FILHOS, POR QUE ?
Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida.
Em termos puramente monetários, eles custam mais do que um carro luxuoso do ano, uma volta ao mundo em um cruzeiro ou até mesmo uma mansão. Pior ainda, o custo total tende a crescer com o tempo, e seu volume não pode ser fixado de antemão nem estimado com algum grau de certeza.
Em um mundo que não oferece mais planos de carreira e empregos estáveis, assinar um contrato de hipoteca com prestações de valor desconhecido, a serem pagas por um tempo indefinido, significa, para pessoas que saem de um projeto para o outro e ganham a vida nessas mudanças, expor-se a um nível de risco atipicamente elevado e a uma fonte prolífica de ansiedade e medo.
É provável que se pense duas vezes antes de assinar, e que, quando mais se pense, mais se tornem óbvios os riscos envolvidos. E nenhuma dose de determinação e ponderação poderá remover a sombra de dúvida que tende a adulterar a alegria.
Além disso, ter filhos é, em nossa época, uma questão de decisão, não um acidente - o que aumenta a ansiedade.
Tê-los ou não é comprovadamente a decisão com maiores consequências e de maior alcance que existe, e portanto também a mais angustiante e estressante.
Ademais, nem todos os custos são monetários, e os que não o são jamais poderão ser medidos e calculados. Eles desafiam as capacidades e as propensões dos agentes racionais que somos preparados para ser. "Formar uma família" é como pular de cabeça em águas inexploradas e de profundidade insondável. Cancelar ou adiar outras sedutoras alegrias consumistas de uma atração ainda não experimentada, desconhecida e imprevisível - em si mesmo um sacrifício assustador que se choca fortemente com os hábitos do consumidor prudente - não é a única consequência provável.
Ter filhos significa avaliar o bem-estar de outro ser, mais fraco e dependente, em relação ao nosso próprio conforto. A autonomia de nossas preferências tende a ser comprometida, e continuamente: ano após anos, dia após dia, a pessoa pode tornar-se - horror de horrores - "dependente".
Ter filhos pode significar a necessidade de diminuir as ambições pessoais, "sacrificar uma carreira", como pessoas submetidas à avaliação de seu desempenho profissional olham de soslaio em busca de algum sinal de lealdade dividida.
Mas dolorosamente, ter filhos significa aceitar essa dependência divisora da lealdade por um tempo infinito, aceitando o compromisso amplo e irrevogável, sem uma cláusula adicional "até segunda ordem" - o tipo de obrigação que se choca com a essência da política de vida dedo liquido mundo moderno e que a maioria das pessoas evita, quase sempre com fervor, em outras manifestações de sua existência.
Tomar consciência de tal compromisso pode ser uma experiência traumática.
A depressão e as crises conjugais pós-parto parecem enfermidades específicas de nossa "modernidade Liquida", da mesma forma que a anorexia, a bulimia e incontestáveis variedades de alergia.
A alegrias da paternidade e da maternidade vêm, por assim dizer, num pacote que inclui as dores do auto-sacrifício e os temores perigosos inexplorados.
Trecho retirado do Livro O amor Líquido
(Zygmunt Bauman)
CONCLUSÃO:
Ter filho, atualmente, sob o aspecto meramente racional e financeiro tornou-se sinônimo de muita irresponsabilidade !