TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO  

 “ A FILOSOFIA NA ALCOVA”   

DO AUTOR  MARQUES DE SADE.

ANO 1740 - 1814

 

(...)

 

DOLMANCÉ - Não há crime em relação a nada, minha filha, em relação a coisa  alguma. A mais monstruosa das ações não tem sempre um lado pelo qual nos é propícia?

 

EUGÊNIA - Quem duvida?

 

DOLMANCÉ - Pois bem! Se assim é, ela cessa de ser um crime. Pois, se aquilo que é útil a um, prejudicando a outro, fosse um crime, seria preciso demonstrar que o ser prejudicado era mais precioso à natureza que o favorecido; ora, se todos os indivíduos são iguais aos olhos da natureza, esta predileção é impossível; logo, a ação que favorece a um, prejudicando a outro, é absolutamente indiferente aos olhos da natureza.

 

EUGÊNIA - Mas, e se a ação prejudicasse uma enorme quantidade de indivíduos e só nos desse uma pequena quantidade de prazer, não seria condenável praticá-la.?

 

DOLMANCÉ - Absolutamente! Não há comparação entre o que sentem os outros e o que nós sentimos. Por maior que seja o sofrimento alheio, nós não sentimos nada, ao passo que por menor que seja o prazer que desfrutamos, ele é sempre nosso; logo, nós devemos, a qualquer preço, preferir esse pequeno prazer que nos satisfaz à essa imensa soma de desgraças alheias com a qual nada temos a ver. Mas se acontece, ao contrário, que a singularidade de nossos órgãos nos leve a sentir prazer com as desgraças alheias - como costuma, aliás, acontecer – quem duvidará que devemos incontestavelmente preferir esta dor alheia, que nos diverte, à ausência de um sofrimento que seria uma privação para nós?

 

A fonte de todos os erros da moral vem da admissão ridícula deste liame de fraternidade que os cristãos inventaram em sua época de infortúnio e miséria. Obrigados a mendigar a piedade dos outros, eles trataram de estabelecer que todos eram irmãos. Como deixar de socorrer os outros, admitida tal hipótese? Mas é impossível admitir esta doutrina. Não nascemos todos isolados? Ainda mais, todos inimigos uns dos outros, num perpétuo estado de guerra recíproco? Ora, eu vos pergunto se isto aconteceria, na suposição de que as virtudes exigidas por essa pretensa rede de fraternidade existissem realmente na natureza? Se sua voz as inspirassem aos homens, eles as possuiriam desde o nascimento. Desde então a piedade, a benevolência, a humanidade, seriam virtudes naturais de que seria impossível nos livrarmos, tomando, este estado primitivo do homem, que acabamos de ver, em coisa completamente diferente.

 

EUGÊNIA - Mas, se como você diz, a natureza faz nascer os homens isolados, todos

independentes uns dos outros, concorde ao menos que as necessidades, ao aproximá-los, estabelece certas ligações entre eles: por exemplo, as do sangue, que surgem de sua aliança recíproca; as do amor, as da amizade, do reconhecimento, etc. Ao menos estas você respeita, espero?

 

DOLMANCÉ - Na verdade, não mais do que a outras. Mas analisemo-las, Eugênia, rapidamente. Diria você, por exemplo, que a necessidade que tenho de me casar, quer para ver minha raça prolongar-se, quer para obter fortuna, deve levar-me ao estabelecimento de laços indissolúveis ou sagrados com o objeto ao qual me alio? Não seria um absurdo sustentar isto, pergunto? Enquanto dura o ato do coito eu posso, sem dúvida, ter necessidade deste objeto para completá-lo, mas logo que me satisfaça, o que restará, diga-me, entre ele e eu? Que obrigação real resultará deste coito que me prenda a mim ou a ela? Estes últimos laços foram os frutos do medo que tiveram os pais de se verem abandonados na velhice, e os cuidados interesseiros que nos dispensam durante nossa infância só nos proporcionam para merecer depois as mesmas atenções, na velhice. Não nos deixemos enganar a este propósito: nós nada devemos aos nossos pais. E como não foi por nós que trabalharam, é nos permitido não só detestá-los como, mesmo, desfazermos-nos deles se seu procedimento nos irrita. Nós só devemos amá-los quando eles se portam bem para conosco, e essa ternura não deve ser maior do que a que teríamos para com um amigo qualquer, porque os direitos do nascimento não estabelecem nada, não fundamentam coisa alguma. Analisando-os com sabedoria e reflexão nós só encontraríamos, seguramente, razão para odiar aqueles que, só se preocupando com seus prazeres, nos deram uma existência quase sempre desgraçada ou malsã.

 

 

Fala-me dos laços do amor, Eugênia? Pudesse você nunca os conhecer! Que um tal sentimento, pelo bem que lhe quero, não se aproxime jamais de seu coração! O que é o amor? Só podemos considerá-lo como o efeito que causam as qualidades de um belo objeto sobre nós; estes efeitos nos transportam, nos inflamam. Se possuímos este objeto, eis-nos contentes; se nos é impossível conseguí-lo nos desesperamos. Mas qual é a base deste sentimento? O desejo. Quais são as consequências deste sentimento? A loucura. Firmemo-nos pois no motivo e livremo-nos dos efeitos. O motivo é possuir o objeto? Pois bem, procuremos consegui-lo, mas com sabedoria. Se o obtemos, gozamos dele. Consolemo-nos, caso contrário; mil outros objetos semelhantes, e muitas vezes melhores, nos consolarão da perda. Todos os homens, todas as mulheres se assemelham, e não existe amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão. Oh Como é falsa esta embriaguez que, absorvendo os resultados das sensações, mete-nos num tal estado que nós não enxergamos mais, que não existimos mais senão para este objeto loucamente adorado! É isto, viver? Não será, antes, uma privação voluntária de todas as doçuras da vida? Não será permanecer, voluntariamente, nas garras duma febre arrasadora que nos devora e nos absorve, sem deixar outra felicidade que os gozos metafísicos tão semelhantes aos efeitos da loucura? Se nós devêssemos amar para sempre este objeto adorável, se fosse certo que nunca viéssemos a abandoná-lo, isto seria já uma extravagância, sem dúvida, mas, pelo menos escusável. É isto que acontece, porém? Há, por acaso muitos exemplos destas ligações eternas, nunca desmentidas? Alguns meses de prazer, recolocando logo o objeto em seu verdadeiro lugar, fazem-nos envergonhar do incenso que queimamos sobre seus altares e, muitas vezes, chegamos a não compreender que ele tivesse nos seduzido a tal ponto.

 

Fujam cuidadosamente do amor. Nele não há de bom senão o físico, dizia o naturalista Buffon, e não foi apenas sobre isto que ele refletiu como bom filósofo. Divirtam-se, repito; mas não arpem. Não se escravizem aos seres. Não se extenuem em lamentações, em suspiros, em doces olhares, em escrever suaves bilhetes.

 

(...)

 

DOLMANCÉ - A última parte de minha análise refere-se aos laços da amizade e do  reconhecimento . Respeitemos os primeiros, consinto, enquanto nos são úteis.

 

Conservemos nossos amigos enquanto nos servem, esqueçamo-los desde que não possamos mais tirar proveito deles. É só pensando no próprio bem que devemos amar aos outros; amá-los por eles mesmos não passa de estupidez. A natureza nunca inspirou aos homens movimentos ou sentimentos que não lhes servissem para alguma coisa; nada é tão egoísta como a natureza, sejamo-lo também se quisermos obedecer suas leis.

 

Quanto ao reconhecimento, Eugênia, é, sem duvida, o mais fraco de todos os liames. É pensando em nós que os homens procedem de modo a obrigar-nos ao reconhecimento? Não acreditemos, minha cara. É por ostentação, por orgulho. Não é, pois, humilhante tornarmo-nos o joguete do amor próprio dos outros? Não o será ainda mais mostrarmo-nos agradecidos? Nada pesa tanto como favor recebido. Nada de meio-termo; ou o devolvemos, ou ele nos aviltará. As almas valorosas não suportam o peso dum favor; este pesa sobre elas tão violentamente que o único sentimento que elas podem expressar é o de ódio pelo seu benfeitor.

 

Porém, quais serão, na sua opinião os laços que compensam o isolamento em que nos criou a natureza? Quais os que estabelecem as relações entre os homens? Como os amaremos,se preferimos a nós mesmos? Com que direito aliviaremos seus infortúnios? Onde estará, agora, em nossas almas o berço das belas e inúteis virtudes, da beneficência, da humanidade, da caridade; inscritas no código absurdo de algumas religiões imbecis, que, pregadas por impostores ou por mendigos tiveram,  necessariamente, que aconselhar o que podia sustentá-los ou tolerá-los? Ora bem, Eugênia, admite você, ainda, a existência de qualquer coisa sagrada entre os homens? Pode conceber alguma razão para não nos preferir aos outros?

 

EUGÊNIA - Estas lições, que vêm de encontro ao meu coração, agradam-me demais para que meu espírito as recuse.

 

MADAME - Elas estão na natureza, Eugênia. A aprovação que você lhes dá prova-o. Como poderiam ser oriundas da corrupção se nascem, espontaneamente, de um espírito ainda virgem?

 

EUGENIA - Mas, se todos os erros que você preconiza são naturais, por que é que as leis se opõem a eles?

 

DOLMANCÉ - Porque as leis não são feitas para o particular, mas para o geral, o que as coloca em perpétua contradição com o interesse pessoal, visto que o interesse pessoal está sempre em oposição ao geral. Mas as leis, boas para a sociedade, são péssimas para os indivíduos que a compõem pois, para cada vez que os protejam ou os garantam, elas os escravizam e dominam três quartas partes de sua vida. O homem sábio, desprezando-as, tolera-as, como faz com as serpentes e víboras que, embora firam e envenenem, servem, algumas vezes, à medicina. Ele se defenderá das leis como se defende destes animais venenosos: garantir-se-à com precauções e mistérios, coisas fáceis à riqueza e à prudência. Se sua alma inflamar-se, Eugênia, e a fantasia levá-la a cometer algum crime, fique certa de que poderá cometê-lo em paz diante de nós.

 

(...)

 

SEGMENTO DE TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO  “FOCO”

DO AUTOR  DANIEL GOLEMAN

ANO 2013

 

(...)

 

A capacidade que os poderosos têm de ignorar pessoas inconvenientes ao não prestarem atenção nelas se tornou o foco de psicólogos sociais que estão encontrando relações entre o poder e as pessoas em quem prestamos mais e menos atenção.

 

Compreensivelmente, nos focamos naqueles que mais valorizamos. Se você é pobre, depende muito do bom relacionamento com amigos e familiares a quem pode precisar pedir ajuda. Pessoas com poucos recursos em uma posição de frágil estabilidade “precisam contar com os outros”, diz Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley.

 

Assim, os pobres são particularmente atenciosos com os outros e com as necessidades alheias. Os ricos, por outro lado, podem contratar ajuda e podem se dar ao luxo de se preocuparem menos com as necessidades dos outros e, dessa forma, prestam menos atenção a eles e ao sofrimento deles.

 

Em sua pesquisa identificou que os mais ricos exibem menos sinais de envolvimento e mais sinais de desinteresse, menos carinhosos, menos compassivos, menos  expressivos e mais indiferentes para com os pobres. Estes se focam mais no outro do que as pessoas de status mais elevados.

 

(...)

+++

 

DA GENEROSIDADE

 

Você será feliz na mesma proporção que tiver sido útil

 

Carl Reilland

 

+++

 

Se deseja estar na frente, seja uma ponte e não um muro.  Toda vez em que tratamos os outros  como pessoas de segunda classe, estamos cometendo um erro de primeira.

 

Não se pode ajudar aos outros, sem que se ajude a si mesmo porque a bondade, em geral, retorna para quem a oferece. Quem semeia bondade, terá uma colheita eterna.

 

Você quer se dar melhor com os outros? Seja um pouco mais gentil do que o necessário.

 

+++

 

Pergunto-me por que não somos mais gentis uns com os outros sabendo o quanto o mundo necessita disso ! Como é fácil agir desse modo !

Henry Drumond

 

+++

 

Todos podem ser grandes porque todos podem servir

 

Martin Luther king

 

+++

 

Quanto mais alto um bambu, mais baixo ele se curva

A  verdadeira liderança começa com o serviço.

 

+++

 

“O maior dentre vocês deverá ser servo”

 

Jesus

 

+++