CHARLATÃO  E AS FANTASIAS  HUMANAS

 
 
 
 
 

 

 Os charlatães sabem que as pessoas para compensarem as suas dificuldades na vida gastam uma boa parte do seu tempo divagando, imaginando um futuro cheio de aventuras, sucesso e romance. 

 
 

Se conseguir criar a ilusão de que, por seu intermédio, poderão realizar o que sonham, elas ficarão à sua mercê.

 
 

 Eles  começam devagar conquistando a confiança de suas vítimas, construindo aos poucos a fantasia que combina com os seus desejos secretos, frustrados ou reprimidos, obscurecendo a capacidade de raciocinar. 

 
 

A ilusão perfeita é a que não se afasta muito da realidade, mas que tem um toque de irreal, como sonhar acordado. 

 
 

Eles conduzem suas vítimas a um ponto de confusão em que elas não percebam mais a diferença entre ilusão e realidade.

 

 

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"O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. 

 

Quem é capaz  de compreendê-lo ?

 

 

Jeremias 17:9

 

 

 

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METÁFORA

 

 

O maior perigo é o morno porque o quente e o frio  percebe-se  de pronto, mas ao morno não nos ligamos muito e é aí que pode está  o dano

 

 

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A cidade-estado de Veneza prosperou enquanto seus cidadãos sentiram que sua pequena república tinha o destino a seu favor. Durante a idade média e o Alto Renascimento, devido ao seu virtual monopólio do comércio com o Oriente ela foi a cidade mais rica da Europa. Com um governo republicano generoso, os venezianos gozavam de liberdades que poucos italianos conheceram. Mas, no século XVI, a sorte mudou de repente.  A descoberta do Novo Mundo transferiu o poder para a costa atlântica da Europa – para  os espanhóis e portugueses, e depois para os holandeses e ingleses. Veneza não podia competir economicamente e seu império aos poucos encolheu.

 

 

As famílias nobres começaram a falir em Veneza, e os bancos começaram a quebrar. Uma espécie de melancolia e depressão baixou sobre os cidadãos. Eles tinham conhecido um passado brilhante – eles tinham vivido ou escutado os mais velhos contarem essa história. O término de uma fase de glórias era humilhante. Os venezianos queriam acreditar que a deusa da Fortuna estava lhes pregando uma peça, e que os velhos tempos retornariam em breve. Mas, por enquanto, o que fazer?

 

 

Em 1589, correram boatos em Veneza sobre a chegada ali perto de um homem misterioso chamado “Il Bragadino”, mestre alquimista, um homem que havia acumulado uma riqueza incalculável com sua capacidade, dizia-se, de fazer ouro usando uma substância misteriosa.

 

 

A notícia se espalhou rapidamente porque, alguns anos antes, um nobre veneziano, ao passar pela Polônia, ouviu um estudioso profetizar que Veneza recuperaria a sua passada glória e poder se encontrasse um homem que conhecesse a arte alquímica de fazer ouro. E assim, quando se soube em Veneza do ouro que este Bragadino possuía – ele estava sempre fazendo tilintar nas mãos as moedas, e seu palácio estava repleto de objetos de ouro - , teve gente que começou a sonhar: por seu intermédio, a cidade voltaria a prosperar.

 

 

Membros das famílias nobres mais importantes de Veneza se juntaram para ir a Brascia, onde morava Bragadino. Passearam pelo seu palácio e assistiram espantados enquanto ele mostrava como  fazia ouro pegando uma pitada de minerais aparentemente sem valor e transformando-os em vários gramas de ouro em pó.

 

 

O senado veneziano preparava-se para discutir a ideia de um convite oficial a Bragadino para hospedar-se em Veneza à custa da cidade, quando souberam que estavam competindo com o duque de Mântua. Ouviram falar de uma festa magnífica no palácio de Bragadino para o duque, com roupas enfeitadas com botões dourados, relógios de ouro, pratos de ouro, e outras coisas mais.

 

 

Preocupados com a possibilidade de perder Bragadino para Mântua, o senado votou quase unanimemente a favor de convidá-lo para ir a Veneza, prometendo-lhe a montanha de dinheiro necessária para sustentar o seu estilo luxuoso – mas ele tinha de ir imediatamente.

 

 

No final daquele ano, o misterioso Bragadino chegou a Veneza. Com seus olhos escuros e penetrantes sob as espessas sobrancelhas, e os dois enormes mastins negros que o acompanhavam por toda a parte, era uma figura impressionante e ameaçadora.

 

 

Ele fixou residência num palácio suntuoso na ilha de Judeca, com a república custeando seus banquetes, roupas caras e todos os seus caprichos. Uma febre de alquimia se espalhou por toda a Veneza. Nas esquinas, vendedores ambulantes vendiam carvão, aparelhos para destilação, foles, manuais sobre o assunto. Todos começaram a praticar alquimia – todos, menos Bragadino.

 

 

O alquimista parecia não ter pressa em começar a produzir o ouro que salvaria Veneza da ruína. Curiosamente, isto só aumentava a sua popularidade e o número de seguidores; vinha gente de toda a Europa, até da Ásia, para conhecer este homem notável. Passavam-se os meses e chegavam presentes para Bragadino de todos os cantos. Mas ele não dava sinal do milagre que os Venezianos confiavam tanto que ele realizasse. Os cidadãos no final estavam impacientes, querendo saber se iam ter de esperar a vida toda.

 

 

No início os senadores aconselharam a não apressar o homem – era um diabo caprichoso que precisava ser bajulado. Acabou que a nobreza também começou a duvidar e pressionou o senado para mostrar um retorno do investimento cada vez maior que a cidade estava fazendo.

 

 

Bragadino não estava dando a mínima importância para os que duvidavam dele, mas respondeu. Disse que já estava depositada na casa da moeda da cidade a substância misteriosa  com a qual multiplicaria o ouro. Ele poderia usar a substância toda de uma só vez, e dobrar a quantidade de ouro, mas o processo, quanto mais demorado, mais produtivo seria. Se a deixassem descansando por uns sete anos, num cofre selado, a substância multiplicaria por trinta a quantidade de ouro existente na casa da moeda.

 

 

Os senadores, na sua maioria, concordaram em esperar pela mina de ouro que Bragadino prometia. Outros, entretanto, ficaram zangados: mais sete anos com esse homem vivendo regiamente à custa da gamela pública! E muitos cidadãos plebeus de Veneza fizeram eco a esses sentimentos. Finalmente os inimigos do alquimista exigiram que ele desse uma prova das suas habilidades: queriam uma quantidade substancial de ouro, e logo.

 

 

Altivo, aparentemente dedicado a sua arte, Bragadino respondeu que Veneza, na sua impaciência, o havia traído e, portanto, perderia os seus serviços. Ele deixou a cidade, indo primeiro para a vizinha Pádua, depois, em 1590, para Munique, a convite do duque da Baviera, que, igual a toda Veneza, tinha sido muito rico mas falira devido aos seus próprios excessos e esperava recuperar a fortuna com os serviços do famoso alquimista. E assim Bragadino retomou a confortável posição que experimentara em Veneza, e a história se repetiu.

 

 

INTERPRETAÇÃO

 

 

O jovem cipriota Mamugnà já tinha vivido muitos anos em Veneza antes de encarnar o alquimista Bragadino. Ele viu a tristeza tomar conta da cidade, todos esperando que a redenção viesse sabe-se lá de onde. Enquanto outros charlatões usavam a prestidigitação nas suas trapaças corriqueiras, Mamugnà era mestre na natureza humana.

 

 

Tendo Veneza na mira desde cedo, ele viajou, fez algum dinheiro com seus truques alquímicos e, depois, voltou para a Itália, estabelecendo-se em Bracia.  Lá ele criou uma reputação que, ele sabia, chegaria até Venezia. Vista de longe, a sua aura de poder seria ainda mais imponente.

 

No início, Mamugnà não fazia demosntrações vulgares para convencer as pessoas da sua habilidade alquímica. 

 
 

A suntuosidade do seu palácio, a riqueza das suas vestes, o tilintar do ouro nas mãos, tudo isso era um argumento superior a qualquer ideia racional. 

 
 
 

E era o que estabelecia o ciclo que o mantinha atuante: a riqueza óbvia reforçava a reputação de alquimista e aí patronos como o duque de Mântua lhe davam mais dinheiro, o que lhe permitia viver luxuosamente e reforçava a sua reputação de alquimista, e assim por diante. 

 
 

Só quando a sua reputação já estava estabelecida, e ele era disputado por duques e senadores, é que recorria á fútil necessidade de uma demonstração. 

 
 

Mas então era fácil enganar as pessoas: 

 
 

elas queriam acreditar.

 

Os senadores venezianos que o viram multiplicar ouro queriam tanto acreditar nisso  que não perceberam o cilindro de vidro escondido na manga, de onde ele deixava escorregar ouro em pós nas suas pitadas de minerais. 

 
 

Inteligente e caprichoso, ele era o alquimista dos seus sonhos – e depois de criar uma aura como essa, ninguém notava as suas simples fraudes.

 

 

Tal é o poder das fantasias que tomam conta de nós, especialmente em épocas de escassez e declínio. 

 
 

As pessoas raramente acreditam que a origem dos seus problemas é a sua própria iniquidade e estupidez.

 
 

 A culpa é sempre de alguém ou alguma coisa externa – o outro, o mundo, os deuses – e, portanto, a salvação também vem de fora.

 

Se Bragadino tivesse chegado a Veneza armado com uma análise detalhada dos motivos do declínio econômico da cidade, e dos passos inflexíveis necessários para reverter a situação, ninguém o teria levado a sério. 

 
 

A realidade era feia demais e a solução muito dolorosa – na maior parte o tipo de esforço que os ancestrais já haviam concentrado para criar um império.  

 
 

A fantasia, por outro lado – neste caso, o fascínio da alquimia – era fácil de compreender e infinitamente mais apetitosa.

 

Para conquistar o poder, o charlatão tona-se uma fonte de prazer para as vítimas que o cercam – e o prazer vem de brincar com as fantasias dessas pessoas. Eles não prometem uma melhoria gradual por meio do trabalho árduo; pelo contrário, prometa-lhes a lua, a grande e súbita transformação, o pote de ouro.

 

 

 
 
 

Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável

 
 

Não apele para o que é verdadeiro ou real se não estiver preparado para enfrentar a raiva que vem com o desencanto. 

 

A  vida é tão dura e angustiante que as pessoas capazes de criar romances ou invocar fantasias são como oásis no meio do deserto: todos correm até lá, mesmo sabendo que um oásis não passa de um simples oásis!

 

A chave da fantasia é a distância

 
 

O que está distante fascina e promete, parece simples e sem problemas. 

 
 

A fantasia não atua sozinha. 

 
 

É a opressão da realidade que permite à fantasia enraizar-se e florescer. 

 
 

Na fantasia que domina as massas, fique de olho nas trivialidades que pesam tanto sobre todos nós. 

 

Não se distraia com os retratos glamourosos que as pessoas fazem de si mesmas, das suas vidas e das coisas.

 

 

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A CORTINA DO TEATRO

 

No palco, as dobras pesadas vermelho-escuras da cortina atraem o seu olhar com a sua superfície hipnótica. Mas o que realmente fascina e atrai você é o que você pensa que possa estar acontecendo por trás da cortina - aluz que escapa pelas frestas, a sugestão de um segredo, de algo que está para acontecer. Você sente a emoção de um voyeur prestes a assistir a uma performance.

 

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AS NUVENS

 

nas nuvens, é difícil ver as coisas com precisão. Tudo parece vago; a imaginação dispara, enxergando coisas que não existem ali. Suas palavras devem levar as pessoas até as nuvens, onde é fácil para elas se perderem.

 

 

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O charlatão eficiente compreende e aplica a arte de servir às massas. Ele apela à imaginação das pessoas, despertando sua curiosidade e mantendo seu interesse. O bom charlatão reconhece rapidamente preconceitos, tendências, preferências e antipatias e age de acordo, no momento psicológico adequado. Portanto, cuidado com as pessoas de personalidade muito "agradável".

 

 

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O TESOURO ENTERRADO

 

 

Muita gente tola nas cidades espera descobrir riquezas debaixo da terra e lucrar com isso.  No Maghrib existem muitos ‘estudantes’ berberes incapazes de ganhar a vida normalmente. Eles mostram para as pessoas ricas alguns papéis rasgados nas margens e com textos redigidos numa língua diferente do árabe, ou então dizem ser a tradução de um documento escrito pelo proprietário de um tesouro dando a pista do local secreto onde ele foi enterrado. Assim eles procuram se sustentar, convencendo os ricos a mandá-los cavar para achar o tesouro.

 

 

Ocasionalmente, um destes caçadores de tesouros dá uma informação estranha ou faz algum truque notável de mágica para que as pessoas acreditem no que ele vai continuar dizendo, embora não entenda nada de mágicas e de como elas funcionam [...] O que foi dito sobre caça ao tesouro não tem base científica, nem se baseia em informações reais.

 

 

Deve-se perceber que, embora se encontrem tesouros, isto só acontece raramente e por acaso, nunca sistematicamente... Quem se ilude ou aflige com essas coisas deve pedir a Deus que o proteja da sua incapacidade de se sustentar e da sua preguiça nesse sentido. As pessoas não devem se ocupar com histórias absurdas e mentirosas.

 

O MUQADDIMAH, IBN KHALDÚN, 1332-1406

 

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Depois que Francisco Pizarro conquistou o Peru, em 1532, o ouro do Império Inca começou a jorrar na Espanha, e espanhóis de todas as classes começaram a sonhar com a possibilidade de fortuna rápida no Novo Mundo. 

 
 

Logo se espalhou a história de um chefe indígena, a leste do Peru, que uma vez por ano se cobria ritualmente de ouro em pó e mergulhava num lago. O boato não demorou a transformar o El Dorado, o “Homem Dourado” num império chamado El Dorado, mais rico do que o inca, onde as ruas eram pavimentadas e os prédios cobertos de ouro. 

 
 

A história inventada parecia plausível, porque um chefe capaz de desperdiçar ouro em pó num lago certamente deveria governar um império dourado. 

 
 

Em breve os espanhóis estavam buscando o El Dorado por toda a América do Sul.

 

 

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O PROFETA

 

Um Mago Feiticeiro, sentado na feira, dizia as sortes de quem passasse por ali. 

 

Alguém, subitamente apareceu correndo até ele e anunciou que as portas da sua casa tinham sido arrombadas e que todos seus bens estavam sendo roubados. 

 

Ele suspirou pesadamente e correu tão rápido quanto podia. 

 

Um vizinho que o viu correndo, sabendo ser uma brincadeira, disse: 

 

"Oh! Você acredita nesse paspalho? 

 

Você diz que pode predizer as sortes dos outros; como não previu a sua própria"?

  

MORAL

 

“Santo de casa não faz milagres!”

 
“Casa de ferreiro, espeto de pau”



 A fábula de hoje nos alerta que não devemos prometer aos outros algo que não faríamos a nós próprios, depõe contra nossa moral.

 

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Com todos os grandes impostores existe uma ocorrência notável à qual eles devem o seu poder. 

 

No próprio ato da fraude eles são dominados pela crença em si mesmos:  

 

é isto que vai transparecer de forma tão milagrosa e atraente para os que o cercam.

 

Friedrich Nietzsche, 1844 - 1900

 

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Embora os tempos e as pessoas mudem, vamos examinar algumas das realidades opressivas que não mudam, e as oportunidades de poder que elas proporcionam:

 

 

A Realidade

 

A mudança é lenta e gradual. 

 

Exige muito trabalho, um pouco de sorte, uma quantidade razoável de sacrifício pessoal e muita paciência.

 

A fantasia

 

Uma transformação repentina provocará uma mudança total no destino de uma pessoa, evitando o trabalho, a sorte, o sacrifício pessoal e a demora de um só golpe fantástico.

 

Esta é a fantasia por excelência dos charlatões que até hoje ficam nos rondando.  Prometa uma grande e radiacl mudança – da pobreza para a riqueza, da doença para a saúde, da miséria para o êxtase – e você terá seguidores.

 

O que fez o grande trambiqueiro alemão do século XVI, Leonhard Thurneisser, para se tornar médico da corte do príncipe de Brandenburgo sem nunca ter estudado medicina?  Em vez de receitar amputações, ventosas e purgativos de gosto ruim ( medicamentos da época ), Thurneisser oferecia elixires adocicados e prometia recuperação imediata. Os cortesãos sofisticados, especialmente, queriam a sua solução de “ouro potável” que custava uma fortuna. Para aqueles que eram atacados por uma doença inexplicável, Thurneisser consultava um horóscopo e receitava um talismã. Quem resistia a essa fantasia – riqueza e bem-estar sem dor nem sacrifícios!

 

A realidade

 

A sociedade tem códigos e limites bem definidos. Nós compreendemos estes limites e sabemos que temos que nos mover dentro dos mesmos círculos familiares, dia e noite.

 

A fantasia

 

Podemos entrar num mundo totalmente novo, de códigos diferentes e com a promessa de aventuras.

 

No início do século XVIII, toda a Londres se alvoroçou com os boatos sobre um estranho misterioso, um jovem chamado George Pslmanazar. Ele acabara de chegar de um terra que a maioria dos ingleses julgava fantástica: a ilha de formosa ( hoje Taiwan ), na costa da China.

 

A Universidade de Oxford contratou Psalmanazar para ensinar a língua que se falava naquela ilha e , em seguida, escreveu um livro – que se tornou logo um Best-seller – sobre a história e a geografia de Formosa. 

 

A realeza inglesa recebia prodigamente o jovem e ele, onde quer que fosse, divertia seus anfitriões com histórias maravilhosas sobre a sua terra natal e seus costumes bizarros.

 

Quando Psalmanazar morreu, entretanto, seu testamento revelou que ele era apenas um francês com uma fértil imaginação. Tudo que ele contara sobre Formosa – seu alfabeto, seu idioma, sua literatura, toda a sua  cultura – era invenção sua.

 

Ele se baseou na ignorância de seus ouvintes para inventar uma complicada história que satisfazia um desejo pelo que era estranho e exótico.  O rígido controle da cultura britânica sobre os perigosos sonhos das pessoas lhe deu uma oportunidade ótima para explorar as suas fantasias.

 

A Realidade

 

A sociedade é fragmentada e cheia de conflitos.

 

A Fantasia

 

As pessoas podem se juntar numa união mística de almas.

 

Na década de 1920, o trapaceiro Oscar Hartzell ficou rico de repente com o velho truque de Sir Francis Drake – que prometia basicamente a qualquer otário que tivesse o sobrenome “Drake” uma boa parte do desaparecido “tesouro de Drake”, ao qual Hartzell tinha acesso. Milhares de pessoas de todo o Meio-Oeste caíarm no logro, que  Hartzell espertamente transformou numa cruzada contra o governo e todos que tentassem impedir que a fortuna de Drake chegasse às mãos de seus legítimos herdeiros.

 

Criou-se uma união mística ( uma fantasia para demagogos ) dos oprimidos Drake, com encontros e comícios exaltados. 

 

A realidade

 

Morte. Os mortos não voltam, não se muda o passado.

 

A fantasia

 

Uma súbita inversão deste fato intolerável.

 

Há muito tempo que se reconhece a beleza e a importância da arte de Vermeer, mas seus quadros são poucos, e extremamente raros. Na década de 1930, entretanto, começaram a surgir Vermeer no mercado de arte. Chamaram especialistas para conferir e eles garantiram que eram autênticos. Possuir um destes novos Vermeer seria o auge da carreira de um colecionador. Era como a ressurreição de Lázaro:curiosamente, Vermeer tinha ressuscitado. Alterou-se o passado.

 

Só mais tarde se soube que os novos Vermeer eram obra de um falsário holandês de meia-idade, um tal Han Van Meegeren. Ele ele tinha escolhido Vermeer porque compreendeu o mecanismo da fantasia: os quadros pareciam reais exatamente porque o público e os especialistas também queriam muito acreditar que eram.

 

A chave da fantasia é a distância. O que está distante fascina e promete, parece simples e sem problemas. O charlatão oferece o que é inalcançável, não deixa que se torne opressivamente familiar; é a miragem criada lá longe que vai se afastando conforme o tolo se aproxima. Como um forjador de fantasias, todo charlatão as mantém indefinida e deixam as vítimas se aproximarem o bastante para verem e sentirem-se tentadas, mantendo-as  porém afastada o suficiente para continuarem sonhando e desejando.

 

 

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A LUA

 

Inatingível, sempre mudando de forma, desaparecendo e reaparecendo. Nós a olhamos, imaginamos, nos maravilhamos e ansiamos por ela – jamais familiar, continua provocadora de sonhos.

Não ofereça o óbvio. Prometa a Lua

 

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A mentira é um feitiço, uma invenção que pode ser ornamentada como uma fantasia. Pode estar revestida com ideias místicas. A verdade é fria, sóbria, não tão confortável de se assimilar. A mentira é mais apetitosa. A pessoa mais detestável do mundo é a que sempre fala a verdade, nunca romanceia... Eu acho sempre mais interessante e lucrativo romancear do que dizer a verdade.

 

Joseph Weil, vulgo “The Yellow Kid”, 1875 – 1976

 

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Nenhum homem precisa se desesperar para convencer os outros das suas hipóteses mais extravagantes se tiver arte suficiente para apresentá-las em cores favoráveis

 

David Hume, 1711 - 1776

 

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Se puder contar a verdade na forma de mentiras que pareçam verídicas, não conte a verdade da forma na qual ninguém vai acreditar.

Imperador Tokugawa Ieyasu do Japão, século XVII

 

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Aqui começa a verdadeira jornada pela terra encantada de Potemkin.

Foi como um sonho - o sonhar de olhos abertos do mágico que descobriu o segredo de materializar suas visões (...) [Catarina] e seus companheiros tinham deixado para trás o mundo da realidade.(...) A conversa deles era sobre Efigênia e os antigos deuses, e Catarina sentiu-se como sendo ao mesmo tempo Alexandre e Cleópatra.

 

Gina Kaus

 

 

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SÍMBOLO

 

XANGRI-LÁ

 

 

Todos guardam em suas mentes a visão de um lugar perfeito onde as pessoas são gentis e nobres, onde seus sonhos e desejos podem se realizar, onde a vida é repleta de aventuras e romance. Conduza o seu alvo até lá, dê-lhe um vislumbre do Xangri-Lá por entre a névoa da montanha, e ele se apaixonará.

 

 

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As massas nunca tiveram sede de verdade. 

 

Constantemente, elas querem ilusões e não vivem sem elas. 

 

Constantemente, elas dão ao irreal a precedência sobre o que é real; são quase tão intensamente influenciadas pela mentira como pelo que é verdade. 

 

Têm uma evidente tendência a não distinguir entre as duas

 

SIGMUND FREUD,

 

THE STANDARD EDITION OF THE COMPLETE PSYCHOLOGICAL WORKS OF SIGMUND FREUD,

 

VOLUME 18

 

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O ÍDOLO

 

Uma pedfra esculpida com a forma de um Deus, talvez cintilante de ouro e pedras preciosas. Os olhos dos adoradores encherão de vida a pedra, imaginando que ela possui poderes reais. Sua forma lhes permite ver o que desejam ver - um deus - , mas é, na verdade, apenas um pedaço de pedra.

 

O Deus vive em suas imaginações.

 

 

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METEOROLOGISTAS PAGAM O PREÇO PELAS INSTABILIDADES DA NATUREZA

 

 

"Por que eles me culpam, doutor?" Era a voz insegura de um meteorologista da TV local ao telefone. Isso é loucura, não é? Todo mundo sabe que eu apenas informo a previsão do tempo, que estou apenas repetindo informações fornecidas por computadores e meteorologistas do National Weather Service. Por que ouço tantas críticas quando faz tempo ruim? Por que é atrás do rosto na tela da televisão que as pessoas vão? Durante as enchentes do ano passado recebi um monte de e-mails agressivos! Um sujeito ameaçou me dar um tiro se não parasse de chover,..[...]

 

Exemplos dessa reação não faltam na vida moderna. A explicação exige um pouco de história antiga. Lembremos do destino incerto dos mensageiros imperiais da antiga Pérsia. De posse da notícia da vitória, era tratado como herói ao chegar ao palácio. Poderia comer e beber até se fartar. Mas, se a mensagem fosse de um desastre militar, a recepção seria bem diferente: ele acabaria sendo sumariamente assassinado.

 

A moral da história é a seguinte: a natureza da má notícia contagia o mensageiro. Existe uma tendência humana natural a desgostar de uma pessoa que traz informações desagradáveis, ainda que ela não tenha causado a má notícia. A simples associação basta para estimular nossa aversão. Seja um mensageiro de boas notícias, deixe as más para os outros !!!

 

O princípio da associação é geral, governando tanto as associações negativas quanto as positivas. Lembra-se de como os pais viviam alertando que não brincássemos com os moleques na rua ? Conhece o ditado "Diga-me com quem andas e te direi quem és? " Os pais estavam ensinando a culpa por associação. E estavam certos. As pessoas de fato presumem que temos os mesmos traços de personalidade de nossos amigos.

 

Fonte: As armas da persuasão.  Robert B. Cialdini. com adaptações.

 

 

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Link para uma palestra sobre pessoas  cínicas e dissimuladas

 

https://www.youtube.com/watch?v=VyKy0X5UvvE

 
 
 

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A multidão se encanta com a tolice e não presta qualquer atenção a um bom conselheiro

 

 

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A vida do homem consiste num a milícia contra a malícia do homem.

 
 

A astúcia luta com estratégias de intenção. Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta.

 
 

A fim de conquistar atenção e a confiança dos outros, deixa transparecer um intento. Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa.

 
 

A inteligência perspicaz previne-se da astúcia observando-a detidamente, espreita-a com cuidado, entende o oposto do que a astúcia quis que compreendesse e percebe de imediato as falsas intenções.

 
 

A inteligência ignora a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira. A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto e tenta enganar contando a verdade. Muda de jogo,engana com a aparente falta de malícia. Sua astúcia se baseia na maior franqueza.

 
 

Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela. Assim é a luta da astúcia de Pitão (a gigantesca serpente aniquilada por Apolo ao pé do monte Parnarso) contra a franqueza dos penetrantes raios de Apolo.

 
 

Baltazar Gracian – A  Arte da Prudência

 

 

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"Aja de forma que você possa lembrar o  passado com gratidão, alegrar-se com o presente e encarar o futuro sem medo”

 

Epicuro

 

 

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Texto compilado extraído de livro dos autores Robert Greene e Joost Elffers