DA LIBERDADE DE ESCOLHA
O chanceler alemão Bismarck, enfurecido com as constantes críticas de Rudolf Virchow ( patologista alemão e político liberal ), mandou suas testemunhas desafiarem-no para um duelo. “Como a parte desafiada, a escolha das armas é minha”, disse Virchow, “e escolho estas.” E ergueu duas grandes e aparentemente idênticas salsichas. “Uma delas”, ele continuou, “está contaminada com germes mortais; a outra é perfeitamente saudável. Que sua Excelência decida qual a que comerá, eu comerei a outra.” Quase imediatamente retornou uma mensagem dizendo que o chanceler tinha resolvido cancelar o duelo.
THE LITTLE, BROWN BOOK OF ANECDOTES, CLIFTON FADIMAN, ORG. 1985
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O MENTIROSO
Era uma vez, na Armênia, um rei que, sentindo-se num estranho estado de espírito e precisando se divertir um pouco, enviou arautos por todo reino proclamando o seguinte: “Ouçam todos! Aquele que provar ser o maior mentiroso da Armência receberá uma maça de ouro das mãos de Sua Majestade, o Rei!”
Gente de todas as cidades e aldeias, de todos os níveis e condições, príncipes, mercadores, fazendeiros, sacerdotes, ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magros vieram em multidão ao palácio.
Não faltavam mentirosos naquela terra, e cada um contou a sua mentira ao rei. Governantes, entretanto, estão acostumados com todos os tipos de mentira, e nenhuma daquelas convenceu o rei de que era a melhor.
Ele começou a se cansar com este novo esporte e já estava pensando em cancelar a competição sem declarar um vencedor, quando apareceu diante dele um homem pobre esfarrapado, carregando debaixo do braço uma grande ânfora de barro.
“O que posso fazer por você?”, perguntou Sua Majestade. “Senhor!”, disse o homem, ligeiramente espantado, “Sem dúvida, não se recorda? Deve-me um pote de ouro e vim pegá-lo.” “Você é um grande mentiroso!”, exclamou o rei. “Não lhe devo nada!”
“Um grande mentiroso eu sou?”, disse o homem pobre. “Então me dê a maça de ouro!” O rei, percebendo que o homem estava tentando lhe passar a perna, esquivou-se. “Não, não! Você não é mentiroso!” “Então, me dê o pote de ouro que me deve, senhor”, disse o homem. O rei se viu num dilema e lhe entregou a maça de ouro.
CONTOS E FÁBULAS DO FOLCLORE ARMÊNIO, RECONTADOS POR CHARLES DOWNING, 1993
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J.P.Morgan certa vez contou a um joalheiro seu conhecido que estava interessado em comprar um alfinete de gravata de pérola. Semanas depois, o joalheiro encontrou uma magnífica pérola, montou-a devidamente e a enviou a Morgan, junto com uma conta de cinco mil dólares. No dia seguinte, o embrulho voltou. A nota de Morgan que a acompanhava dizia: “Gostei do alfinete, mas não do preço. Se aceitar o cheque anexo de 4 mil dólares, por favor retorne a caixa sem quebrar o selo. “O joalheiro irritado não aceitou o cheque e dispensou o mensageiro. Ao abrir a caixa para guardar o alfinete recusado, ele não estava mais ali. Fora substituído por um cheque de cinco mil dólares.
THE LITTLE, BROWN BOOK OF ANEDOCTES, CLITON FADIMAN, ORG., 1985
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INTERPRETAÇÃO
Palavras como “liberdade”, “opções” e “escolha” evocam possibilidades muito além dos seus reais benefícios. Examinando bem, as nossas opções – no mercado, nas urnas, nos empregos – tendem a ser incrivelmente limitadas: quase sempre trata-se de escolher entre A e B, o resto do alfabeto não entra. No entanto, se houver a mais leve miragem de opção lá longe, raramente tentamos ver as que faltam. Nós “escolhemos” acreditar que o jogo é limpo e que mantemos a nossa liberdade. Preferimos não pensar muito no alcance da nossa liberdade de escolha.
Essa falta de vontade de sondar a limitação das nossas opções vem do fato de que a liberdade em excesso gera ansiedade. A frase “opções ilimitadas” soa infinitamente promissora, mas na verdade as opções ilimitadas nos deixariam paralisados e perturbariam a nossa capacidade de optar. O leque reduzido de opções é confortável. Ninguém é infalível e todos nós cometemos enganos, mas o problema da maioria é só pensar ou agir quando não tem alternativa. Falhar mil vezes é preferível a falhar por não tentar.
Com isso, o esperto e o ardiloso ganham enormes oportunidades para trapacear. Quem está escolhendo entre duas alternativas acha difícil acreditar que está sendo manipulado ou enganado; Você não vê que estão lhe permitindo uma pequena porção de livre-arbítrio em troca da imposição muito mais forte do seu próprio arbítrio.
Definir um leque estreito de opções, portanto, é uma arma do trapaceiro. Suas vítimas acham que estão no controle, mas na verdade está sendo uma marionete. Geralmente o fazem dando a opção de escolha entre dois males, forçando as suas vítimas a escolha do menor mal que atende ao interesse do trapaceiro. Colocando as vítimas num dilema, não terão escapatória.
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O pássaro que entra na gaiola por sua livre vontade canta melhor.
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Os Chifres do Touro
O touro o encurrala com seus chifres – não um só, do qual talvez conseguisse fugir, mas um par de chifres que o mantém preso entre eles. Vire-se para a direita ou para esquerda seja para onde for, você não escapa de ser espetado.