A informação é fundamental, você deve se preparar para ser espionado ! A insegurança na esfera social gera a busca de informações objetivando o controle sobre os acontecimentos futuros .
Entretanto, as pessoas não dizem tudo o que pensam, sentem e planejam. Controlando o que dizem, elas quase sempre mantêm ocultas as partes mais críticas da sua personalidade – suas fraquezas, seus motivos secretos, suas obsessões. O resultado é que não se pode prever seus movimentos, e fica-se constantemente no escuro.
Fique alerta porque você pode se deparar com pessoas especialistas em sondagem e isso não é tão raro e difícil quanto você pensa.
A maneira mais comum de espionar é usando outras pessoas. O método é simples, eficaz, mas arriscado: o espião certamente obtém informações, mas tem pouco controle sobre as pessoas que estão fazendo o trabalho. Talvez por inépcia elas revelem a espionagem e o espião, ou até secretamente se voltem contra o espião. Por isso, muitos espiões fazem o serviço sozinho.
O político francês Talleyrand foi um dos maiores praticantes desta arte. Ele possuía uma incrível habilidade para arrancar segredos das pessoas em conversas amáveis. Um contemporâneo, o barão de Vitrolles, escreveu: “Inteligência, graça e uma fachada cordial marcavam suas conversas. Ele possuía a arte de dissimular seus pensamentos ou a sua malícia sob o véu transparente das insinuações das palavras que sugerem mais do que dizem.”
Durante toda a sua vida, as pessoas disseram que Talleyrand era um soberbo conversador – e no entanto ele dizia muito pouco. Jamais falava sobre as suas próprias ideias mas fazia os outros falarem das ideias deles. Organizava reuniões sociais para diplomatas estrangeiros onde, entretanto, ele pesava cuidadosamente o que eles diziam, com agrados obtinha deles informações preciosas para o seu trabalho como ministro das Relações Exteriores da França.
Deixava escapar o que parecia ser um segredo ( na verdade algo que tinha inventado ) e depois observava as reações dos ouvintes. Por exemplo: contava que soubera por fonte confiável que o Czar da Rússia planejava prender o seu primeiro general por traição e observa quem se entusiasmava mais com o enfraquecimento do exército russo – talvez seus governos tivessem planos com relação à Russia?
Como disse o barão Von Stetten: “ Monsieur Talleyrand atira para o ar para ver quem salta pela janela.” Nas reuniões sociais e encontros inicentes, preste atenção. É quando as pessoas baixam a guarda porque confundem o interesse do espião com a “cortina de fumaça” da “amizade”.
Um truque utilizado pelos espiões e fofoqueiros da corte nos é dado por La Rochefoucauld, que escreveu: “Encontra-se sinceridade em pouquíssimos homens e com frequência ela é a mais esperta das artimanhas – se é sincero apenas para atrair a confiança e obter-se os segredos do outro.” Faça-lhe uma confissão falsa e ela lhe fará uma verdadeira.
O filósofo Arthur Schpenhauer sugeria contradizer veementemente a pessoa com quem você está conversando para irritá-la até ela perder o controle do que está dizendo. Reagindo com a emoção, ela revelará a verdade ...
Outro método indireto de espionagem é testar as pessoas por meio de pequenas armadilhas que as farão revelar coisas de si mesmas. Coros II, rei persa notoriamente esperto, se percebesse que dois dos seus cortesãos tinham se tornado muito amigos, ele chamava um de lado e dizia que fora informado de que o outro era um traidor e em breve seria morto. O rei dizia ao cortesão que confiava nele mais do que em qualquer outra pessoa e que ele devia guardar segredo sobre essa informação. Depois, ficava observando atento os dois homens e se o segundo cortesão mudava ou não o seu comportamento com relação ao rei e concluía se o primeiro cortesão tinha guardado segredo ou não. Ao tentar fazer com que as pessoas cometessem determinados atos, ele fica sabendo sobre a sua lealdade, honestidade, caráter e outras coisas mais.
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Os governantes enxergam através de espiões, as vacas enxergam através do cheiro, os brâmanes através das escrituras e o resto do povo vê com seus olhos normais.
Kautila, filósofo indiano, século 3 a.C
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O terceiro olho do espião
Onde todos têm dois olhos, o terceiro olho lhe dará a onisciência divina.
Você enxerga mais e melhor dentro deles. Ninguém está livre do olho.
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O que faz um soberano brilhante e um sábio general conquistarem sempre o inimigo, e suas realizações superarem as dos homens comuns, é a presciência da situação do inimigo. Essa “presciência” não vem dos espíritos, nem dos deuses, nem de uma analogia com acontecimentos passados, nem de cálculos astrológicos. Deve ser obtida de homens que conhecem a situação do inimigo – dos espiões.
Sun Tzu. A Arte da Guerra, século 4 a.C
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MORAL DA HISTÓRIA
Esteja sempre preparado para ser espionado. Uma das armas mais eficazes na luta contra a espionagem é divulgar informações falsas. Como disse Winston Churchill: “ A verdade é tão preciosa que deveria estar sempre escoltada por mentiras”. Você deve se cercar desses guarda-costas para proteger a sua verdade. Divulgando as informações que você mesmo escolhe, o jogo não vai para as mãos do espião.
Em 1944, a quantidade de bombardeios nazistas sobre Londres aumentou de repente. Mais de duas mil bombas V-1 caíram sobre a cidade, matando mais de cinco mil pessoas e deixando um número ainda maior de feridos. Mas, por alguma razão, os alemães sempre erravam o alvo. As bombas que deviam cair sobre Tower Bridge ou Piccadilly caíam distante da cidade, em subúrbios menos povoados. Isto porque, ao fixar seus alvos, os alemães confiavam em agentes secretos que haviam plantado na Inglaterra. Porém, eles não sabiam que estes agentes tinham sido descobertos e que, no lugar deles, agentes ingleses os estavam alimentando sutilmente com informações falsas.
Enquanto a espionagem dá ao inimigo um terceiro olho, a desinformação deixa o inimigo cego de um olho. Um ciclope que erra sempre o alvo.
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Se você tem motivos para desconfiar de que uma pessoas está lhe mentindo, finja acreditar em tudo que ela diz. Isto lhe dará coragem para continuar; ela ficará cada vez mais veemente em suas afirmativas e, no final, acabará se traindo.
Por outro lado, se você perceber que uma pessoa está tentando lhe esconder alguma coisa, mas com êxito apenas parcial, finja que não acredita. A sua posição a fará revelar o restante da verdade, no esforço de vencer a sua incredulidade.
Arthur Schopenhauer, 1788-1860
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Texto compilado de livro dos autores Robert Greene & Joost Elffers