permitem aos dois homens sair voando do labirinto e escapar do Minotauro. Entusiasmado com a fuga triunfante e a emoção do voo, Ícaro sobre cada vez mais alto, até que o sol derrete a cera das asas e ele morre na queda.

 

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O GENERAL AMBICIOSO

 

Lemos sobre muitos casos como este; pois o general que, por sua bravura, conquistou para seu senhor um estado e, pela vitória sobre o inimigo, obteve para si próprio muitas glórias e encheu seus soldados de ricos despojos de guerra, adquire necessariamente junto com seus próprios soldados, assim como os do inimigo e com súditos do príncipe, uma tão elevada reputação, que a sua própria vitória pode se tornar desagradável, e motivo de apreensão para seu príncipe.

 

Como a natureza do homem é ambiciosa e desconfiada, e não coloca limites a sua própria sorte, não é impossível que possa repentinamente ter originado na mente do príncipe a suspeita sobre a vitória do general, ainda agravada por algumas expressões insolentes de sua parte; de forma que o príncipe naturalmente será levado a pensar em se defender da ambição deste general. E, para isso, os meios que lhe veem à mente são mandar matar o general ou privá-lo dessa reputação adquirida junto com o exército e o povo do príncipe, fazendo de tudo para provar que a vitória do general não se deveu a sua habilidade e coragem, mas ao acaso e à covardia do inimigo, ou à sagacidade dos outros capitães que estavam com ele em ação.

 

NICOLAU MAQUIAVEL, 1469 – 1527

 

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Príncipes e repúblicas deveriam se contentar com a vitória, pois quando almejam mais do que isso, em geral perdem. O hábito de insultar o inimigo com palavras surge da insolência da vitória, ou da falsa esperança de vitória, a qual frequentemente desorienta os homens tanto nas suas ações quanto nas suas palavras: pois quando esta falsa esperança se apossa da mente, faz os homens ultrapassarem o seu alvo e sacrificarem um bem garantido por outro melhor porém incerto.

 

NICOLAU MAQUIAVEL, 1469 – 1527

 

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No século quarto a.C, um capitão sob as ordens do notoriamente severo general chinês Wu Ch'i se adiantou, atacando antes do início de uma certa batalha e voltou com várias cabeças inimigas. Ele achou que tivesse mostrado o seu ardoroso entusiasmo, mas Wu Ch'i não se impressionou e disse suspirando ao mandar decapitá-lo :

 
 

"Um oficial talentoso mas desobediente"

 
 
 

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Um homem, conhecido por sua habilidade em galgar árvores, ajudava alguém a subir numa árvore muito alta. Ele mandou o sujeito cortar os ramos da copa e, nesse momento aparentemente tão perigoso, não disse nada. Só quando o sujeito começou a descer e chegou à altura dos beirais é que o especialista gritou: “Cuidado! Veja onde pisa ao descer!”

 

 

Eu lhe perguntei: “Por que disse aquilo? Naquela altura ele poderia pular se quisesse.” Então, disse o especialista: “É essa a questão, quando ele estava lá em cima numa altura estonteante, e os ramos ameaçavam quebrar, o seu medo era tão grande que eu não disse nada. Os erros são cometidos sempre quando as pessoas chegam aos lugares fáceis.

 

 

Era um homem simples, mas suas palavras estavam de acordo com os ensinamentos de homens sábios. Também no futebol, dizem, quando se consegue dar um chute de um lugar difícil e se acha que o seguinte vai ser fácil, certamente é bola perdida.

 

ENSAIO SOBRE O ÓCIO. KENKO. JAPÃO

 

 

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A essência da estratégia é controlar o que vem em seguida, e o entusiasmo da vitória pode atrapalhar a sua capacidade de controlar isso que vem em seguida de duas formas:

 

Primeiro, você deve o seu sucesso a um padrão que estará apto a tentar repetir. Você tentará continuar seguindo na mesma direção, sem parar para ver se este ainda é o melhor caminho para você.

 

Segundo, o sucesso tende a lhe subir à cabeça e o torna mais sensível às emoções. Sentindo-se invulnerável, você faz movimentos agressivos que acabam arruinando a vitória conquistada.

 

A lição é simples: o vitorioso varia seus ritmos e padrões , muda de curso, adapta-se às circunstâncias ao invés de deixar-se ser impulsionado para frente pela emoção, eles dão um passo atrás e olham para onde estão indo. É como em suas veias corresse um antídoto para a intoxicação com a vitória, permitindo que controlem suas emoções e deem uma espécie de parada mental quando atingem o sucesso. Eles se aprumam, abrem espaço para refletir sobre o que aconteceu, examinam o papel da sorte e das circunstâncias no seu sucesso.

 

 

A sorte e a circunstância têm sempre o seu papel na vitória. Isto é inevitável. Mas, a despeito do que se pensa, a sorte é mais perigosa do que o azar. O azar dá lições preciosas sobre a paciência, tempo oportuno e a necessidade de estar preparado para o pior; a sorte ilude ensinando o contrário, fazendo você pensar que o seu brilhantismo vai sustentá-lo até o fim. A sorte vira, isso é inevitável, nada trai mais do que a sorte, e aí você estará totalmente despreparado.

 

 

Essa foi a ruína de César Bórgia. Ele teve muitos triunfos, foi na verdade um hábil estrategista, mas teve o azar de ter tido sorte: teve um papa como pai. Então, quando teve azar de verdade – o pai morreu – não estava preparado para isso e foi devorado pelos muitos inimigos que tinha feito.  A mesma sorte que o põe lá em cima ou sela o seu sucesso mostra que é hora de abrir os olhos: a roda da fortuna o lançara para baixo com a mesma facilidade com que o coloca lá no alto. Preparando-se para a queda, é menos provável que ela o arruíne quando acontecer.

 

Quem vivencia uma sequência de sucessos pode pegar uma espécie de febre e, até quando tenta manter a calma, se vê pressionado a ultrapassar a meta estabelecida e mergulhar em águas perigosas por aqueles que se encontram em situação inferior. É preciso ter uma estratégia para lidar com gente desse tipo.

 

Quando Péricles, general e estadista ateniense, liderou uma série de campanhas navais no mar Negro, em 436 a.C, a facilidade dos seus triunfos inflamou o desejo dos atenienses por mais vitórias. Eles sonhavam em conquistar o Egito, invadir a Pérsia e partir para a Sicília. Por um lado, Péricles refreava estas perigosas emoções alertando sobre os riscos do orgulho excessivo. Por outro, ele os alimentava travando pequenas batalhas que sabia que ia vencer, criando a aparência de estar preservando o ímpeto de sucesso. A habilidade de Péricles pode ser vista no que aconteceu na sua morte: os demagogos assumiram, forçaram Atenas a invadir a Sicília e, num só movimento precipitado, destruíram um Império.

 

 

Finalmente, o momento em que você pára tem uma grande importância dramática. O que vem por último fica marcado na lembrança como um ponto de exclamação. Não há ocasião melhor para parar e se afastar do que depois de uma vitória. Continue e se arriscará a reduzir o efeito, até a terminar derrotado. 

 

Como dizem os advogados sobre os interrogatórios: 

 
 

“Pare sempre com uma vitória.”

 

 

 

 


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