PENSE COMO QUISER,
MAS COMPORTE-SE COM DISCRIÇÃO
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"Aja de forma que você possa lembrar o passado com gratidão,
alegrar-se com o presente e encarar o futuro sem medo"
Epicuro
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Se você alardear que é contrário às tendências da época, ostentando suas ideias pouco convencionais e modos não ortodoxos, as pessoas irão achar que você está apenas querendo chamar atenção e se julga superior e acharão um jeito de punir você por fazê-las se sentir inferiores.
É muito mais seguro agir com discrição.
Compartilhe a sua originalidade só com aqueles de nível moral e intelectual igual ao seu porque só estes apreciarão a sua singularidade.
Na sociedade é inevitável que certos valores e costumes percam de vista os seus motivos originais e se tornem opressivos.
E sempre haverá aqueles que se rebelam contra essa opressão, alimentando ideias muito à frente do seu tempo.
Não faz sentido exibir suas ideias perigosas se elas só lhe causam sofrimento e perseguições.
O martírio não serve de nada – melhor continuar vivendo num mundo opressivo, até prosperando nele.
Enquanto isso, descubra como expressar suas ideias sutilmente para aqueles que compreendem você.
Distribuir suas pérolas aos porcos só lhe causará problemas.
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Não dê aos cães o que é sagrado; e não jogue aos porcos as suas pérolas, para que eles não as pisoteiem e se voltem para atacá-lo.
JESUS CRISTO, MATEUS 7:6
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A total liberdade de expressão é uma impossibilidade social; portanto, todos nós escondemos nossos verdadeiros sentimentos e os mostramos de modo atenuado, educado, dissimulado, dizendo aos irritadiços e inseguros o que nós queremos prestando atenção para não ofendê-los.
Existem ideias e valores aceitos pela maioria sobre os quais é inútil discutir.
As pessoas sempre acreditarão no que querem acreditar e também quando discordam, o fazem de forma dissimulada, educada.
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VEJAMOS UMA PASSAGEM DO LIVRO “O PADRINHO”
O Padrinho acaba de rejeitar completamente uma proposição do chefe da Máfia no sentido de que se envolva no negócio de drogas, quando Sonny, seu exaltado primogênito, se precipita em afirmar que os termos que haviam sido propostos eram insultantes para a família.
Os outros chefes, acertadamente, perceberam a falha, pois, com o simples ato de objetar com veemência às condições, Sonny revelou uma disposição maior do que o seu pai na rejeição da proposta.
Isto, naturalmente, levou à tentativa de eliminar Padrinho
Embora “O Padrinho” seja uma ficção, a sua psicologia é deveras real.
Quando surge uma crise ou quando uma está para acontecer, uma das melhores regras que conheço é a de não reagir. Diga apenas que gostaria de pensar um pouco sobre o assunto. Dê uma desculpa qualquer, mas não responda. Somente responda depois de analisada a crise em termos do seu potencial para a oportunidade e para o desastre. Isso permitirá - no mínimo - pôr as ideias em ordem para analisar o problema e, se estiver atento para o que pode acontecer e não for apanhado pelo problema você mesmo, poderá até defrontar-se com uma probabilidade muito favorável a você mesmo.
Embora ninguém goste de más notícias, é necessário aprender a lidar com elas.
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O homem que conhece a Corte é senhor dos seus gestos, dos seus olhos e de seu rosto.
Ele é profundo, impenetrável.
Ele dissimula os maus ofícios, sorri para os inimigos, controla sua irritação, disfarça suas paixões, desmente o seu coração, fala e age de modo diferente do que está sentindo.
Jean de La Bruyère, 1645 - 1696
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Não basta a substância, é necessária também a circunstância.
O mau jeito estraga tudo, inclusive o que é justo e razoável.
Já a maneira correta repara tudo: abranda uma negação, adoça a verdade e até faz a velhice parecer bonita.
O como das coisas é muito importante, e um comportamento correto conquista a afeição dos outros.
O portar-se bem é algo precioso na vida.
Fale e comporte-se bem, e promoverá seu sucesso.
Baltazar Gracian – A Arte da Prudência
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O modo como as pessoas se relacionam baseia-se em declarações conscientes e inconscientes que são emitidas e sentidas a cada segundo pelos respectivos interlocutores.
Mas pior ainda do que uma autocrítica deficiente é a sua ausência total. Já viu alguma vez aquele executivo que, ao descobrir que existe um problema com a sua reserva na companhia aérea, começa a gritar e a berrar com o funcionário do balcão ? Eis aí o sujeito com poderes para conseguir embarcar o executivo, mas que, em face do ocorrido, acaba por optar em o excluir.
Esta é a sindrome do pior inimigo de si mesmo. Ainda que você tenha algo que valha a pena dizer, faça-o num tom ou de maneira tal que ninguém mais ouça.
Esteja cônscio de todas as oportunidades sutis que você tem todos os dias para impressionar positivamente e das oportunidades não tão sutis de impressionar negativamente.
Criar a impressão certa pode ser tão simples quanto tratar as pessoas do modo como elas desejam ser tratadas. Ou tão difícil como tratá-las desse modo, mesmo quando insistem em não o ser.
A impressão que criar é o que lhe permite ser menos do que perfeito. Se puder tirar vantagem de todas as pequenas oportunidades para criar uma impressão geral e permanente de competência, eficiência, maturidade e honestidade - o tipo de indivíduo com quem as pessoas desejam fazer negócios - eles deixarão passar as transgressões ocasionais. As pessoas irão perdoar-lhe toda a espécie de mau comportamento se a sua impressão geral e permanente for favorável.
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A LEI DA SABEDORIA TRANSGREDIDA
Benedetto Spera, chefão siciliano, passou anos fugindo. Como convidado na casa de seus homens, Spera punha os pés no sofá e se tornava o rei do pedaço. Como se mandar nos homens na frente da família ainda não fosse humilhação suficiente, ele esgotava as esposas com pedidos incessantes.
Ao contrário de Spera, bernanrdo Provenzano, outro chefão da máfia siciliana, viveu fugindo durante 40 anos. Ninguém o entregou. Provenzano gostava da hospitalidade recebida em inúmeras casas e mostrava estar agradecido de todas as formas. Depois que os anfitriões serviam o jantar, ele lavava as louças e varria o chão.
Quando se é chefe, as pessoas farão o possível para agradá-lo. Não aceite isso como natural. Uma gentileza volta dez vezes maior, e nos protege do mal, como o alho.
Uma refeição grátis nunca é de graça, mas ninguém sabe disso.
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NÃO EXPOR O DEDO MACHUCADO
Ou tudo vai bater nele. Nunca se queixe dele, sempre miram malícia onde nos dói ou enfraquece.
Mostre-se melindrado e irá apenas encorajar-se os outros a fazerem troça de você.
A má intenção está sempre à cata do modo de lhe pregar uma peça.
Usa a insinuação para descobrir onde dói, e conhece mil truques para cutucar as feridas.
Nunca o atento se dê a conhecer, nem exponha os problemas, tanto pessoais quanto herdados, pois até a sorte às vezes gosta de nos ferir no ponto nevrálgico.
Sempre vai direto à carne viva.
Por isso não deve revelar o que o flagela e o que o reanima, para que o primeiro não dure e o último não termine.
Baltazar Gracián, A Arte da Prudência
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FIDALGUIA DE CARÁTER
A alma tem suas roupas finas, de gala: o ímpeto e o arrojo espirituais que fazem a honra do coração.
Nem a todos é dado exibir a fidalguia, pois supõe magnanimidade.
Sua primeira preocupação é sempre falar bem do inimigo, e tratá-lo melhor.
Brilha mais intensamente quando tem oportunidade de se vingar.
Não se furta a tais situações, mas as aproveita, convertendo um ato de vingança num inesperado ato de generosidade.
Também é política, e um adorno da razão de Estado.
Nunca exibe seus triunfos - não afeta nada - e, quando estes se devem a mérito, sabe dissimular.
Baltazar Gracián, A Arte da Prudência
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O muito uso do que é excelente facilmente torna-se abuso.
Quando todos cobiçam uma coisa, facilmente dela se enfadam.
É uma desgraça ser bom para nada, mas pior ser bom para tudo.
Alguns perdem porque ganham com demais, e logo se vêem tão detestados quanto um dia foram desejados.
Depara-se com tais curingas em todos os tipos de perfeição.
Perdendo a reputação inicial de peças raras, são desdenhados como comuns.
O único remédio contra o exagero é ser moderado ao revelar seus dotes.
Exceda-se na perfeição, mas seja reatado ao mostrá-la.
Quanto mais brilhante a tocha, mais ela se consome e menos dura.
A fim de conquistar a verdadeira estima, evite a superexposição.
BALTAZAR GRACIAN, A ARTE DA PRUDÊNCIA
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A LÍNGUA
A língua também é um fogo
Tiago – 3:6
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A desídia das criaturas justifica as amargas considerações de Tiago, em sua epístola às comunidades do Cristianismo.
O início de todas as hecatombes do planeta localiza-se, quase sempre, no mau uso da língua.
Ela está posta entre os membros do organismo humano como o pequeno leme de uma embarcação poderosa. Em sua potencialidade está o recurso sagrado de criar, como o leme de proporções reduzidas foi instalado para conduzir.
A língua guarda a centelha divina do verbo mas o homem, de modo geral, costuma desviá-la de sua função grandiosa para o pântano de cogitações subalternas, e ai temos como fonte de quase todos os desvarios da Humanidade sofredora, cristalizada em propósitos mesquinhos, à mingua de humildade e de respeito.
A guerra nasce da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos.
As grandes tragédias sociais se originam da linguagem dos sentimentos inferiores.
Poucas vezes, a língua do homem há consolado e edificado aos seus irmãos; temos, porém, que a sua disposição é sempre ativa para excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e ferir desapiedadamente.
O discípulo sincero encontra, nos apontamentos de Tiago, uma tese brilhante para todas as suas experiências.
E, quando chegue a noite de cada dia, será justo que interrogue a si mesmo:
“Terei hoje utilizado a minha língua como Jesus utilizou a dele ?”
Emmanuel
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Durante muito tempo não disse em que acreditava, nem acredito sempre no que digo, e se às vezes falo a verdade, eu as escondo entre tantas mentiras que é difícil encontrá-las
Nicolau Maquiavel,
numa carta a Francesco Guicciardini, 17/05/1521
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A OVELHA NEGRA
O rebanho evita a ovelha negra, sem saber se ela pertence ou não ao grupo.
Por isso ela fica para trás, ou se extravia do rebanho, quando é encurralada por lobos e rapidamente devorada.
Fique com o rebanho – há segurança na multidão.
Reserve as suas diferenças para os seus pensamentos, não para a sua pele.
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No entanto, há quem veja essas restrições como uma violação intolerável da sua liberdade e precisa provar a superioridade de seus valores e crenças. No final, entretanto, seus argumentos convencem apenas a uns poucos e ofendem a muitos mais. Eles não funcionam porque a maioria das pessoas conserva seus valores e ideias sem pensar neles. Existe um forte conteúdo emocional nessas crenças: as pessoas realmente não querem mudar a sua maneira de pensar, e se você as desafia, seja diretamente com seus argumentos ou indiretamente com seu comportamento, elas se tornam hostis.
Pessoas sábias aprendem cedo que podem exibir comportamentos e ideias convencionais sem ter de acreditar neles, os trambiqueiros também são assim. O poder que essas pessoas obtêm misturando-se aos outros é o de ficar à vontade para pensar o que elas quiserem, e dizer o que pensam a quem elas querem dizer, sem sofrer agressão.
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A LEI TRANSGREDIDA
Em 131 a.C., o cônsul romano Publius Crassus Dives Mucianus, ao pôr cerco à cidade grega de Pergamo, viu que precisava de um aríete para derrubar as muralhas da cidade. Ele tinha visto uns dois mastros de navio pesados num estaleiro em Atenas alguns dias antes e mandou que o maior deles lhe fosse enviado imediatamente. O engenheiro militar que recebeu o pedido em Atenas tinha certeza de que o cônsul queria na realidade o mastro menor. Ele discutiu sem parar com os soldados que entregaram a requisição; o mastro menor, ele lhes dizia, era muito mais apropriado para a tarefa. E na verdade seria mais fácil de transportar.
Os soldados alertaram o engenheiro de que seu chefe não era homem com quem se discutisse, mas ele insistiu que o mastro menor era o único que funcionaria com a máquina que estava construindo. Ele traçou diagrama após diagrama e disse que o técnico era ele e eles não sabiam do que estavam falando; qual o sentido, ele argumentava, de obedecer uma ordem que vai levar ao fracasso? E então ele enviou o mastro menor, confiando que o cônsul veria que ele funcionava muito melhor.
Quando o mastro menor chegou, Mucianus pediu aos soldados uma explicação. Eles contaram que o engenheiro não parara de discutir dizendo que o mastro menor era melhor, mas no final tinha prometido mandar o maior. Mucianus ficou furioso. Não conseguia se concentrar no cerco, ou considerar a importância de abrir uma brecha na muralha antes que a cidade recebesse reforços. Só conseguia pensar no engenheiro desaforado que ele mandou buscar imediatamente.
Chegando poucos dias depois, o engenheiro explicou satisfeito ao cônsul, mais uma vez, a razão do mastro menor. Ele falava e falava, usando os mesmos argumentos de antes com os soldados. Disse que era sensato ouvir os especialistas nestas questões, e se o ataque fosse tentado com o aríete que ele tinha enviado, o cônsul não se arrependeria. Mucianus deixou-o terminar, depois mandou que o despissem diante dos soldados e o fustigou e açoitou até a morte.
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QUANDO AS ÁGUAS MUDARAM
Certa vez, Khirdr, o professor de Moiséis, fez um alerta à humanidade. Numa determinada data, todas as águas do mundo, menos as especialmente reservadas, desapareceriam. Em seguida seriam substituídas por uma água diferente que deixaria os homens loucos. Apenas um homem entendeu o significado desse aviso e guardou uma certa quantidade de água num lugar seguro, esperando acontecer a mudança.
Na data indicada os rios deixaram de correr, os poços secaram e o homem que tinha entendido, vendo tudo isso acontecer, foi para o seu esconderijo e bebeu da água reservada. Quando viu, do seu posto seguro, que as cachoeiras estavam novamente correndo, ele voltou ao convívio dos outros filhos dos homens, observando que eles agora pensavam e falavam de outra maneira totalmente diferente, mas não se lembravam do que tinha acontecido, nem de terem sido avisados. Quando tentou falar com eles, percebeu que o julgavam louco, e se mostravam hostis ou compadecidos, mas não o compreendiam.
No início ele não bebia da nova água, voltando ao seu esconderijo todos os dias para se abastecer nas suas reservas. Finalmente, não suportando mais a solidão em que a sua vida tinha se transformado, porque ele se comportava e pensava diferente de todo mundo, resolveu beber da nova água. Bebeu e se tornou um deles. Depois não lembrou mais da sua reserva de água especial e passou a ser visto como o louco que havia milagrosamente recuperado a razão.
TALES OF THE DERVISHES, IDRIES SHAH, 1967
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“Bene vixit, qui bene latuit” – “Vive bem quem se esconde bem.”
OVÍDIO, c.43 a.C – 18 d.C
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Jamais conteste as opiniões de um homem, pois nem que os dois chegassem à idade de Matusalém você acabaria de colocar em ordem todas as coisas absurdas em que ele acredita. É bom também evitar corrigir os erros das pessoas durante uma conversa, por melhor que sejam as suas intenções, pois é fácil ofendê-las e difícil, se não impossível, consertá-las.
Irritado ao escutar, por acaso, as observações ridículas de duas pessoas conversando, imagine estar ouvindo um diálogo entre dois tolos comediantes.
O homem que vem ao mundo com a idéia de que vai realmente instruí-lo em questões importantíssimas, pode agradecer aos astros se escapar ileso.
ARTHUR SCHOPENHAUER, 1788 - 1860
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Entre cem pessoas há apenas uma com a qual valha a pena discutir. Aos demais, deixemos que digam o que querem porque ser idiota é um dos direitos do homem e pensemos no conselho de Voltaire:
"A paz vale ainda mais que a verdade";
e também em um provérbio árabe que diz:
"Da árvore do silêncio pende como fruto a paz".
E também na inteligência de Isaac Newton que quando percebia que a pessoa que lhe perguntava algo da ciência não possuia capacidade de entendê-lo respondia apenas que a descoberta surgiu da queda de uma maça em sua cabeça...
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Homens sábios deveriam ser como cofres com fundo duplo que aos olhos de quem os vê, abertos, não mostram tudo o que guardam.
SIR WALTER RALEIGH, 1554 - 1618
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O CIDADÃO E O VIAJANTE
“Olhe em volta”, disse o cidadão. “Este é o maior mercado do mundo.” “Oh, certamente que não”, disse o viajante. “Bem, talvez não o maior”, disse o cidadão, “mas o melhor.” “Você deve estar enganado”, disse o viajante. “Eu lhe digo...” Enterraram o estrangeiro ao cair da noite.
ROBERT LOUIS STEVENSON, 1850 – 1894
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O que fizeres hoje, pode ser o seu futuro amanhã
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A DISCRIÇÃO NO FALAR
O FALASTRÃO
As seduções mais eficazes são conseguidas com olhares, ações indiretas, atrativos físicos. As palavras têm o seu lugar, mas falar demais em geral tira o encanto, reforçando diferenças superficiais e fazendo as coisas ficarem pesadas. Gente que fala demais quase sempre fala de si mesma. Não têm aquela voz interior que pergunta: Estou sendo chato? Ser um Falastrão é ter um egoísmo profundamente enraizado. Jamais interrompa ou discuta com estes tipos - isso só vai alimentar a fanfarrice deles. Aprenda a controlar a sua língua, a qualquer custo!!!
Nesse tipo de personalidade, tudo o que passa pelos olhos ou pelos ouvidos sai pela boca, e raramente demoram mais do que 17 segundos entre um momento e outro.
Se não houver ninguém em casa com quem conversar, ligam para alguém:
Sabe o que eu vi? Sabe o que eu ouvi ?
Essas pessoas não possuem reservatórios !
Tem que escoar !
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Só vale a pena se distinguir dos outros quando você já se distinguiu – quando você estiver em uma posição inabalável e puder exibir a sua diferença como um sinal de distância desejada entre você e os outros.
Finalmente, há sempre um lugar para o provocador, aquele que desafia com sucesso os costumes e zomba do que está ultrapassado numa cultura em um determinado tempo e lugar. Oscar Wilde, por exemplo, conquistou um considerável poder social baseado nisto: ele deixava claro que desprezava a maneira usual como as coisas eram feitas e, durante as suas palestras, o público não só esperava como aceitava ser insultado. Entretanto, o seu papel excêntrico acabou por destruí-lo, pois apesar do sucesso poderia ter tido um fim melhor. Sem o seu talento para divertir e encantar, suas farpas teriam simplesmente ofendido as pessoas.
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Uma pitada de espírito jovial é bom tempero.
Os grandes homens conseguem com graça e humor granjear a simpatia geral, sem contudo perder o devido respeito para com a prudência e sem violar o decoro.
Há quem faça da troça um caminho para se livrar rapidamente de embaraços, pois é preciso levar certas coisas na brincadeira, mesmo algumas que outros levariam mais a sério. Assim, demonstra-se amabilidade e se cativam os corações.
A prudência é reconhecida pela seriedade e granjeia mais respeito do que talento.
Quem vive brincando não é um homem que mereça confiança.
São comparados aos mentirosos e nunca lhes dão crédito.
De um tememos a trapaça, do outro, a zombaria.
Nunca se sabe quando estão exercitando o juízo, o que equivale a não tê-lo.
Não existe humor pior do que o continuo.
Alguns ganham fama de espirituoso e perdem a de sensato.
Há momentos para o riso, mas o resto do tempo pertence à seriedade.
O falastrão e o grosseirão nunca sabem o tempo certo de começar e terminar.
BALTAZAR GRACIAN - A ARTE DA PRUDÊNCIA
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Todos sabem que o homem prolixo raramente é inteligente, mas antes ser alto em estatura do que que extenso na conversa.
BALTAZAR GRACIAN, A ARTE DA PRUDÊNCIA
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O muito uso que é excelente facilmente torna-se abuso.
Quando todos cobiçam uma coisa, facilmente dela se enfadam.
É uma desgraça ser bom para nada, mas pior ser bom para tudo.
Alguns perdem porque ganham com demais, e logo se vêem tão detestados quanto um dia foram desejados.
Depara-se com tais curingas em todos os tipos de perfeição.
Perdendo a reputação inicial de peças raras, são desdenhados como comuns.
O único remédio contra o exagero é ser moderado ao revelar seus dotes.
Exceda-se na perfeição, mas seja recatado ao mostrá-la.
Quanto mais brilhante a tocha, mais ela se consome e menos dura.
A fim de conquistar a verdadeira estima, evite a superexposição.
BALTAZAR GRACIÁN - A ARTE DA PRUDÊNCIA
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POSSUIR A ARTE DA CONVERSAÇÃO
É o que revela ser uma pessoa verdadeira.
Nenhuma atividade humana exige mais atenção por ser a mais comum.
É aqui que ganhamos ou perdemos.
Requer isso ao escrever uma carta, que é a conversa refletida e escrita, e ainda mais ao conversar, pois a discrição é logo posta à prova.
Os entendidos tomam pulso da alma baseados na linguagem, e baseado nisso um sábio disse:
“Fale, e será conhecido”.
Para alguns, a arte da conversação está em falar sem arte, deixando-a cair livremente, como a roupa.
A idéia talvez seja válida quanto à conversa entre amigos.
Mas, nos círculos mais elevados, a conversação deve ser mais formal, revelando a excelente substância da pessoa.
Para que a conversa seja bem aceita, tem de se adaptar ao caráter e inteligência dos interlocutores.
Não banque o censor de palavras- pois será tomado como um pedante gramático - e muito menos o fiscal das opiniões - o que
fará que seja evitado pelos demais, impedindo-o de se comunicar.
Na conversa, a discrição é mais importante que a eloqüência.
BALTAZAR GRACIÁN, A ARTE DA PRUDÊNCIA
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É certo que a total liberdade de expressão é uma impossibilidade social; portanto, todos nós escondemos ou mostramos nossos verdadeiros sentimentos de modo atenuado, educado, dizendo aos irritadiços e inseguros o que nós queremos prestando atenção para não ofendê-los.
Para a maioria isto é natural – existem ideias e valores aceitos pela maioria e é inútil discutir.
As pessoas sempre acreditarão no que querem acreditar.
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ENTÃO, COMO SERIA UMA PERSONALIDADE OPOSTA A DE UM FALASTRÃO ?
Os sábios veneram o que é tranqüilo, frio, nobre, passado, distante, tudo aquilo em vista do qual a alma não tem de se defender e se encerrar - algo com que se pode falar sem elevar a voz.
Um espírito seguro de si mesmo fala baixo; busca o ocultamento, deixa que esperem por ele.
Reconhece-se um sábio no fato de evitar coisas que brilham e fazem barulho, tais como : a fama e a bajulação aos poderosos.
Ele receia a luz demasiado clara:
por isso se resguarda de seu tempo, e do "dia" desse tempo.
Nisto é como uma sombra: mais o sol se põe, maior ele fica.
Quanto à sua "humildade", assim como suporta o escuro, suporta também uma certa dependência, um certo obscurecimento: mais ainda, ele teme ser incomodado pelo raio, recua ante a desproteção de uma árvore só e abandonada, na qual toda intempérie descarrega seu mau humor, todo mau humor sua intempérie.
Seu instinto "maternal", o secreto amor ao que nele cresce, mostra-lhe situações em que é dispensado de pensar em si; no mesmo sentido em que até agora o instinto de mãe da mulher conservou a situação dependente da mulher.
Em última instância exigem bem pouco esses sábios, a sua máxima é: "quem possui é possuído" - isto, como tenho de repetir vez por outra, não por virtude, por uma meritória vontade de singeleza e moderação, mas porque o seu senhor supremo assim exige, prudente e inexoravelmente: ele tem em conta somente uma coisa, e apenas para ela junta e acumula tempo, energia, amor, interesse.
Essa espécie de homem não gosta de ser perturbada por inimizades, tampouco por amizades; esquece ou despreza com facilidade. Parece-lhe mau gosto fazer-se de mártir; "sofrer pela verdade" - isso deixa para os ambiciosos e heróis de palco do teatro terrestre , e para todos os que têm tempo para isso .
Eles fazem pouco uso das grandes palavras; diz-se que mesmo a palavra "verdade" Ihes repugna: soa grandiloqüente...
TEXTO COMPILADO EXTRAÍDO DE LIVRO DOS AUTORES
ROBERT GREENE & JOOST ELFFERS e DO LIVRO A GENEALOGIA DA MORAL DE FRIEDRICH NIETZSCHE