DA  DEPENDÊNCIA

 

Para manter a sua independência você deve sempre ser necessário e querido.

 
 

Quanto mais dependerem de você, mais liberdade você terá.

 

 

A LEI TRANSGREDIDA

 

Certa vez, na Idade Média, um soldado mercenário ( um condottiere )  salvou a cidade de Siena de um agressor estrangeiro. 

 
 

Como os bons cidadãos de Siena iriam recompensá-lo? 

 
 

Não há dinheiro ou homenagens que paguem a liberdade. 

 
 

Os cidadãos pensaram em fazer o mercenário senhor da cidade, mas até isso eles decidiram não bastava. 

 
 

Finalmente, um deles tomou a palavra na assembleia reunida para debater a questão e disse: 

 
 

Vamos matá-lo e depois o adoramos como nosso santo patrono”. 

 
 

E assim fizeram.

 

O  Conde  de Carmagnola,  entre todos os condottieri, foi um dos mais valentes e bem-sucedidos. Em 1442 ele  recebeu um chamado de Veneza . Favorito do povo, ele foi recebido com todas as honras e esplendores. Naquela noite ele ia jantar com o  duque  no palácio ducal.

 

A caminho do palácio, entretanto, ele notou que a guarda o conduzia por um caminho diferente do de costume. 

 
 

Ao cruzar a famosa Ponte dos Suspiros, ele percebeu para onde estavam  indo – para a masmorra.

 
 

 Ele foi condenado sob uma acusação falsa e no dia seguinte, na Praça São Marco, diante de uma multidão horrorizada que não conseguia entender como o seu destino havia mudado tão radicalmente, ele foi degolado.

 

 

INTERPRETAÇÃO

 

 

Muitos grandes condottieri do renascimento na Itália sofreram o mesmo destino do santo patrono de Siena e do Conde de Carmagnola: venceram várias batalhas seguidas para seus patrões para se verem no final banidos, presos ou executados.

 

O problema para o condottieri  não  era  apenas   o pêso  da  gratidão  devida  por  aqueles a quem não interessava o seu prestígio,  é que havia muitos outros  condottieri  tão capazes e valentes quanto eles.

 
 

Eles eram facilmente substituíveis.  

 
 

Nada se perdia matando-os. 

 
 

Era muito melhor, portanto, acabar com eles e contratar um mercenário mais jovem e mais barato. 

 
 

Esse foi o destino do conde de Carmagnola que estava começando a se mostrar petulante e independente. 

 
 

Ele estava tão certo do seu poder que não se preocupava em ser  verdadeiramente indispensável.

 

Esse é o destino ( em um grau menos violento, espera-se) de quem não faz com que os outros dependam dele. 

 
 

Mais cedo ou mais tarde, surge alguém capaz de fazer o mesmo trabalho com a mesma eficiência – alguém mais jovem, mais disposto, mais barato, menos ameaçador.

 

Seja a única  pessoa capaz de fazer o que você faz e trance o destino de quem o contrata de tal forma com o seu que seja impossível livrar-se de você. 

 
 

Do contrário, você um dia será forçado a cruzar a sua própria Ponte dos Suspiros.

 
 
 

OUTRO  EPISÓDIO DE TRANSGRESSÃO À SABEDORIA

 

 

Benedetto Spera, chefão siciliano, passou anos fugindo. Como convidado na casa de seus homens, Spera punha os pés no sofá e se tornava o rei do pedaço. Como se mandar nos homens na frente da família ainda não fosse humilhação suficiente, ele esgotava as esposas com pedidos incessantes.

 

 

Ao contrário de Spera, bernanrdo Provenzano, outro chefão da máfia siciliana, viveu fugindo durante 40 anos. Ninguém o entregou. Provenzano gostava da hospitalidade recebida em inúmeras casas e mostrava estar agradecido de todas as formas. Depois que os anfitriões serviam o jantar, ele lavava as louças e varria o chão.

 

 

Quando se é chefe, as pessoas farão o possível para agradá-lo. Não aceite isso como natural. Uma gentileza volta dez vezes maior, e nos protege do mal, como o alho.

 

Uma refeição grátis nunca é de graça, mas ninguém sabe disso.

 

 

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A LEI OBSERVADA

 

Luis XI ( 1423-1483), o grande rei Aranha da França, tinha um fraco por astrologia. Na corte havia um astrólogo a quem ele admirava até que um dia o homem previu que uma senhora da corte morreria dentro de oito dias.  Quando a profecia se realizou, Luís ficou assustadíssimo, achando que o homem tinha assassinado a mulher para provar a sua competência ou então era tão versado na ciência que seus poderes representavam uma ameaça para o próprio Luís. De uma forma ou de outra, ele tinha de morrer.

 

Uma noite Luís mandou chamar o astrólogo até o seu quarto, no alto do castelo. Antes que ele chegasse, o rei disse aos criados que faria um sinal para eles erguerem o astrólogo, levá-lo até a janela e atirá-lo de  cima, a quase cem metros de altura.

 

O astrólogo chegou logo, mas antes de dar o sinal, Luís resolveu lhe fazer uma pergunta:  

 
 

 ” Você diz conhecer astrologia e saber o destino das pessoas, então me diga qual será o seu destino e quanto tempo ainda viverá.”  

 
 

Eis que  o astrólogo respondeu: 

 
 

“ Morrerei três dias antes de Vossa Majestade”. 

 
 

O rei não deu o sinal. A vida do homem foi poupada. O rei aranha não só protegeu o  astrólogo durante toda a sua vida, como o enchia de presentes e fazia questão de que fosse tratado pelos melhores médicos da corte.  O astrólogo morreu anos depois da morte do rei, desmentindo o seu poder de profecia mas provando a sua perícia no poder.

 

 

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Durante o Renascimento, a maior dificuldade para o sucesso de um pintor era  encontrar o patrono certo. Ninguém melhor do que Michelangelo sabia disso: seu patrono foi o papa Julio II. Mas os dois discutiram sobre a construção do túmulo de mármore do papa e Michelangelo deixou Roma desgostoso. 

 
 

Para espanto das pessoas que giravam em torno do papa, não só ele não despediu o artista, como foi atrás dele e, no seu jeito arrogante, lhe  implorou que ficasse. 

 
 

Michelangelo, ele sabia, poderia encontrar outro patrono, mas ele jamais encontraria um outro Michelangelo

 
 

Você não precisa ter o talento de um Michelangelo, basta uma habilidade que o destaque da multidão.

 
 
 

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RICHELIEU,  MARIA DE MEDICI   E  O  REI  LUIS

 

 

Em 1623, o rei Luís enfrentava dificuldades. Não tinha ninguém de confiança para aconselhá-lo e, apesar de não ser mais um menino, continuava infantil e as questões de Estado eram difíceis para ele. 

 
 

Agora que ele havia assumido o trono, Maria não era mais a regente e teoricamente não tinha mais poder, mas o filho ainda a escutava e ela lhe dizia sempre que Richelieu era o seu único salvador possível. 

 
 
 

No início, Luís não queria ouvir – odiava o cardeal  e só suportava por amor a Maria. No final, entretanto, isolado na corte e tolhido por suas próprias indecisões, ele concordou com a mãe e nomeou Richelieu primeiro para o posto de conselheiro-chefe, em seguida para o de primeiro-ministro.

 

Agora Richelieu não precisa  mais de Maria de Medici. Deixou de visitá-la e cortejá-la, não ouviu mais as suas opiniões, até discutia com ela e contrariava seus desejos. Mas se concentrava no rei, fazendo-se indispensável ao seu novo senhor

 

Todos os ministros anteriores, compreendendo a infantilidade do rei, tinham tentado mantê-lo afastado dos problemas; o astuto Richelieu o manobrou de outra forma, empurrando-o deliberadamente de um projeto ambicioso para outro, tais como uma cruzada contra o huguenotes e, finalmente, uma prolongada guerra com a Espanha.

 

A extensão destes projetos só tornava o rei mais dependente do seu poderoso ministro, o único homem capaz de manter a ordem no reino. E assim, durante dezoito anos, Richelieu, explorando as fraquezas do rei, governou e moldou a França de acordo com a sua própria visão, unificando o país e fazendo dele uma forte potência européia por vários séculos.

 

 

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O MODELO  É  ESTE

 
 

 Faça com que os outros dependam de você. Livrar-se de você pode significar um desastre, até a morte, e o seu senhor não ousará desafiar a sorte tentando descobrir se isso é verdade. 

 
 

Há muitas maneiras de alcançar essa posição. 

 
 

A principal é possuir talento e capacidade criativa insubstituíveis

 
 

Se essa situação comumente impossível também não for o seu caso, procure  agir de modo responsável, honesto, pró-ativo, produtivo  e conquiste o seu lugar  sendo o melhor entre os seus pares, fazendo o seu melhor de si  no ambiente em que estiver.

 
 
 

Nos tempos medievais,  os guardiões da Lei,  os mantenedores da ordem e da segurança, os guerreiros mais nobres e, acima de tudo, o Rei, como a mais elevada forma de guerreiro, juiz e defensor da lei, pertenciam a um grupo de pessoas menos intelectuais  e mais ambiciosos pelo Poder.  

 
 

Conduto, nem mesmo eles sabiam que  constituíam o elemento executivo dos intelectuais.  Sim, O Rei – figura importante nos filmes  –  era um mero executivo da casta dos intelectuais. Representavam os interesses daqueles mais inteligentes que lhes estavam mais próximos, os aliviando de tudo que há de grosseiro no trabalho de liderar – eram  seu séquito, sua mão direita, os seus melhores discípulos para lhes suprir essa necessidade.

 
 
 

UM ÚLTIMO AVISO

 
 
 

não pense que o senhor, porque depende de você, vai amá-lo. De fato, ele pode se ressentir e ter medo de você. Mas, como disse Maquiavel, é melhor ser temido do que amado. 

 
 

O medo você pode controlar, o amor, não. Depender de sentimentos tão sutis e inconstantes como amor ou amizade só deixa você inseguro. 

 
 

É melhor que os outros dependam de você por temer as consequências de perdê-lo do que por gostar da sua companhia.

 
 
 

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OS  DOIS  CAVALOS

 

 

Dois cavalos transportavam duas cargas. O da frente ia bem, mas o de trás era preguiçoso. Os homens começaram a empilhar a carga do cavalo de trás sobre o da frente, depois de transferirem tudo, o cavalo de trás, aliviado, disse para o da frente:” LABUTA  E  SUA !   SUA BESTA !! Quanto mais você prestar, mais terá de sofrer.”

 

Ao chegar à taverna , o dono falou: “ Por que devo alimentar dois cavalos se transportei tudo num só ? É melhor dar a um toda a comida que ele quiser, e cortar a garganta do outro. Pelo menos aproveito o couro.”  E assim fez .

 

 

MORAL 

 

O Tolo julga os seus movimentos por seus feitos de curto prazo .

 

O Sábio julga os seus movimentos  por seus efeitos  a longo prazo.

 

Fábulas, Leon Tolstoi,  1828 – 1910

 

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Existem poucos homens – e são a exceção – capazes de pensar e sentir além do presente momento.

 

Os Deuses no Olimpo olhando as ações humanas, lá de cima das nuvens, anteveem o desfecho de todos os grandes sonhos que levam a ruína e à tragédia. 

 

E riem da nossa incapacidade de ver além do momento presente, e de como nos iludimos.

 

Carl Von Clausewitz – 1780 – 1831

 

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CUIDADO  COM AQUELES  QUE  QUEREM  TIRAR  PROVEITO  DAS  PRIVAÇÕES  ALHEIAS

 

A privação, quando leva ao desejo, nos proporciona o caminho mais eficaz para dominar. 

 

Os filósofos diziam que a privação não era nada, enquanto os políticos dizem que é tudo: os últimos estavam certos. 

 

Alguns transformam em degraus os desejos alheios para alcançar os próprios fins

 

Valem-se de circunstâncias e usam a dificuldade de obtenção para aguçar-lhe o apetite. 

 

Consideram o estimulo da falta mais proveitoso do que a frouxidão da posse, e, à medida que as coisas ficam mais difíceis, o desejo se torna mais ardente. 

 

Uma forma sutil de obter o que quer: conservar dependências.

 

essa, mas a riqueza e a lisonja; não às qualidades que reconhece, mas a favores esperados.

 

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IMAGEM

 
 

Trepadeira com muitos espinhos.

 

Em baixo, as raízes se espalham profundas. Por cima, a trepadeira se emaranha nos arbustos, se enrosca nas árvores, postes e beirais de janela.

Livrar-se dela dá tanto trabalho que é mais fácil deixá-la subir.

 

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Faça as pessoas dependerem de você.

 

Ganha-se mais com essa dependência do que cortejando-as.

 

Quem já saciou a sua sede, dá logo as costas para a fonte, não precisando mais dela.

 

Não havendo mais dependência, desaparece também a civilidade e a decência, e depois o respeito.

 

A primeira coisa que se aprende com a experiência é manter viva a esperança, porém nunca satisfeita, manter até um patrono real sempre precisando de você.

 

Baltasar Gracián, 1601-1658

 

 

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COMO PROCEDER  NO AMBIENTE  SOCIAL DE TRABALHO  

 
 
 

Na vida profissional, faça sempre o melhor de si que isto gerará um valor de distinção para  si entre os demais e será um fator de dependência alheio pelo seu bom trabalho, caráter, educação, etc..

 
 

Você  não será insubstituível, mas ao cogitarem  em substituí-lo  faça-os  pensarem bem mais para  decidirem ! 

 

 

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OS TEXTOS SÃO COMPILAÇÕES  EXTRAÍDOS  DE LIVRO DOS AUTORES 

ROBERT GREENE & JOOST ELFFERS  E  BALTAZAR GRACIAN

 


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