DO PODER DO CHARLATÃO

A FALSA GENEROSIDADE
Um gesto “sincero” e “honesto” também pode ser usado para encobrir dezenas de outros desonestos.
Até as pessoas mais desconfiadas baixam a guarda diante de atitudes “francas” e “generosas”.
O Ego é enganador e responde prontamente a qualquer tipo de bajulação.
Uma vez que você tenha sido desarmado, poderá ser enganado e manipulado à vontade.
Um presente oportuno poderão ainda lhe dar – um cavalo de Tróia é claro !!
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NÃO ACEITE CORTESIA COMO PAGAMENTO
É uma espécie de logro.
Alguns, para enfeitiçar, não precisam de ervas mágicas da Tessália.
Ao tirar o chapéu para cumprimentar do jeito certo, encantam os tolos, isto é, os presunçosos.
Mercadejam a honra e pagam as dívidas com um vento de palavras bonitas.
Aquele que promete tudo, nada promete ; as promessas são um escorregão para os tolos.
A verdadeira cortesia é um dever, a cortesia falsa, um ardil, e a cortesia expressiva não é dignidade, mas dependência.
Quem a pratica reverencia não a pessoa, mas a riqueza e a lisonja; não às qualidades que reconhece, mas a favores esperados.
BALTAZAR GRACIÁN
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METÁFORA
O maior perigo é o morno porque o quente e o frio percebe-se de pronto, mas ao morno não nos ligamos muito é é aí que pode está o dano
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Na afabilidade para com todos não se vê traço de misantropia, mas sim quanto de desprezo pelos homens.
quem é amigo de todos ( qualquer um ), não é amigo de ninguém
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"O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável.
Quem é capaz de compreendê-lo ?
Jeremias 17:9
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A LEI OBSERVADA
“dar antes de tomar”
Um dia, em 1926, um homem alto e bem vestido foi visitar Al Capone, o mais temido gângster da sua época. Falando com um elegante sotaque continental, o homem se apresentou como conde Victor Lustig. Ele prometeu a Capone que se lhe desse 50 mil dólares, seria capaz de duplicar essa quantia.
Capone tinha fundos mais do que suficiente para cobrir o “investimento”, mas não o hábito de confiar grandes somas a estranhos.
Ele examinou o conde, algo naquele homem era diferente – o seu estilo chique, seus modos – e resolveu experimentar.
Ele mesmo contou as notas e as entregou a Lustig.
“Tudo bem, conde”, disse Capone. “Dobre isso em sessenta dias, como disse”.
Lustig saiu com os dólares, guardou-os num cofre em Chicago e foi para Nova York, onde tinha em andamento outros planos para ganhar dinheiro.
Os 50 mil dólares ficaram no cofre do banco intocados. Lustig não fez nada para duplicá-los. Dois meses depois, ele voltou a Chicago, pegou o dinheiro e foi falar novamente com Capone. Olhando os rostos impassíveis dos seus guarda-costas, ele sorriu constrangido e disse, “Sinto muito, Sr. Capone, mas lamento lhe dizer que o plano falhou ....eu falhei”.
Capone se ergueu devagar. Olhou para Lustig com ar ameaçador, pensando em que parte do rio o jogaria. Mas o conde colocou a mão no bolso do casaco, retirou os 50 mil dólares e os colocou sobre a mesa. “Aqui senhor, o seu dinheiro, até o último centavo. Mais uma vez, minhas sinceras desculpas. É muito constrangedor. As coisas não funcionaram como pensei. Adoraria ter duplicado o seu dinheiro para o senhor e para mim – Deus sabe o quanto eu precisava disso – mas o plano não se concretizou.
Capone despencou na poltrona, confuso. “Sei que você é um charlatão, conde”, disse Capone. “Soube no momento em que entrou aqui. Eu esperava os cem mil dólares ou nada. Mas isto.... receber de volta o meu dinheiro...bem.”
“Minhas desculpas, novamente, Sr.Capone”, disse Lustig, gritou Capone. “Se está em dificuldades, fique com cinco mil para ajudar por enquanto. “Ele retirou cinquenta notas de cem dólares do maço de 50 mil. O conde parecia atordoado, curvou-se profundamente, murmurou um agradecimento e saiu, levando o dinheiro.
Os cinco mil dólares era o que Lustig pretendia desde o início.
INTERPRETAÇÃO
O conde Víctor Lustig, homem que falava várias línguas e se orgulhava do seu refinamento e cultura, foi um dos grandes vigaristas dos tempos modernos.
Era conhecido por sua audácia, temeridade e, o mais importante, por seu conhecimento da psicologia humana.
Ele avaliava um homem em minutos, descobrindo seus pontos fracos, e tinha um radar para otários.
Ele sabia que a maioria dos homens se arma contra o ataque de escroques e outros criadores de problemas.
A tarefa do vigarista é derrubar essas defesas. A maneira como eles conseguem isso é aparentando sinceridade e honestidade. Quem vai desconfiar de uma pessoa literalmente apanhada num ato honesto? Com Capone, Lustig foi mais adiante. Nenhum vigarista comum cometeria tamanha ousadia; teria escolhido suas vítimas pela humildade, por aquele ar que diz que engolirão o remédio amargo sem se queixar.
Lustig sabia que um homem como Capone vive desconfiando de todo mundo. Ninguém ao seu redor é honesto ou generoso e conviver tanto tempo com lobos é exaustivo, até deprimente. Um homem como Capone quer ser alvo de um gesto honesto ou generoso, quer sentir que nem todos agem com segundas intenções ou estão a fim de roubá-lo. O ato de “honestidade” de Lustig desarmou Capone porque foi inesperado. O vigarista gosta dessas emoções conflitantes, porque é muito fácil distrair e enganar a pessoa tomada por esses sentimentos.
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Perante um charlatão, se é punido principalmente pelas próprias virtudes
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Induzir o nosso próximo a ter em nós uma boa opinião e depois fazê-lo acreditar sinceramente naquela opinião: quem possui tanta arte nisso quanto o charlatão e as mulheres ?
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A vida do homem consiste num a milícia contra a malícia do homem.
A astúcia luta com estratégias de intenção. Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta.
A fim de conquistar atenção e a confiança dos outros, deixa transparecer um intento. Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa.
A inteligência perspicaz previne-se da astúcia observando-a detidamente, espreita-a com cuidado, entende o oposto do que a astúcia quis que compreendesse e percebe de imediato as falsas intenções.
A inteligência ignora a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira. A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto e tenta enganar contando a verdade. Muda de jogo,engana com a aparente falta de malícia. Sua astúcia se baseia na maior franqueza.
Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela. Assim é a luta da astúcia de Pitão (a gigantesca serpente aniquilada por Apolo ao pé do monte Parnarso) contra a franqueza dos penetrantes raios de Apolo.
Baltazar Gracian – A Arte da Prudência
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Com todos os grandes impostores existe uma ocorrência notável à qual eles devem o seu poder.
No próprio ato da fraude eles são dominados pela crença em si mesmos: é isto que vai transparecer de forma tão milagrosa e atraente para os que o cercam.
Friedrich Nietzsche, 1844 - 1900
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Tudo perde a graça se não tenho um otário em perspectiva.
A vida parece vazia e deprimente.
Não consigo compreender os homens honestos.
Vivem sem esperanças, cheios de tédio.
Conde Victor Lustig, 1890 – 1947
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Palavras de apreço e reconhecimento são uma das mais poderosas forças do bem e do mal no Mundo.
Até os charlatões as usam como armas de persuasão.
Expressões de gratidão não custam muito, no entanto, realizam além das expectativas.
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O Tempo desmascara as aparências, revela a mentira e expõe o caráter
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Na antiga china, isto se chamava “dar antes de tomar” – o dar dificulta à outra pessoa perceber o tomar.
É um artifício de infinita utilidade prática.
Tomar alguma coisa de alguém, descaradamente, é perigoso, até para os poderosos.
A vítima vai tramar uma vingança. Também é perigoso pedir apenas, ainda que gentilmente, aquilo de que você precisa: a não ser que a outra pessoa veja nisso algum lucro, ela pode se ressentir com a sua necessidade.
O dar antes de tomar prepara o terreno, torna menos desagradável uma futura solicitação, ou simplesmente cria uma distração.
E o dar pode ter várias formas: um presente real, um gesto generoso, um favor, um reconhecimento “honesto”.
Jay Gould, como Al Capone, era um homem que desconfiava de todo mundo.
Aos trinta e três anos já era quase milionário, principalmente por meio de trapaças e ameaças de violência.
No final da década de 1860, Gould investiu pesado na Eire Railroad, depois descobriu que o mercado estava imerso numa quantidade enorme de certificados de ações falsos da empresa. Ele iria perder uma fortuna e passar por muitos constrangimentos.
No meio da crise, um homem chamado Lord John Gordon-Gordon se ofereceu para ajudar.
Gordon-Gordon, um lorde escocês, aparentemente tinha feito uma pequena fortuna investindo em estradas de ferro.
Contratando alguns peritos em caligrafia, Gordon-Gordon conseguiu provar a Gould que os culpados pelos certificados falsos eram na verdade vários altos executivos da própria Erie Railroad. Gould ficou muito agradecido.
Gordon-Gordon então propôs que ele e Gould se juntassem para comprar a maioria das ações da Eire. Gould concordou. Por uns tempos a especulação pareceu prosperar. Os dois homens agora eram bons amigos e todas as vezes que Gordon-Gordon vinha pedir a Gould dinheiro para comprar mais ações. Gould lhe dava.
Em 1873, entretanto, Gordon-Gordon colocou no mercado todas as suas ações, ganhando uma fortuna mas desvalorizando draticamente as ações de Gould.
Depois sumiu.
Investigando, Gould descobriu que Gordon-Gordon na verdade se chamava John Crowningsfield e era filho bastardo de um marinheiro mercante e de uma garçonete de Londres. Antes disso, havia muitas pistas de que Gordon-Gordon era um vigarista, mas o seu ato inicial de “honestidade” e “apoio” deixou Gould tão cego que foi preciso perder milhões para ele perceber a fraude.
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Na antiga China, o duque Wu de Cheng decidiu que era hora de assumir o comando do reino cada vez mais poderoso de Hu.
Sem contar a ninguém o que planejava, casou a filha com o governante de Hu.
Depois reuniu um conselho e perguntou aos ministros: “estou pensando numa campanha militar. Que país devemos invadir?”
Como esperava, um dos seus ministros retrucou. “Hu deve ser invadido”.
O duque pareceu se zangar e disse: “Hu agora é um estado irmão. Por que sugere invadi-lo?” E mandou executar o ministro por sua observação pouco política.
O governante de Hu soube disso e levando em conta outras provas da honestidade de Wu e o casamento com a sua filha, não tomou precauções para se defender de Cheng.
Poucas semanas depois, as forças de Cheng invadiram Hu e tomaram o país, e nunca mais devolveram.
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Quando o duque Hsien de Chin estava para atacar de surpresa Yu, ele presenteou a cidade com uma peça de jade e uma junta de cavalos.
Quando o conde Chih estava para atacar de surpresa Ch’ou-yu, ele os presenteou com duas grandes carruagens.
Daí o ditado:
”Quando se vai tomar, deve-se dar.”
Han-fei-tsé, filósofo chinês, século 3 a.C
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Há mais de três mil anos, os antigos gregos cruzaram o mar para recapturar a bela Helena, raptada por Páris, e destruir a cidade dele, Tróia. O cerco durou dez anos, muitos heróis morreram, mas nenhuma das duas partes chegava perto da vitória.
Um dia, o profeta Calcas reuniu os gregos e disse:”Parem de golpear essas muralhas!”, disse-lhes: “É necessário encontrar uma outra maneira, um ardil. Não podemos tomar Tróia pela força apenas. Temos de encontrar uma estratégia engenhosa.”
O astuto líder grego Ulisses teve então a idéia de construir um gigantesco cavalo de madeira, esconder soldados lá dentro e depois dar de presente aos troianos.
Neoptolemus, filho de Aquiles, não gostou da ideia; não era digno de homens ! Melhor que milhares morressem nos campos de batalha do que alcançar a vitória de uma forma tão dissimulada.
Mas os soldados, entre escolher mais 10 anos de masculinidade, honra e morte, por um lado, e uma rápida vitória por outro, preferiram o cavalo que foi logo construído.
O truque teve êxito e Tróia caiu.
Um presente foi mais vantajoso para os gregos do que 10 anos de lutas.
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O Cavalo de Tróia
A sua astúcia se esconde dentro de um magnífico presente irresistível para o seu adversário.
As muralhas se abrem.
Uma vez lá dentro, destrua tudo.
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Quando eu lanço a isca para o cervo, não atiro na primeira corça que aparece,
mas aguardo até que todo o rebanho esteja reunido.
Otto Von Bismarck, 1815 - 1898
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O caçador de ursos não caça a sua presa; é quase impossível pegar um urso que sabe que está sendo caçado, e ele fica feroz se encurralado.
Em vez disso, o caçador coloca armadilhas com iscas de mel.
Ele não se exaure nem arrisca a sua vida.
Coloca a isca e fica esperando.
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JIMMY SAVILE
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Notícia divulgada no Portal do IG em 04/10/2012
Jimmy Savile, um dos mais célebres apresentadores de TV do Reino Unido, está sendo alvo de uma série de acusações de que ele teria estuprado adolescentes ao longo das décadas de 60 e 70.
Savile, morto em outubro do ano passado, foi DJ de rádio e se tornou uma lenda da TV britânica por ter apresentado populares atrações como o programa Jim I'll Fix It e o lendário programa da parada de sucessos musicais Top of The Pops, da BBC.
Ele também ganhou fama por suas atividades de coleta de fundos para várias entidades beneficentes e hospitais. Ele foi agraciado com o título de 'sir' pela realeza britânica por seu trabalho filantrópico.
As acusações de pedofilia e estupro vieram à tona após a morte do apresentador e constam de um documentário que será exibido na TV britânica e que traz depoimentos de mulheres que dizem ter sido violentadas pelo apresentador quando eram menores de idade.
Documentário
O documentário traz acusações de vítimas que teriam sido abusadas na década de 70, quando Savile estava no auge da fama, como apresentador do Top Of The Pops.
O programa também trata de uma denúncia feita à polícia em 2007 contra o apresentador, de que ele teria abusado sexualmente de uma jovem dentro de um colégio.
De acordo com a mulher que fez a acusação, o ataque teria se dado nos anos 70, mas ela acabou não levando a acusação adiante e o caso foi arquivado pela polícia.
Savile era célebre por sua imagem exótica, ostentando joias de ouro, um charuto e longos cabelos claros. O documentário afirma que Savile usava sua posição como celebridade nacional e aproveitava as maratonas beneficentes por todo o país que realizava para atrair e ganhar a confiança de suas supostas vítimas.
Em entrevista à BBC, uma delas, Katrina Rose, contou ter sido atacada por Savile em 1975, quando tinha 14 anos. Ela afirma que o apresentador convidou-a para conhecer seu estúdio de gravação e, no caminho, chamou-a para ir à sua casa.
''Ele contou que ia pedir um táxi para mim e me ofereceu um chá. Depois, me pediu um abraço. Logo depois, ele estava em cima de mim, com as mãos dentro da minha calcinha. Ele perguntou se eu estava gostando. Eu disse que não'', afirma.
Katrina conta ter relatado, por alto, o que aconteceu a seus pais, mas que nem ela e nem sua família pensaram em fazer uma denúncia. ''A coisa acabou varrida para debaixo do tapete.
Na minha cabeça de menina de 14 anos, pensei, 'ok, deve ser isso que um homem faz'.
Me disseram: 'Você precisa estar preparada para o circo de mídia que isso irá causar. A imprensa vai ficar acampada à sua porta'.
Eu decidi que não seria capaz de arcar com isso. Mas acho que nunca vou parar de me culpar por não ter tido a coragem de levar a coisa adiante e vir a público quando ele ainda estava vivo''.
Uma placa memorial em homenagem a Savile erguida no prédio em que ele viveu no distrito inglês de Scarborough foi vandalizada. A placa trazia os dizeres: 'Sir Jimmy Savile 1926-2011, entertainer e filantropo' e alguém acrescentou à mão a palavra 'pedófilo'.
A polícia britânica também reforçou a segurança no cemitério em que ele está enterrado. Em um comunicado oficial, a BBC se disse ''horrorizada'' com as denúncias contra Savile, entre elas uma de que ele teria violado algumas de suas vítimas dentro da própria BBC. A companhia disse que dará ''pleno apoio'' à polícia durante as investigações.
MORAL DA HISTÓRIA
A vida em sociedade é uma troca, por isso é perigosa.
A falsa honestidade é uma das principais armas dos charlatões para desarmar o previdente, mas não a única.
Qualquer tipo de atitude nobre, aparentemente altruísta, serve.
A generosidade também é muito utilizada.
Raras são as pessoas que resistem a um presente, mesmo do inimigo mais ferrenho.
Um presente desperta em nós a criança, derrubando na mesma hora as nossas defesas.
Apesar de olharmos com descrença o comportamento das outras pessoas, raramente vemos o elemento maquiavélico de um presente, com frequência escondendo segundas intenções.
Um presente pode ser um instrumento para esconder uma grande atitude falsa.
É fundamental aprender a analisar com sabedoria o que lhe dão e o que lhe falam.
Lembre-se:
A chave da persuasão é amolecer as pessoas, derrubá-las gentilmente.
O vigarista trabalha com as suas emoções e com suas fraquezas intelectuais.
Eles ficam alerta tanto ao que distingue suas vítimas dos outros ( a sua psicologia individual ) quanto ao que elas dividem com todo mundo ( suas reações emocionais básicas ).
Quando se mexe com as emoções das pessoas, elas perdem o controle e ficam mais vulneráveis à persuasão.
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É sensato ser polido; por conseguinte, é idiotice ser rude.
Criar inimigos com a falta desnecessária e proposital de civilidade é insensatez tão grande quanto tocar fogo na própria casa.
Porque a polidez é uma moeda reconhecidamente falsa, e com a qual é tolice agir com avareza.
O homem de bom senso será generoso ao usá-la... A cera, substância naturalmente dura e quebradiça, pode se tornar macia aplicando-se um pouco de calor , adquirindo a forma que mais lhe agradar.
Da mesma maneira, sendo polido e gentil, você pode tornar as pessoas dóceis e servis, mesmo que tendam a ser rabugentas e malevolentes.
Portanto, a polidez é para a natureza humana o que o calor é para a cera.
Arthur Schopenhauer, 1788 - 1860
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Socialmente não se comenta que um homem é um grande ator?
Não se está dizendo o que ele sente, mas que é ótimo simulador, embora não sinta nada.
Denis Diderot, 1713 - 1784
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OS LOBOS E AS OVELHAS
Certa vez os lobos enviaram uma embaixada às ovelhas, desejando que dali para frente houvesse paz entre eles.
Eles disseram:
"Por que devemos passar a vida toda nesta luta mortal? A culpa é daqueles cães malvados; estão sempre latindo para nós e nos provocando. Mande-os embora, e não haverá mais obstáculos para a nossa eterna paz e amizade.
" As tolas ovelhas escutaram, despediram os cães e o rebanho, assim privado de seus melhores protetores, se tornou uma presa fácil para os seus traiçoeiros inimigos.
ESOPO, SÉCULO SEXTO a.C
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O LOBO E O CAVALO
Um Lobo saindo de um campo de aveia conheceu um Cavalo e assim falou: “Eu lhe aconselharia que entrasse naquele campo. Está cheio de aveia, e convém dizer que eu saí deixando-o intato para você, como amigo e ouvir seus dentes mastigando, será um prazer".
Eis que o Cavalo respondeu:
“Se aveia fosse comida para os lobos, você nunca favoreceria suas orelhas à custa de sua barriga".
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O LADRÃO E O CÃO DE GUARDA
Um Ladrão foi arrombar uma casa à noite.
Ele trouxe consigo várias fatias de carne que poderiam pacificar o cão de guarda, de forma que seu dono não deveria se alarmar com os latidos.
Como o ladrão lhe lançou os pedaços de carne, o cachorro disse:
"Se você pensa calar minha boca, relaxando minha vigilância, ou até mesmo, para ganhar minha consideração por estes presentes, você está grandemente equivocado.
Tal bondade súbita de suas mãos só me fará mais alerta, para que eu não caia na farsa destes favores inesperados, pois você teria outros propósitos para realizar em seu próprio benefício e para o prejuízo de meu dono.
Além disto, esta não é a hora que eu normalmente sou alimentado, o que me faz suspeitar ainda mais de suas intenções".
MORAL:
"É necessário vigilância para com as “cortesias” alheias, pois elas podem não ser honestas."
A moral deste conto diz bem o quanto é valioso desconfiar de súbitas cortesias.
Parece um filme diário visto por todos, não é mesmo?
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Quando a árvore cai, os macacos se espalham
DITADO CHINÊS
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Nossa imparcialidade diante de nós mesmos tem fronteiras lógicas e psicológicas intransponíveis, mas o continente de parcialidade parece não conhecer limites.
A capacidade humana de julgar com isenção tende a se enfraquecer exponencialmente à medida que nos aproximamos do centro de tudo aquilo que nos move e comove - precisamente quando seria da maior importância uma apreciação serena e imparcial.
Pior: a véu do auto-engano com frequência oculta da visão que tempos de nós mesmos traços e falhas que saltam aos olhos quando o que está em tela é o caráter e a conduta dos que nos cercam.
O ponto cego no olhar adentro deveria ser o olho de lince no olhar afora.
Navegar é preciso, mas ouvidos abertos, olho na bússola e mastro à mão, à prevenção do mal ajudam.
UM ALERTA A MAIS NÃO FAZ MAL A NINGUÉM
Nós escolhemos os fatos em que queremos acreditar.
Escolhemos também nossos amigos, namorado(a)s e cônjuges não apenas por causa da forma como os percebemos, mas pelo modo como eles nos percebem.
Ao contrário dos fenômenos da física, na vida, os eventos com frequência podem obedecer uma teoria ou outra, mas o que acontece na verdade pode depender muito mais da teoria em que escolhemos acreditar.
É um dom da mente humana estar aberta para aceitar a teoria de nós mesmos que nos impulsiona em direção à sobrevivência e até a felicidade e rejeitar as que a contraria.
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COMO OBSERVOU O ECONOMISTA POLÍTICO VITORIANO MACDONELL:
"A malandragem só pode ser lucrativa enquanto a honestidade é a regra geral"
Fonte: Survey of Political Economy. pág.59
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Link para uma palestra sobre pessoas cínicas e dissimuladas
https://www.youtube.com/watch?v=VyKy0X5UvvE