CUIDADO COM QUEM PARECE MAIS BOBO DO QUE O NORMAL.
O LOBO EM PELE DE CORDEIRO
O TIGRE COM CARA DE PORCO
Ninguém gosta de se sentir mais idiota do que o outro. Há espertos que fazem com que as suas vítimas se sintam espertas – e não só espertas, mais espertas do que ele. Uma vez a vítima convencida disso, ela jamais desconfiará das segundas intenções do “bobo” !!
Em 1865, o conselheiro prussiano Otto Von Bismarck queria que a Áustria assinasse um determinado tratado. Esse tratado era totalmente a favor da Prússia e contra os interesses da Áustria e Bismarck teria de lançar mão de estratégias para convencer os austríacos. Mas o negociador austríaco, conde Blome, era um ávido jogador de cartas. Seu jogo preferido era o ‘quinze’ , e ele dizia que podia julgar o caráter de um homem pelo seu estilo de jogar. O prussiano mais tarde escreveria: “Foi a última vez que joguei quinze. Fui tão imprudente que todos ficaram atônitos. Perdi vários táleres [ a moeda da época ], mas consegui enganar Blome porque ele achou que eu era mais irresponsável do que sou na verdade e recuou.” Além de parecer afoito, Bismark também se fez de ignorante e tolo, dizendo coisas absurdas e se pavoneando com um excesso de energia nervosa.
Tudo isso fez Blome achar que ele tinha informações valiosas. Ele sabia que Bismark era agressivo – o prussiano já tinha essa fama, e o modo como jogava confirmava isso. E homens agressivos, Blome sabia, podem ser tolos e imprudentes. Por conseguinte, na hora de assinar o tratado, Blome achou que estava levando vantagem. Um tolo afoito como Bismarck, ele pensou, é incapaz de calcular e enganar a sangue-frio, por isso só olhou o tratado de relance antes de assinar – não leu as letrinhas miúdas. Assim que a tinta secou, um alegre Bismarck exclamou na sua cara: “Ora, pensei que eu não fosse encontrar um diplomata austríaco disposto a assinar esse documento!”
Os chineses têm um ditado: “Vestir a máscara do porco para matar o tigre”. É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco e sai grunhindo. O poderoso tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil, mas é o caçador quem ri por último.
Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si, estes são mais imprudentes. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar alguém, mais facilmente são apanhados.
Há muitas pessoas ambiciosas que usam o disfarce da aparência de serem menos inteligente do que são, até mesmo meio tolo, para encobrir as suas verdadeiras torpes ambições. Por isso, muita atenção com os tigres com a máscara de um porco inofensivo.
Havia um imperador romano biruta chamado Calígula, que matava todo mundo. Enquanto Calígula fazia sexo selvagem, comia feito um porco e matava membros da própria corte, havia um ‘idiota’ parado no canto vendo tudo. Às vezes, o idiota resmungava umas palavras e todos jogavam comida nele.
Por fim, um grupo de conspiradores ficou de saco cheio do comportamento de Calígula e o matou. Sem imperador para comandar o Império, os conspiradores precisavam nomear logo o sucessor. Procuraram na corte quem pudesse ser controlado e decidiram pelo idiota a quem todos jogavam comida. Seu nome era Cláudio.
Como Imperador de Roma, Cláudio provou que ninguém o manipulava. Imperador astuto, reinou durante 13 anos, realizou obras públicas, estudou as leis e supervisionou a expansão do Império, incluindo a conquista da Grã-Bretanha. Um idiota e tanto !!!
Cláudio soube sobreviver e prosperar na cova do leão, fazendo-se de bobo seus pares e seus superiores não desconfiavam das suas pretensões ao trono e aguardou a oportunidade em paz.
INTERPRETAÇÃO
A sensação de que de que alguém é mais inteligente é quase insuportável para muitas pessoas. Em geral, tentam justificá-la de várias maneiras: “O conhecimento dele é só teoria, enquanto o meu se baseia na realidade.” ; “Os pais dela pagaram para ela estudar, se meus pais tivessem tido tanto dinheiro assim,....se eu tivesse sido privilegiado...” “Ele não é tão inteligente quanto pensa.” ; “Ela pode conhecer melhor do que eu a sua areazinha restrita, mas fora disso ela não é nem um pouco esperta.”; “Até Einstein era um idiota, quando não se tratava de física.”, etc...
Visto que a ideia de inteligência é tão importante para a vaidade da maioria das pessoas, é importante não insultar ou impugnar jamais o poder do cérebro de uma pessoa. Esse é um pecado imperdoável.
Subliminarmente, os tolos asseguram às pessoas de que elas são mais inteligentes do que eles e assim conseguem fazer delas o que querem. A sensação de superioridade intelectual que o tolo proporciona ao ‘sábio’ o faz afrouxar as suas desconfianças.
Raramente vale a pena revelar a verdadeira natureza da sua inteligência, vale mais a pena criar o hábito de minimizá-la sempre.
Um farsante se faz de bobo para a outra pessoa confiar nele e sentir-se superior. Este tipo de naturalidade artificial tem inúmeras faces e aplicações na vida diária, sobretudo quando nada é mais arriscado do que parecer mais esperto do que o outro; a pose do natural é um disfarce utilizado por muitos vigaristas.
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SABER FAZER-SE DE TOLO
Até a pessoa mais sábia às vezes lança mão dessa peça, e há ocasiões em que o melhor saber está em aparentar não ter nenhum.
Não se deve ser ignorante, só fingir sê-lo.
A sabedoria não tem importância para os tolos, e a sensatez para os loucos.
Sendo assim, fale com cada um na sua linguagem.
Tolo não é aquele que finge sê-lo, mas aquele que disso padece, pois não existe insensatez verdadeira onde chega o artifício.
A fim de ser admirado pelos outros, use uma pele de asno.
BALTAZAR GRACIÁN
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Ora, não há nada de que um homem se orgulhe mais do que da sua capacidade intelectual, pois é ela que o coloca no comando do mundo animal. É muita imprudência deixar que alguém o veja como decididamente superior nesse ponto e deixar que outras pessoas vejam isso também...
Por conseguinte, embora a classe social e o dinheiro possam sempre contar com um tratamento privilegiado na sociedade, com isso a capacidade intelectual não pode contar: o maior favor que pode prestar à sua inteligência é escondê-la; e se as pessoas a percebem é porque a consideram uma impertinência, ou algo a que o seu possuidor não tem nenhum direito legítimo e do qual ele apenas ousa se orgulhar; e, em retaliação e vingança por sua conduta, as pessoas secretamente tentam humilhá-lo de alguma outra forma; e se demoram para fazer isso é só porque ainda esperam pela ocasião mais adequada.
Um homem pode ser o mais humilde possível nesse sentido e ainda assim dificilmente conseguirá que as pessoas lhe perdoem o pecado de se colocar intelectualmente acima delas.
Um sábio observou: “Você deveria saber que os tolos são cem vezes mais avessos a se encontrar com o sábio do que o sábio tem de disposição para estar em companhia de tolos.”
Por outro lado, ser idiota é uma recomendação verdadeira. Pois assim como o calor é agradável ao corpo, também é agradável à mente sentir a sua superioridade; e o homem procura a companhia que vai lhe dar essa sensação, tão instintivamente quanto ele se aproxima da lareira ou caminha no sol quando quer se aquecer.
Mas isto significa que ele não agradará por sua superioridade; e, se um homem quer agradar, deve ser intelectualmente inferior.
ARTHUR SCHOPENHAUER, 1788 – 1860
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O GAMBÁ
Fingindo-se de morto, o gambá se faz de idiota. Muitos predadores o deixaram em paz por isso. Quem acreditaria que uma criaturinha tão feia, burra e nervosa seria capaz de tamanha fraude ?
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SAIBA USAR A BURRICE
O homem sábio usa esta carta às vezes. Há momentos em que a maior sabedoria é parecer não saber nada – você não precisa ser ignorante, basta ser capaz de fingir que é. Não é muito bom ser sábio entre tolos e lúcido no meio de lunáticos. Quem se faz de tolo não é tolo, a melhor maneira de ser bem recebido por todos é fingindo ser um grande idiota.
Baltazar Gracián, 1601 – 1658
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O IDIOTA E A MOEDA
Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.
Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 RÉIS e outra menor de 2.000 RÉIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. "Eu sei", respondeu o tolo. "Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda”.
Podem-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.
A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.
Mas a conclusão mais interessante é:
A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.
É um prazer para o homem inteligente bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente.
Lembre-se de que a reputação fundamenta-se mais no que se esconde de ruim do que se mostra de virtudes.
A sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você.
E o que os outros pensam... é problema deles.
Arnaldo Jabor ( com adaptações )
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O MERCADOR E SEU AMIGO
Um certo mercador desejava muito fazer uma longa viagem. Mas como não era muito rico, pensou: “Antes de partir, é necessário que eu deixe parte de meus bens na cidade, para que me acontecendo alguma desgraça durante a viagem, eu ainda tenha com que viver ao voltar para casa.” Com este propósito, ele entregou uma boa quantidade de barras de ferro, quase toda a sua fortuna, nas mãos dos seus amigos, pedindo para guardá-las durante a sua ausência. E, despedindo-se, partiu.
Tempos depois, não tendo tido sucesso nas suas viagens, ele voltou para casa. E a primeira coisa que fez foi procurar o amigo e pedir de volta o seu ferro. Mas o amigo, que devia muito dinheiro e tinha vendido o ferro para pagar as suas dívidas, respondeu: “Na verdade, meu amigo, tranquei bem seu ferro num quarto junto com o meu ouro, imaginando que ali ficaria seguro. Mas aconteceu um acidente que ninguém esperava. Um rato comeu tudo.” O mercador, fingindo-se de ignorante, retrucou: “Que azar, mas há muito sei que os ratos adoram ferro. Já me fizeram sofrer muitas vezes por causa disso, portanto posso suportar melhor a minha atual aflição.”
Esta resposta agradou muito ao amigo, que ficou feliz em ver o outro tão disposto a acreditar que um rato tinha comido o seu ferro. Mas, a fim de eliminar qualquer suspeita, convidou-o para jantar no dia seguinte. O mercador prometeu que iria, mas, nesse meio tempo, encontrando na cidade um dos filhos do amigo, levou-o para a sua casa e o trancou num quarto. No dia seguinte, ele foi ver o amigo que estava aflitíssimo e perguntou qual era a causa de tanta angústia, como se não soubesse de nada. “Oh, meu caro amigo, respondeu o outro, peço-lhe que me desculpe se não estou tão animado quanto deveria estar. Perdi um dos meus filhos. Mandei tocar as trombetas para chamá-lo, mas não sei o que foi feito dele.” Eis que respondeu o mercador: “Oh, isso muito me entristece; pois ontem à noite, quando saí daqui, vi uma coruja voando com uma criança nas garras; mas não posso dizer se era o seu filho.” Replicou o amigo, “Ora que sujeito tolo e ridículo!, não se envergonha de tão deslavada mentira? Uma coruja que não pesa mais de um quilo ou um quilo e duzentos, como pode carregar um menino com mais de vinte e dois? Por que tanto espanto?, atalhou o mercador. Como se num pais onde um rato pode comer cem toneladas de ferro, seria de surpreender que uma coruja conseguisse carregar uma criança com pouco mais de vinte e dois quilos!”
O amigo, ouvindo isso, percebeu que o mercador não era assim tão tolo, implorou o seu perdão pela mentira pregada, devolveu-lhe o valor do seu ferro e teve o filho de volta.
HISTÓRIAS, PILPAY, ÍNDIA, SÉCULO IV