DO ISOLAMENTO

 

O mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisam se proteger. Uma fortaleza parece muito segura, mas o isolamento expõe você  a mais perigos do que o protege deles – você fica isolado de informações valiosas, transforma-se num alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados, se misturar. A multidão serve de escudo contra os seus inimigos.

 

A LEI TRANSGREDIDA

 

Ch’in Shih Huang Ti, o primeiro imperador da China (221-210 a.C), era o homem mais poderoso da sua época. Seu império era mais vasto e poderoso do que o de Alexandre o Grande. Ele conquistou todos os reinados ao redor do seu e os unificou num grande reino chamado China. Mas, nos seus últimos anos de vida, quase ninguém o via.

 

O imperador morava no palácio mais magnífico já construído até aquela data, na capital de Hsien-yang. Eram 270 pavilhões interligados por passagens secretas subterrâneas que permitiam ao imperador ir de um lado a outro do palácio sem ser visto. Cada noite ele dormia num quarto diferente e quem inadvertidamente olhasse para ele era decapitado na mesma hora. Apenas alguns homens sabiam onde ele estava e, se revelassem a alguém, morriam também.

 

O primeiro imperador tinha tanto terror do contato humano que se tivesse de sair do palácio viajava incógnito, cuidadosamente disfarçado. Em uma dessas viagens pelas províncias, ele morreu subitamente. Seu corpo foi trazido de volta para a capital na carruagem imperial, acompanhada por uma carreta cheia de sal para disfarçar o cheiro do defunto apodrecendo – ninguém deveria saber da sua morte. Ele morreu sozinho, longe de suas esposas, da família, dos amigos e dos cortesãos, na companhia apenas de um ministro e um punhado de eunucos.

 

INTERPRETAÇÃO

 

À medida que o imperador tentava se proteger enfiando-se cada vez mais no seu palácio, ia lentamente perdendo o controle do seu reino. Eunucos e ministros colocavam em vigor políticas sem a sua aprovação e até conhecimento; também tramavam contra ele. No final, era imperador apenas no nome e vivia tão isolado que quase ninguém soube da sua morte.  Provavelmente foi envenenado pelos mesmos ministros conspiradores que incentivaram o seu isolamento.

 

Este é o resultado do isolamento: retire-se para uma fortaleza e você  perde o contato com os fatos da vida social. Você não ouve o que está acontecendo ao seu redor e perde o senso de limite. Em vez de ficar mais seguro, você  se isola do conhecimento de que depende para viver. Não se distancie tanto das ruas a ponto de não escutar mais o que acontece por perto, inclusive o que estão tramando contra você.  Nem sempre é certo e propício escolher o isolamento. Sem escutar o que acontece lá fora, você não pode se proteger.

 

O contato humano constante só não facilita o pensamento. A constante pressão da sociedade para que tudo esteja de acordo e a falta de um distanciamento das outras pessoas, torna impossível pensar com clareza sobre o que está acontecendo ao seu redor. Como um recurso temporário, portanto, o isolamento poderá ajudá-lo  a ver melhor as coisas. Muitos pensadores sérios foram produzidos nas prisões, onde a única coisa que se tem para fazer é pensar. Maquiavel só pôde escrever ‘O Príncipe’ porque estava exilado e sozinho no campo, longe das intrigas políticas de Florença.

 

O isolamento exagerado gera ideias estranhas e pervertidas; você perde a noção da sua própria pequenez e limitações. Também quanto mais isolado você estiver, mais difícil será sair do seu isolamento quando quiser – sem perceber, você caiu num poço de areia movediça.

 

Se precisar de tempo para pensar, só escolha o isolamento como último recurso, apenas em pequenas doses, e preste atenção para deixar aberto o caminho de volta à sociedade.

 

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O isolamento é um perigo para a razão, sem favorecer a virtude...

Lembre-se de que o mortal solitário é certamente lascivo, provavelmente supersticioso e possivelmente louco.

 

Dr. Samuel Johnson, 1709-1784

 

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A  MASCARA DA  MORTE VERMELHA

 

A “Morte Vermelha” há muito  detestava o país. Nenhuma pestilência fora tão fatal, ou tão hedionda.  O sangue era o seu Avatar e o seu selo – a  vermelhidão  e o horror do sangue. Eram dores agudas, a súbita tontura e aí o sangramento intenso pelos poros, e a morte....E todo o ataque, progresso  e término da doença acontecia em meia hora.

 

Mas o príncipe próspero era uma pessoa feliz, destemida e sagaz. Quando a população dos seus domínios já estava reduzida à metade, ele reuniu uns mil amigos sadios e despreocupados entre os  cavaleiros e as damas da sua corte e, com eles, se retirou na profunda reclusão de uma de suas abadias encasteladas. Era uma estrutura ampla e magnífica, criação do próprio gosto excêntrico, porém augusto do príncipe.

 

Um muro forte e alto a cercava. Este muro tinha portões de ferro. Os cortesãos, depois de entrar, trouxeram fornos e pesados martelos e soldaram os ferrolhos. Resolveram não deixar meios de entrada nem de saída para os súbitos impulsos de desespero ou frenesi lá dentro.

 

A abadia tinha fartas provisões. Com tais precauções, os cortesãos poderiam desafiar o contágio. O mundo exterior ficaria por sua própria conta. Enquanto isso, era tolice se lamentar, ou pensar. O príncipe tinha providenciado tudo que fosse necessário para o prazer. Havia bufões, improvisatori, dançarinos, músicos, havia beleza e vinho. Lá dentro, tinha tudo isso e mais a segurança.  Fora ficou a “Morte Vermelha”.

 

Lá pelo  quinto ou sexto mês de recluso e enquanto a pestilência grassava furiosa lá longe, o principe próspero distraía seus mil amigos num magnífico baile de máscara. Era um espetáculo voluptuoso, aquela mascarada.....E a festa seguia vertiginosa, até que finalmente ouviu-se o soar da meia-noite no relógio..... E foi talvez assim que antes que se calassem totalmente os últimos ecos da última badalada, muitos indivíduos distraindo-se atentos com uma figura mascarada que ninguém percebera antes...

 

A figura era alta e lúgubre, envolta dos pés à cabeça em trajes mortais. A máscara escondendo o rosto era tão parecida com a de um corpo enrijecido que o olhar mais atento teria dificuldade em perceber a fraude. E, no entanto, tudo isso os foliões enlouquecidos ao redor teriam suportados, até aprovado. Mas o mascarado chegara a ponto de assumir o tipo da Morte Vermelha. Suas  roupas estavam manchadas de vermelho – e a sua ampla testa, e todos os traços do seu rosto estavam salpicados com o horror escarlate..... Uma multidão de foliões lançando-se de repente ao negro apartamento e percebendo o mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e imóvel à sombra do relógio de ébano, sufocou um grito de horror ao ver a mortalha e a máscara de defunto, que arrancaram com tamanha grosseria, sem nenhuma forma tangível a sustentá-la. 

 

E agora se confirmava a presença da Morte Vermelha. Ela havia entrado sorrateiramente como um ladrão. E um a um foram caindo os foliões nos corredores ensanguentados da sua folia e morreram todos na mesma atitude de desespero da queda.

 

E a vida do relógio de ébano se foi com a do último folião. E as chamas dos tripés se apagaram. E a Escuridão, a Decadência e a Morte Vermelha reinaram soberanas.

 

Edgar Allan Poe , 1809 – 1849

 

 

INTERPRETAÇÃO

 

O mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisam se proteger. Uma fortaleza parece muito segura, mas o isolamento expõe você  a mais perigos do que o protege deles – você fica isolado de informações valiosas, transforma-se num alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados, se misturar. A multidão serve de escudo contra os seus inimigos.

 

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A FORTALEZA

 

No alto da colina, a cidadela se torna símbolo de tudo que é detestável no poder a na autoridade. Os cidadãos a trairão com o primeiro inimigo que aparecer. Incomunicável e sem informações secretas, a cidadela cai facilmente.

 

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Um príncipe bom e sábio, desejoso de manter esse caráter e impedir que seus filhos tenham oportunidade de se tornar tirânicos, não construa fortalezas, para que eles possam confiar na boa vontade de seus súditos e não na força de cidadelas.

 

Nicolau Maquiavel, 1469-1527

 

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O CARANGUEJO

 

Num mundo hostil, o caranguejo sobrevive pela dureza da sua casca, pela ameaça de suas pinças, e pelo seu esconderijo na areia. Ninguém ousa chegar perto. Mas o caranguejo não pode surpreender o seu inimigo e tem pouca mobilidade. Sua força defensiva é a sua suprema limitação.

 

 

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É ingenuidade pensar que seus valores deveriam ser universais.

 

Quem quiser consertar o mundo, afastando-se de quem não concorda com seus conceitos sobre o que é certo e errado, vai cavar a própria sepultura.

 

É importante manter o contato com o nosso mundo.

 

Ensine aos outros dando exemplo.

 

s pais quando morrem, mas quanto teria de lhes pagar para comê-los ?”

 

Ofendidos, os gregos responderam usando uma versão mais truculenta de “vá plantar batatas.”

 

Depois, chamou um bando de indianos do reino e perguntou:

 

 “Sei que vocês comem os pais quando morrem, mas quanto teria de lhes pagar para cremá-los?”

 

Chocados, os indianos responderam a Dario da mesma forma que os gregos.

 

Baseado na investigação de Dario, Heródoto concluiu que as sociedades têm costumes diferentes e, portanto, ponderou que certo e errado são conceitos subjetivos.

 

 

Saiba que:

 

 

A personalidade é a combinação do temperamento com o caráter e o caráter é a combinação da genética com o meio ambiente.

 

 

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Texto compilado extraído de livro dos autores Robert greene e Joost Elffers