O PODER DOS SÍMBOLOS

 

 

Qualquer triunfo que se tenha alcançado discutindo é na verdade uma vitória momentânea: 

 

o ressentimento e a má vontade que você desperta são mais fortes e permanentes do que qualquer mudança momentânea de opinião. 

 
 

É muito mais eficaz fazer os outros concordarem com você por suas atitudes, sem dizer uma palavra. Demonstre, não explique.

 
 

O problema em tentar provar que está certo ou conseguir uma vitória com argumentos é que no final você nunca tem certeza de como isso afeta as pessoas com quem está discutindo: elas podem parecer concordar com você por educação, mas intimamente ficam magoadas

 
 

Ou talvez algo que você disse inadvertidamente até as ofendeu - as palavras têm uma insidiosa capacidade de serem interpretadas de acordo com o estado de humor ou insegurança de outra pessoa. Até mesmo o melhor argumento não tem fundamentos sólidos, pois todos nós desconfiamos da natureza escorregadia das palavras e dias depois de concordarmos com alguém com frequência voltamos a nossa antiga opinião só por hábito.

 
 
 

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O CIDADÃO E O VIAJANTE

 
 
 

“Olhe em volta”, disse o cidadão. “Este é o maior mercado do mundo.” “Oh, certamente que não”, disse  o viajante. “Bem, talvez não o maior”, disse o cidadão, “mas o melhor.” “Você deve estar enganado”, disse o viajante. “Eu lhe digo...”  Enterraram o estrangeiro ao cair da noite.

 
 

ROBERT LOUIS STEVENSON, 1850 – 1894

 
 

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Não dê aos cães o que é sagrado; e não jogue aos porcos as suas pérolas, para que eles não as pisoteiem e se voltem para atacá-lo.

 

Jesus Cristo, Mateus 7:6

 

 

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Palavras custam um tostão a dúzia. Todos sabem  que, no calor da argumentação, nós todos falamos qualquer coisa para defendermos a nossa causa. Atitudes e demonstrações têm muito mais poder e sentido. Elas estão alí, diante dos nossos olhos - nenhuma possibilidade de mal-entendidos. Ninguém pode discutir de boa-fé com uma prova visível.

 
 
 

Explicar ou demonstrar com palavras é um negócio arriscado; elas são instrumentos perigosos e podem se perder pelo caminho. As palavras que as pessoas usam para nos convencer virtualmente nos convidam a refletir sobre elas com as nossas próprias palavras. Ficamos cismando e acabamos acreditando no contrário do que dizem ( faz parte da natureza perversa humana ). Acontece que as palavras também ofendem, despertam associações não pretendidas por quem as pronunciou, [...]

 
 

Por outro lado, o visual encurta o caminho nesse labirinto de palavras. Ele ataca com um poder emocional e um imediatismo que não dá espaço para reflexões e dúvidas. Como a música, ele passa por cima do pensamento racional, sensato. As palavras  colocam você na defensiva. Um imagem se impõe como um dom. Ela desencoraja perguntas, cria associações convincentes, resiste a interpretações não desejadas, comunica instantaneamente e forja vínculos que transcendem as diferenças sociais. As palavras também geram discussões e divisões; as imagens unem as pessoas. Elas são os instrumentos quintessenciais do poder.

 
 

O objeto simbólico representa outra coisa, algo abstrato. O conceito abstrato – pureza, patriotismo, coragem, amor – está repleto de associações emocionais e poderosas. O símbolo é uma forma de expressão mais rápida, contendo dezenas de significados numa única frase ou objeto.

 
 

 

 
 
 

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Diante da luz que se reflete nas outras estrelas formando a sua volta uma espécie de corte, diante da justa e igual distribuição de seus raios a todos igualmente, diante do benefício que leva a todas as partes, produzindo vida, alegria e ação, diante da sua forma constante e invariável, escolho o sol como a imagem magnífica para representar um grande líder.

 
 

Luís XIV, o Rei Sol, 1638-1715

 
 

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O símbolo do Rei Sol, como explicado por Luis XIV pode ser entendido em vários níveis, mas a sua beleza está no fato de que suas associações não exigiam explicação, falavam imediatamente aos seus súditos, o distinguiam de todos os outros reis e evocavam um tipo de majestade que ia muito além das próprias palavras. O símbolo tem poderes incalculáveis.

 
 

O primeiro passo é compreender a predominância da visão sobre os outros sentidos. A visão é o sentido de que mais dependemos e no qual mais confiamos.

 
 

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A vida é geralmente vista, raramente ouvida

Baltasar Gracián

 
 
 

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A  LEI OBSERVADA

 
 
 

Ao ser capturado como escravo pelos mouros, o pintor renascentista Fra filippo Lippi reconquistou a liberdade desenhando o seu dono numa parede branca com um pedaço de carvão. Quando o dono viu o desenho, entendeu na mesma hora o poder de um homem que era capaz de fazer tais imagens, e libertou Fra Lippi. Uma única imegem foi muito mais eficaz do que qualquer argumento que o pintor pudesse apresentar com palavras.

 
 

Não negligencie a maneira de apresentar as coisas visualmente. Fatores como cor, por exemplo, têm uma enorme ressonância simbólica. Quando o trapaceiro Yellow Kid Weil criou um boletim com informações secretas sobre as ações falsas que ele estava vendendo, ele o chamou de “Red Letter Newsletter” e mandou imprimi-lo em letras vermelhas a um custo considerável. A cor criou uma ideia de urgência, poder e sorte.Wiel sabia que esses detalhes eram os elementos-chave de uma fraude – como a palavra “ouro” no título de alguma coisa que estiver vendendo, por exemplo, imprima-a em letras douradas. Como o olhar predomina, as pessoas reagirão mais à cor do que à palavra.

 
 

O visual contém um grande poder emocional. O uso dos símbolos também causa um efeito palaciano, visto que em geral eles são mais delicados que as palavras rudes.

 
 

O imperador romano Constantino passou quase que a vida inteira adorando o sol como um deus. Mas, um dia, ele olhou para o sol e viu sobreposta uma cruz. A visão da cruz sobre o sol lhe mostrou a ascendência de uma nova religião, e logo em seguida ele não só se converteu ao cristianismo como levou todo o Império Romano a fazer o mesmo. Todas as pregações e todo o proselitismo no mundo não teriam tido tamanha eficácia. 

 
 
 

 

A melhor maneira de usar imagens e símbolos é organizá-los como um grande espetáculo que assombre as pessoas e as distraia das realidades desagradáveis. Isso é fácil de fazer: elas gostam do que é grandioso, espetacular e sobrenatural.  O visual é o caminho mais fácil para seus corações.

 
 

Durante a rebelião contra a coroa francesa, em 1648, aqueles que permaneceram fiéis ao rei subestimaram os rebeldes comparando-os aos estilingues ( em francês, frondes ) que os garotinhos usam para assustar os grandalhões. O cardeal de Retz decidiu transformar este termo depreciativo no símbolo dos rebeldes: a rebelião hoje é conhecida como Fronde, e os rebeldes como frondeurs. Eles começaram usando faixas nos chapéus simbolizando o estilingue, e a palavra se tornou o seu grito de combate. Sem ele, a rebelião poderia muito bem ter perdido aos poucos a sua força.  

 
 

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A CRUZ  E O SOL

 
 
 
 
 
 
 

Crucificação e total radiação. Com um sobreposto ao outro, a nova realidade toma forma – um novo poder ascende. O símbolo – não é preciso explicar nada.

 
 

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As pessoas se impressionam sempre com a aparência superficial das coisas... O príncipe deve, em épocas adequadas do ano, manter o povo ocupado e distraído com festividades e espetáculos.

 
 

Nicolau Maquiavel, 1469 – 1527

 

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O simbolismo parece uma espécie de atalho para o pensamento. Em vez de procurar a relação entre duas coisas, seguindo as variantes ocultas de suas conexões, o pensamento dá um salto e descobre a sua relação não na conexão de causa e efeitos, mas numa conexão de significado [...] . O pensamento simbolista permite uma infinidade de relações entre coisas. Cada coisa pode denotar um número de idéias distintas por suas diferentes qualidades especiais, e uma qualidade pode ter vários significados simbólicos.  Os mais altos conceitos têm milhares de símbolos. Nada é humilde demais para representar e glorificar o sublime. A nogueira significa Cristo: a doce semente é a Sua natureza divina, a pele externa verde e carnuda é a Sua humanidade, a casca rija no meio é a cruz.

 
 

Assim, todas as coisas elevam seus pensamentos ao eterno [...] Cada pedra preciosa, além do seu natural esplendor, cintila com o brilho dos seus valores simbólicos. A assimilação de rosas e virgindade é muito mais do que uma comparação poética, pois revela a essência comum das duas. A cada noção que surge mentalmente, a lógica do simbolismo cria uma harmonia de idéias.

 

THE WANING OF THE MIDDLE AGES. JOHAN HUIZINGA, 1928

 

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A comunicação depende de metáforas e símbolos, que são a base da própria linguagem. A metáfora é um espécie de espelho do que é real e concreto, quase sempre expresso com mais nitidez e profundidade do que por meio de uma descrição literal. Quando você lida com a força de vontade refratária dos outros, a comunicação direta com frequência só faz acentuar essa resistência.

isto acontece com mais nitidez quando você se queixa do comportamento das pessoas, particularmente em áreas sensíveis como a sua forma de amar. Você conseguirá uma mudança muito mais duradoura se fizer uma analogia, um espelho simbólico da situação e guiar o outro através dele. Como o próprio Cristo compreendeu, falar em parábolas costuma ser a melhor maneira de ensinar uma lição, pois deixa que as pessoas percebam a verdade sozinhas.

Ao lidar com pessoas perdidas nos reflexos de mundos de fantasia ( inclusive o batalhão de gente que não vive em hospitais para doentes mentais ), jamais tente empurrá-las para a realidade estilhaçando os seus espelhos. Pelo contrário, entre no mundo delas e opere lá dentro, seguindo as suas regras, gentilmente guiando-as para fora da sala dos espelhos onde entraram.

 
 

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METEOROLOGISTAS PAGAM O PREÇO PELAS INSTABILIDADES DA NATUREZA

 
 

"Por que eles me culpam, doutor?" Era a voz insegura de um meteorologista da TV local ao telefone. Isso é loucura, não é? Todo mundo sabe que eu apenas informo a previsão do tempo, que não a encomendo, certo? Então porque ouço tantas críticas quando faz tempo ruim? Durante as enchentes do ano passado recebi um monte de e-mails agressivos! Um sujeito ameaçou me dar um tiro se não parasse de chover,..[...]

 
 

Exemplos dessa reação não faltam na vida moderna. A explicação exige um pouco de história antiga. Lembremos do destino incerto dos mensageiros imperiais da antiga Pérsia. De posse da notícia da vitória, era tratado como herói ao chegar ao palácio. Poderia comer e beber até se fartar. Mas, se a mensagem fosse de um desastre militar, a recepção seria bem diferente: ele acabaria sendo sumariamente assassinado.

 
 

A moral da história é a seguinte: a natureza da má notícia contagia o mensageiro. Existe uma tendência humana natural a desgostar de uma pessoa que traz informações desagradáveis, ainda que ela não tenha causado a má notícia. A simples associação basta para estimular nossa aversão. Seja um mensageiro de boas notícias, deixe as más para os outros !!!

 
 

O princípio da associação é geral, governando tanto as associações negativas quanto as positivas. Lembra-se de como os pais viviam alertando que não brincássemos com os moleques na rua ? Conhece o ditado "Diga-me com quem andas e te direi quem és? " Os pais estavam ensinando a culpa por associação. E estavam certos. As pessoas de fato presumem que temos os mesmos traços de personalidade de nossos amigos, embora nem sempre tenhamos.

 
 

Quanto às associações positivas, são  os profissionais da persuasão que nos dão a lição. Eles vivem tentando associar a si ou seus produtos com as coisas de que gostamos. Você já se perguntou o que aquelas modelos atraentes estão fazendo nos anúncios de automóveis? O que o anunciante espera que estejam fazendo é emprestando seus traços positivos - beleza e atratividade - aos carros. Ele está apostando que os homens reajam ao produto da mesma maneira como reagem às belas modelos ao lado. E é o que acontece.

 
 

Fonte: As armas da persuasão.  Robert B. Cialdini. com adaptações.

 
 

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