DAS OFENSAS

 

A VINGANÇA  DE  LOPE   DE   AGUIRRE.

 

Existe um conto que ilustra muito bem a personalidade de Lope de Aguirre. Ela foi encontrada na crônica de Garcilaso de La Veja, contando que, em 1548, Lope de Aguirre fazia parte de uma tropa de soldados que escoltava escravos índios das minas em Potosi [ Bolívia ] até um depósito do tesouro real. Os índios carregavam ilegalmente uma quantidade excessiva de prata, e o oficial local prendeu Aguirre, condenando-o a dezenas de chicotadas em vez de multa-lo por estar explorando os índios. 

 

O  soldado Aguirre, ao receber a sentença, disse ao alcaide que, ao chicote, ele preferia ser condenado à morte, pois que era fidalgo de nascimento... Tudo isso não teve nenhum efeito sobre o alcaide, que  mandou  outro carrasco – uma besta – executar a sentença. O carrasco foi até a prisão e deu-lhe as chibatadas...” Livre Aguirre anunciou a sua intenção de matar o oficial que  o havia condenado, o alcaide Esquivel.

 

O tempo de serviço de Esquivel expirou e ele fugiu para Lima, a dois mil quilômetros dali, mas em quinze dias Aguire o encontrou lá.  O assustado alcaide aposentado  viajou para Quito, mais dois mil e quatrocentos quilômetros, e em vinte dias lá chegou Aguirre. “ Quando Esquivel soube da sua presença”, fez outra viagem de três mil quilômetros para Cuzco; mas em poucos dias Aguirre também chegou, tendo viajado a pé e descalço. Desta forma Aguirre seguiu seu ex-colega   por três anos e quatro meses.”

 

Exausto com a perseguição, Esquivel ficou em Cuzco, cidade cujo governo era tão rígido que ele achou que estaria a salvo da vingança do ofendido. Alugou uma casa perto da catetral e não se aventurava a sair sem uma espada e uma adaga. “Entretanto, numa certa segunda-feira ao  meio-dia, Aguirre entrou na sua casa e depois de percorrê-la toda, tendo atravessado o corredor, um salão, uma alcova e o quarto particular onde o alcaide julgador guardava seus livros, finalmente o encontrou dormindo debruçado sobre um deles e o matou a facadas.

 

O assassino então saiu, mas na porta de casa percebeu que tinha esquecido o chapéu e teve a temeridade de voltar para pega-lo, e aí foi embora.”

 

 

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Creia, não há pessoas tão insignificantes e desprezíveis, e elas podem, qualquer dia desses, ser úteis a você; o que elas certamente não serão se você já as tratou com desprezo.

 
 

Injustiças se esquecem, desprezo, jamais.

 
 

Nosso orgulho guarda essa lembrança para sempre.

 

Lord Chesterfield, 1694 – 1773

 

 

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Após a vitória, afie a sua faca

 

 

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 Jamais adquira um inimigo se não precisar

 

 

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A vingança transforma uma pequena justiça em uma tremenda injustiça.

 

Cuidado ! Ela tem um apetite que jamais se satisfaz.

 
 
 

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A VINGANÇA DE Ch’ung-erh

 

 

No século quinto antes de Cristo, Ch’ung-erh, príncipe de Ch’in ( atual China ), fora forçado a se exilar. 

 
 

Ele levava uma vida simples – até pobre, às vezes aguardando o momento de poder voltar para casa e retornar a sua vida principesca.

 
 

Certa vez, ele estava passando pelo estado de Cheng e o governante, sem saber quem ele era, o tratou de forma grosseira. 

 
 

O ministro do governante, Shu Chan, viu e disse:

 
 

 “Esse homem é um ilustre príncipe, Vossa Majestade deve tratá-lo bem para que ele fique seu devedor! 

 
 

Mas o governante, que só conseguia ver que o príncipe estava numa situação inferior, ignorou o conselho e o insultou mais uma vez. 

 
 

Shu Chan de novo alertou seu senhor dizendo:

 
 

 “Se Vossa Majestade não puder tratar Ch’ung-erh com cortesia, deve condená-lo à morte para evitar uma calamidade no futuro”. 

 
 

O governante riu da ideia.

 

Anos depois, o príncipe finalmente pôde voltar para casa e a sua situação mudou muito. Ele não se esqueceu de quem tinha sido generoso e de quem tinha sido insolente com ele nos seus anos de pobreza. Menos ainda de como tinha sido tratado pelo governante de Cheng.  Na primeira oportunidade, reuniu um grande exército e marchou sobre Cheng, tomando oito cidades, destruindo o reino e mandando o governante curtir o seu próprio exílio.

 

 

INTERPRETAÇÃO

 

 

Você nunca sabe ao certo com quem está lidando

 
 

O homem que hoje não é importante pode ser uma pessoa poderosa amanhã. 

 
 

Esquecemos de muitas coisas nas nossas vidas, mas raramente de um insulto.

 

Como o governante de Cheng ia saber que o príncipe Ch’ung-erh era um tipo ambicioso, calculista e astuto, uma serpente de memória longa? Se não podia, era melhor não desafiar a sorte tentando descobrir. 

 
 
 

NADA SE GANHA INSULTANDO DESNECESSARIAMENTE ALGUÉM.  

 
 

Controle o seu impulso de ofender, mesmo que o outro se mostre fraco.  

 
 

A satisfação não é tão grande assim, comparada com o perigo de que essa pessoa um dia esteja em condições de ferir você.

 

 

No mundo há muitos tipos diferentes de pessoas e você  não pode esperar que todas reajam da mesma forma às suas condutas. 

 
 

 Engane ou passe a perna em certas pessoas e elas vão passar o resto da vida procurando se vingar de você.  

 
 

Serão lobos em pele de cordeiro até te pegar.

 

Dizia Maquiavel:

 
 

"O mal que fizer a um homem deve ser de tal forma a não temer a sua vingança". 

 
 

Se você agir isolando o inimigo, garanta que ele não tenha como lhe pagar na mesma moeda. 

 
 

Em outras palavras, que seja de uma posição superior, para não ter nada a temer com o ressentimento dele.

 

Andrew Johnson, sucessor de Abraham Lincoln na presidência dos Estados Unidos, via em Ulysses S. Grant um membro perturbador do seu governo. Então ele isolou Grant, num prelúdio para força-lo a se retirar. isto só fez irritar o grande general, que reagiu formando uma base de apoio no Partido Republicano e trabalhando para ser o próximo presidente. 

 

Teria sido muito mais sensato manter um homem como Grant no rebanho, onde seria menos nocivo, do que despertar o seu sentimento de vingança

 
 

E assim você verá frequentemente que é melhor manter as pessoas do seu lado, onde poderá observá-las, do que arriscar-se a criar um inimigo irado. 

 
 

Mantendo-as por perto, você pode ir secretamente reduzindo a sua base de sustentação de tal forma que, na hora de soltá-las, elas caiam feio no chão sem nem saber o porquê.

 

 

De outro lado, lembre-se também de que a coerção provoca reações que acabam funcionando contra você.

 
 

É melhor  atrair as pessoas para que queiram vir até você. A pessoa seduzida torna-se um fiel peão. Seduzem-se os outros atuando individualmente em suas psicologias e pontos fracos. Amacie o resistente atuando em suas emoções, com aquilo de que ele muito gosta ou teme. Ignore os corações e as mentes dos outros e eles o odiarão.

 

 

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Benedetto Spera, chefão siciliano, passou anos fugindo. Como convidado na casa de seus homens, Spera punha os pés no sofá e se tornava o rei do pedaço. Como se mandar nos homens na frente da família ainda não fosse humilhação suficiente, ele esgotava as esposas com pedidos incessantes.

 
 

Ao contrário de Spera, bernanrdo Provenzano, outro chefão da máfia siciliana, viveu fugindo durante 40 anos. Ninguém o entregou. Provenzano gostava da hospitalidade recebida em inúmeras casas e mostrava estar agradecido de todas as formas. Depois que os anfitriões serviam o jantar, ele lavava as louças e varria o chão.

 
 

Quando se é chefe, as pessoas farão o possível para agradá-lo. Não aceite isso como natural. Uma gentileza volta dez vezes maior, e nos protege do mal, como o alho.

 
 

Uma refeição grátis nunca é de graça, mas ninguém sabe disso.

 

 

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O CIDADÃO E O VIAJANTE

 

“Olhe em volta”, disse o cidadão. 

“Este é o maior mercado do mundo.” 

“Oh, certamente que não”, disse  o viajante. 

“Bem, talvez não o maior”, disse o cidadão, “mas o melhor.”

 “Você deve estar enganado”, disse o viajante.

 “Eu lhe digo...”  Enterraram o estrangeiro ao cair da noite.

 

ROBERT LOUIS STEVENSON, 1850 – 1894

 
 
 

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A criança é muito cruel porque reflete a natureza humana sem os freios das convenções hipócritas sociais

 

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O SÁBIO  SE BASTA A SI MESMO

 

Ele próprio era todas as suas coisas e, levando-se a si próprio, levava tudo. 

 

Um amigo - um homem universal - basta para substituir Roma e o resto do universo. 

 

Que cada um seja pois esse amigo para si mesmo, e será capaz de viver por si só

 

De quem poderia sentir falta se nenhum gosto e nenhum intelecto é superior ao seu? 

 

Dependerá apenas de si próprio; e a maior felicidade é assemelhar-se ao Ente Supremo. 

 

Quem for capaz de viver por si só não terá nada de bruto, mas muito de sábio, e tudo de Deus.

 
 

BALTAZAR   GRACIÁN, A ARTE DA PRUDÊNCIA

 
 
 

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A ARTE   DE FALAR A VERDADE

 

Nada requer mais tato do que a verdade, que é como sangrar o coração. 

 

É preciso habilidade tanto para dizê-la quanto para omiti-la. 

 

Uma simples mentira Poe a perder a reputação de honestidade. 

 

O enganado parece falho e, o que é pior, o enganador é tido por falso. 

 

Nem todas as verdades podem ser ditas

 

algumas devem ser guardadas por nosso próprio bem, outras pelo bem de alguém mais.

 

BALTAZAR   GRACIÁN, A ARTE DA PRUDÊNCIA

 

 

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Dizem os políticos. Se todos são loucos, não haverá prejuízo. E se você for o único sensato, sozinho, irão tomá-lo por louco. O importante é pois seguir a corrente. Às vezes, a maior sabedoria é não saber ou fingir não saber. Temos de viver com os outros, e a maioria é ignorante. Para viver só, é preciso ter muito de Deus ou tudo de besta. Mas eu moderaria este aforismo dizendo: Antes um sensato com a maioria do que louco sozinho. Alguns querem ser notáveis através de quimeras.

 
 
 

BALTAZAR   GRACIÁN, A ARTE DA PRUDÊNCIA

 

 
 

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VIVER  DE MANEIRA   PRÁTICA

 

Mesmo quando o saber for desusado, finja ignorância.

 

Mudam-se os tempos, assim como as expressões e o gosto. 

 

Evitemos de nos exprimir como um antigo; tenha gosto como um moderno. 

 

O gosto da maioria impõe o comportamento social. 

 

É o que importa em todas as coisas. 

 

Deve observar o gosto comum e avançar para o aperfeiçoamento, acomodando-se ao presente ainda que o passado lhe pareça melhor, tanto nos adornos do corpo como nos da alma

 

Só na bondade não vale esta regra de vida, pois sempre se deve praticar a virtude. 

 

Muitos valores vieram a parecer antiquados: falar a verdade, manter a palavra. 

 

Os bons parecem pertencer aos velhos bons tempos, embora sejam sempre queridos. 

 

Se é que ainda há alguns, são raros, e nunca são imitados. 

 

Que triste época esta, quando a virtude é rara e a maldade está no cotidiano. 

 

Viva o discreto o melhor que puder, embora não seja como gostaria. 

 

Valorize o que a sorte lhe concedeu mais do que lhe recusou.

 

 

BALTAZAR  GRACIÁN, A ARTE DA PRUDÊNCIA

 
 
 

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POSSUIR  A   ARTE  DA  CONVERSAÇÃO

 

É o que revela ser uma pessoa verdadeira. 

 

Nenhuma atividade humana exige mais atenção por ser a mais comum

 

É aqui que ganhamos ou perdemos. 

 

Requer  isso ao  escrever uma carta, que é a conversa refletida e escrita, e ainda mais ao conversar, pois a discrição é logo posta à prova. 

 

Os entendidos tomam pulso da alma baseados na linguagem, e baseado nisso um sábio disse: 

 

“Fale, e será conhecido”. 

 

Para alguns, a arte da conversação está em falar sem arte, deixando-a cair livremente, como a roupa. 

 

A idéia talvez seja válida quanto à conversa entre amigos. 

 

Mas, nos círculos mais elevados, a conversação deve ser mais formal, revelando a excelente substância da pessoa. 

 

Para que a conversa seja bem aceita, tem de se adaptar ao caráter e inteligência dos interlocutores. 

 

Não banque o censor de palavras- pois será tomado como um pedante gramático  - e muito menos o fiscal das opiniões - o que  fará que seja evitado pelos demais, impedindo-o de se comunicar. 

 

Na conversa, a discrição é mais importante que a eloqüência.

 

BALTAZAR  GRACIÁN,  A ARTE DA PRUDÊNCIA

 
 

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O CORVO E A  OVELHA.

 

Um impertinente corvo aboletou-se nas costas de uma  ovelha. 

 

A ovelha, muito a contragosto, o carregou para cima e para baixo durante um bom tempo, mas acabou dizendo: 

 

“ se você tratasse um cachorro assim, já teria recebido dos seus dentes afiados o que merece”. 

 

Ao que o corvo respondeu: 

 

“ desprezo o fraco, e obedeço ao forte. 

 

Sei a quem posso desrespeitar  e a quem devo adular, e assim espero viver até me aposentar”.

 

Fábulas, Escopo, Século VI, a.C

 

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O CAÇADOR

 

Ele não monta para a raposa a mesma armadilha que usa para pegar o lobo.

 

Ele não coloca a isca onde ninguém vai morder. 

 

Ele conhece bem a sua presa, seus hábitos e esconderijos e caça de acordo com esse conhecimento.

 

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DOS  TIPOS  DE PESSOAS

 

A Arte da sobrevivência na sua forma mais refinada está em saber distinguir  lobos de cordeiros, raposas de lebres, gaviões de abutres

 

Se lidar às cegas com quem cruzar o seu caminho, viverá em constante pesar, se chegar a viver tanto assim. 

 

Ser capaz de reconhecer os tipos de pessoas e agir de acordo é importantíssimo.

 

Os tipos a seguir são o cinco mais perigosos e difíceis da selva, conforme identificados por artistas - vigaristas ou não - desde o passado mais remoto que se tem registro.

 

O Homem arrogante e orgulhoso

 

Comumente tentam disfarçar isso. A suscetibilidade orgulhosa o torna muito perigoso. Ao mais leve sinal de sentir-se ofendido, ele quer se vingar de uma forma extremamente violenta. Não há sanidade na sua reação exagerada, não perca tempo tentando entendê-lo.  Afaste-se dessa pessoa, não vale a pena o convívio próximo seja lá o que você esteja esperando dela.

 
 
 

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Há homens com temperamento selvagem que transformam tudo em crime, não por paixão, mas devido sua própria natureza. 

 

Condenam a todos, alguns pelo que fizeram, outros pelo que farão. Isso indica um espírito pior que cruel, realmente vil.

 

Criticam os outros com tal exagero com tal exagero que transformam ciscos em traves para arrancar os olhos. 

 

São feitores que transformam um paraíso numa prisão. 

 

Quando dominados pela paixão, levam tudo a extremos. 

 

Ao contrário dos que são bondosos que para tudo há desculpas, os outros sempre têm boas intenções ou erraram inadvertidamente.

 
 

BALTAZAR GRACIAN

 
 

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O Homem irremediavelmente inseguro

 

Está relacionado com o tipo orgulhoso e arrogante, mas é menos violento e mais difícil de ser identificado. Seu ego é frágil, sua noção de identidade insegura e se ele se sentir enganado ou atacado, a mágoa fica contida. Ele o irá mordendo aos poucos e vai levar um tempão para essa mordida aumentar e você perceber o que está acontecendo. Não fique perto dele, ou ele o irá mordiscando até você morrer.

 

O desconfiado

 

Outra variante dos tipos acima é um futuro Stalin. Ele só vê o que ele quer ver - em geral, o pior - nas outras pessoas imagina que todos estão atrás dele. O desconfiado é de fato o menos perigoso dos três: genuinamente desequilibrado, ele é fácil de enganar, assim como o próprio Stalin era constantemente iludido.

 

A Serpente de longa memória

 

Se magoado ou enganado, este homem não demonstrará superficialmente a sua raiva, ele vai calcular e aguardar. depois, quando estiver em posição de virar a mesa, irá reclamar uma vingança marcada por uma fria sagacidade. reconheça este homem por sua cautela e astúcia em diferentes áreas da sua vida. Ele costuma ser frio e insensível.

 

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O  LEÃO, A CAMURÇA E A RAPOSA

 

Um leão perseguia uma camurça num vale. Estava prestes a agarrá-la, e com olhos cúpidos previa um garantido e satisfatório repasto. Parecia impossível à vitima escapar, uma ravina profunda barrava o caminho tanto do caçador quanto da caça. Mas a ágil camurça, reunindo todas as suas forças, lançou-se como uma flecha sobre o abismo e parou do outro lado sobre uma pedra.

 

O leão deteve-se abruptamente. Mas naquele momento um grande amigo dele passava por ali. Esse grande amigo era a raposa. 

 

O que!”, ela disse, “com a sua força e agilidade, você vai perder para uma fraca camurça? Basta  querer, e será capaz de fazer maravilhas. Embora o abismo seja profundo, se você quiser mesmo, tenho certeza de que o vencerá. Sem dúvida você pode confiar na minha amizade desinteressada. Eu não exporia a sua vida a tanto risco se não conhecesse tão bem a sua força e destreza.

 

O sangue do leão ferveu nas veias. Ele se atirou com toda a força ao espaço. Mas não conseguiu vencer o abismo e caiu de cabeça, morrendo na queda. Então, o que fez o seu grande e querido amigo?  Desceu cautelosamente até o  fundo da ravina, e lá, ao ar livre e no espaço aberto, vendo que o leão não precisava mais de elogios nem de obediência, se dispôs a prestar os últimos exéquias ao amigo morto e, de uma só vez, devorou-o até os ossos.

 

IVAN KRILOFF, 1768 – 1844

 

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É mais fácil conhecer 10 Países do que um ser humano !

 

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Quando competimos, nossa reputação pode sofrer prejuízo. 

 

O competidor vai de imediato tentar descobrir nossos defeitos para nos desacreditar. 

 

Poucos fazem guerra com justiça. 

 

A rivalidade descobre as faltas que a cortesia tinha esquecido. 

 

Muitos possuíam boa reputação até que tiveram rivais. 

 

O calor da oposição ressuscita infâmias dormentes e desenterra as imundices passadas e antepassadas. 

 

A competição começa por tornar públicos os defeitos, e os rivais tiram proveito de tudo que o podem e de que não deveriam. 

 

É freqüente não ganharem nada ofendendo aos outros, a não ser a vil satisfação da vingança. 

 

A vingança sacode o pó com tanta raiva que faz ressurgir os defeitos do esquecimento. 

 

A benevolência sempre foi pacifica e a reputação, indulgente.

 
 

BALTAZAR  GRACIAN

 
 

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Não perca seu tempo contradizendo ninguém. 

 

Conforme Aristóteles recomendava: 

 
 

" não entre em controvérsia com qualquer um que chegue, mas só com aqueles que conhecemos e dos quais sabemos que têm inteligência suficiente para não propor coisas absurdas e que têm suficiente talento para discutir à base de razões e não com bravatas, para escutar e admitir tais fundamentos e que, enfim, apreciem a verdade, prestem com gosto o ouvido às razões, mesmo quando procedam da boca do adversário e sejam o bastante equitativos para suportar que não se lhes dê razão, quando a verdade está do outro lado.

 

Entre cem pessoas há apenas uma com a qual valha a pena discutir. 

 

Aos demais, deixemos que digam o que querem porque ser idiota é um dos direitos do homem e pensemos no conselho de Voltaire: 

 
 

"A paz vale ainda mais que a verdade"; 

 

e também em um provérbio árabe que diz:

 
 

"Da árvore do silêncio pende como fruto a paz". 

 
 

E também na inteligência de Isaac Newton que quando percebia que a pessoa que lhe perguntava algo da ciência não possuia capacidade de entendê-lo respondia apenas que a descoberta surgiu da queda de uma maça em sua cabeça...

 

"Nem sempre gostamos daquelas pessoas com quem nos relacionamos com educação e respeito sobretudo com a  "simpatia do falastrão "amigo(a)", observando que isto é de mão-dupla. 

 

Hitler já foi muito gentil com os judeus.

 

O verdadeiro sábio não demonstra grande apreço e confiança pelos amigos, pois não há garantia de que não será traído por eles,  como também esconde o desapreço pelos inimigos e sobretudo diretamente para esses, pois não há ninguém tão insignificante que você não possa vir a precisar em algum momento para alguma coisa em sua vida.

 

Só podemos agir com a imprudência de achar que conhecemos alguém, quando o virmos  no limite; ou quando você se encontrar no limite e depender de um amigo para ajuda-lo. Em geral você aprenderá que seu amigo não passava de um “amigo”...

 

Quando vir alguém não agir conforme essa sabedoria, fique quieto e não queira educá-lo. 

 

Saiba que a atitude é de tolo e o melhor é ficar longe dos tolos  !!!!  

 

 Não perca seu tempo tentando domesticar animais selvagens. 

 

Lobo é lobo, ovelha é ovelha. 

 

Ovelha não faz trato com lobo.

 

 

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O PRISIONEIRO

 

 Do livro: Kardec na Intimidade – Roque Jacinto – Ed. Luz no Lar

 

 Os cabelos revoltos se confundiam com a barba.  

No escuro da cela, somente seus olhos se destacavam, com cintilações estranhas de um profundo rancor.

 

 - Vieste... para libertar-me? - Kardec após observá-lo, agora o ouvia.

 

 - Minha mãe... falou-me em liberdade! - Que farás da tua liberdade, perguntou Kardec. - Vou completar o que não terminei !  

 

E após outra pausa breve, ele completou ameaçador: 

 

 - Nenhuma ofensa ficará sem o justo revide! 

A tua voz ressoa ameaças filho.

 

- Fui ofendido! 

 

E quem não o terá sido um dia? 

 

Nesse estado de alma, mesmo que o diretor do presídio te concedesse liberdade, seria uma liberdade ilusória.

 

- Pensas que voltarei... depois de fazer justiça? 

 

Kardec o fitou com compaixão.

 

 - Não me refiro á justiça humana... 

 

Digo que seguirás prisioneiro do ódio e de seus próprios erros! 

 

Essa prisão será mil vezes pior, quando quem passará a cobrar seja a voz de tua própria consciência.

 

 - Que vieste, então fazer aqui, se não é para me libertares? 

 

Após te ver proponho-te que, antes de buscares a luz do dia fora desta cela, que faças luz em seu próprio coração. 

 

 Sabes ler? - Sim... um pouco! 

 

Confio-te então este livro, que poderá ser a chave da tua libertação de ti mesmo.  

 

E estendeu ao jovem prisioneiro o Evangelho. Kardec completou:

 

 - Um dia, voltaremos a nos encontrar, tenho certeza! 

 

O prisioneiro com a mão livre, segurou firme o braço de Kardec, num apelo-ameça.

 

- Minha mãe disse... que és um homem piedoso! É essa a tua caridade?

 

- A caridade nem sempre é o fazer a vontade daquele que nos pede

 

Ela nos aconselha a dar-te um tempo para refletires!

 

 Este lugar te será um auxílio divino, em teu atual estado...

 

Tarde da noite. - Kardec estava revisando algumas paginas da Revista Espírita, quando alguém entrou em silêncio e parou ao seu lado. – Sim... – Ofereceu-se Kardec atencioso, fitando o visitante.

 

- Venho pedir-te um favor. - Quem queres? - Indaga Kardec a examiná-lo, como alguém que procurava reconhecer aquele com quem falava. 

 

O homem suspirou. – Um querido amigo meu esta quase a morte. 

 

Ele quer confidenciar-se contigo para aliviar o coração. 

 

- Eu conheço esse teu amigo? - De certa forma sim! 

 

Ele por seu lado o conhece bem, por um livro que  lhe deu... Kardec o fitou nos olhos. 

 

– És tu... - Sim suspirou o visitante, entresorrindo. 

 

– Sou aquele prisioneiro do ódio, que um dia deixaste na prisão e a quem libertaste com a doação de um livro!

 

 - É teu amigo?... - Era meu desafeto, o meu ofensor. 

 

O Evangelho, porém, me ensinou a vê-lo como um torturado enfermo da lama. 

 

E tão logo obtive a liberdade, saindo da prisão fui procurá-lo e servi-lo.

 

 - Oh Deus de misericórdia!... Ele era obsediado e hoje esta renovado para o bem.

 

 – Vamos vê-lo! E os dois saíram noite adentro para dar a assistência da piedade a quem se renovara pelos atos de fraternidade do ex-ofendido.

 

E Kardec a cada passo, elevava seus pensamentos a Jesus, agradecendo-lhe a bênção de ser testemunha do poder renovador do amor.