O PRISIONEIRO

 

Do livro: Kardec na Intimidade – Roque Jacinto – Ed. Luz no Lar

 

Os cabelos revoltos se confundiam com a barba.  No escuro da cela, somente seus olhos se destacavam, com cintilações estranhas de um profundo rancor.

 

- Vieste... para libertar-me? - Kardec após observá-lo, agora o ouvia.

 

- Minha mãe... falou-me em liberdade! - Que farás da tua liberdade, perguntou Kardec. -Vou completar o que não terminei !  E após outra pausa breve, ele completou ameaçador:  

 

- Nenhuma ofensa ficará sem o justo revide! A tua voz ressoa ameaças filho.

- Fui ofendido! - E quem não o terá sido um dia? Nesse estado de alma, mesmo que o diretor do presídio te concedesse liberdade, seria uma liberdade ilusória.

 

- Pensas que voltarei... depois de fazer justiça?  Kardec o fitou com compaixão.

 

- Não me refiro á justiça humana... Digo que seguirás prisioneiro do ódio e de seus próprios erros! Essa prisão será mil vezes pior, quando quem passará a cobrar seja a voz de tua própria consciência.

 

- Que vieste, então fazer aqui, se não é para me libertares?  - Após te ver proponho-te que, antes de buscares a luz do dia fora desta cela, que faças luz em seu próprio coração.  - Sabes ler? - Sim... um pouco! Confio-te então este livro, que poderá ser a chave da tua libertação de ti mesmo.  E estendeu ao jovem prisioneiro o Evangelho. Kardec completou:

 

- Um dia, voltaremos a nos encontrar, tenho certeza! O prisioneiro com a mão livre, segurou firme o braço de Kardec, num apelo-ameça.

 

- Minha mãe disse... que és um homem piedoso! É essa a tua caridade?!

- A caridade nem sempre é o fazer a vontade daquele que nos pede. Ela nos aconselha a dar-te um tempo para refletires! Este lugar te será um auxílio divino, em teu atual estado...

 

Tarde da noite. - Kardec estava revisando algumas paginas da Revista Espírita, quando alguém entrou em silêncio e parou ao seu lado. – Sim... – Ofereceu-se Kardec atencioso, fitando o visitante.

- Venho pedir-te um favor. - Quem queres? - Indaga Kardec a examiná-lo, como alguém que procurava reconhecer aquele com quem falava. O homem suspirou. – Um querido amigo meu esta quase a morte. Ele quer confidenciar-se contigo para aliviar o coração. - Eu conheço esse teu amigo? - De certa forma sim! Ele por seu lado o conhece bem, por um livro que  lhe deu... Kardec o fitou nos olhos. – És tu... - Sim suspirou o visitante, entresorrindo. – Sou aquele prisioneiro do ódio, que um dia deixaste na prisão e a quem libertaste com a doação de um livro!

 

- É teu amigo?... - Era meu desafeto, o meu ofensor. O Evangelho, porém, me ensinou a vê-lo como um torturado enfermo da lama. E tão logo obtive a liberdade, saindo da prisão fui procurá-lo e servi-lo.

 

- Oh Deus de misericórdia!... Ele era obsediado e hoje esta renovado para o bem.

 

– Vamos vê-lo! E os dois saíram noite adentro para dar a assistência da piedade a quem se renovara pelos atos de fraternidade do ex-ofendido.

 

E Kardec a cada passo, elevava seus pensamentos a Jesus, agradecendo-lhe a bênção de ser testemunha do poder renovador do amor.

 

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"... O homem será o que da sua infância se faça. A criança incompreendida, resulta no jovem revoltado e este assume a posição de homem traumatizado, violento. A criança desdenhada, ressurge no adolescente inseguro que modela a personalidade do adulto infeliz. A criança é sementeira que aguarda. O jovem é campo fecundado. O adulto é seara em produção. Conforme a qualidade da semente, teremos a colheita."

(Amélia Rodrigues - Chico Xavier - Mensagem: Evangelizaçâo, desafio de urgência)

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O SILÊNCIO DA PRECE

 

Em ti, no silêncio da prece mental, sem que tenhas necessidade de ver ou perceber, em sentido direto, o coração bate sem cessar na cadência admirável da vida.

 

Movimenta-se o sangue, por mil canalículos diversos. Intestinos trabalham independentes de tua vontade sustentando-te a nutrição. Pulmões arfam revolvendo o ar que te envolve. Impulsos nervosos eletrizam-te a imensa população celular do cérebro. Miríades e miríades de unidades de vida microscópica palpitante na concha da boca.

 

Em torno de ti, no silêncio de tua prece, os átomos se agitam em vórtices intermináveis na estrutura material da roupa que te veste e dos sapatos que te calçam. A eletricidade vibra esfuziante por quilômetros e quilômetros de fios, transformando-se, não longe de ti, em força, luz e calor.

 

Milhares de criaturas humanas num perímetro de algumas léguas em derredor, falam, cantam e choram sem que ouças. Outros milhões de vozes em dezenas de idiomas, nas ondas hertzianas, entrecruzam-se à tua volta sem que as registres. Raios sem conta chovem sobre ti sem que lhes assinales a presença. Inúmeros fenômenos  Meteorológicos se sucedem em toda parte, sem que consigas relacioná-los.

 

O planeta faz giros velozes carregando-te, em paz e segurança, sem que tomes qualquer conhecimento disso. Igualmente, no silêncio de tua prece, acionas vasto mecanismo de auxílio e socorro na atmosfera que te rodeia, comparável a imenso laboratório invisível. O teu influxo emocional dirige-se além de teus sentidos para onde te sintonizes, através de insondáveis  elementos dinâmicos.

 

Não descreias da oração por não lhe marcares fisicamente os resultados imediatos.

O firmamento não é impassível porque te pareça mudo.

 

No silêncio de tua prece mental, podes expressar até mesmo com mais veemência do que num discurso de mil palavras, o hino vibrante do amor puro, a ecoar pelo Infinito, assimilando no âmago do ser a Divina Luz, que te sublimará todos os anseios e esperanças, na renovação do destino.

 

Livro Opinião Espírita – André Luiz – Chico Xavier

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"... O homem será o que da sua infância se faça. A criança incompreendida, resulta no jovem revoltado e este assume a posição de homem traumatizado, violento. A criança desdenhada, ressurge no adolescente inseguro que modela a personalidade do adulto infeliz. A criança é sementeira que aguarda. O jovem é campo fecundado. O adulto é seara em produção. Conforme a qualidade da semente, teremos a colheita."

(Amélia Rodrigues - Chico Xavier - Mensagem: Evangelizaçâo, desafio de urgência)

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